PALMAS PARA A PRESERVAÇÃO

 América Latina se consolida como a principal referência do planeta na produção de óleo de pal


Edição 39 - 23.11.23

 América Latina se consolida como a principal referência do planeta na produção de óleo de palma certificado

Por Rodrigo Ribeiro 

Óleo vegetal mais consumido do mundo, o óleo de palma está presente em uma variedade imensa de produtos. No supermercado, é usado em biscoitos, massas de pizza, pães, chocolates, sabonetes e detergentes, entre muitos outros. Também é um componente indicado para a fabricação de lubrificantes, artigos farmacêuticos e perfumes, além do biodiesel, que abastece carros e caminhões. Portanto, trata-se de parceiro vital para indústrias de diversos setores e, com isso, um motor que acelera a economia dos países que o produzem.

Durante muito tempo, contudo, o óleo extraído do fruto da palmeira africana Elaeis guineenses foi associado à devastação ambiental. A Indonésia, um dos principais produtores de óleo de palma do mundo, chegou a perder 24,4 milhões de hectares de cobertura florestal em virtude do cultivo desenfreado das tais palmeiras. Contudo, a história agora é diferente – graças sobretudo a projetos bem-sucedidos de preservação e produção com responsabilidade realizados na América Latina.

Segundo Yasmina Neustadtl, coordenadora da Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO), certificadora com sede em Zurique, na Suíça, que confere um selo sustentável para o óleo de palma, a América Latina responde por 35% do produto certificado no mundo – é o maior percentual do planeta. Um dos critérios estabelecidos pela RSPO para considerar a produção sustentável é o chamado “Procedimento de Recuperação e Compensação, que consiste, basicamente, em cultivar as palmeiras em associação à recuperação de áreas degradadas. Na América Latina, existem 90 projetos desse tipo ativos, um recorde no mundo.

É fácil entender por que os produtores estão caminhando para essa direção. Um estudo realizado pela Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, constatou que plantações de palmeiras se tornaram nos últimos anos alternativas sustentáveis ao desmatamento. Eles chegaram a essa conclusão após analisar em detalhes os resultados das plantações de palma na região de Los Llanos, na Colômbia. Entre outras descobertas, os pesquisadores concluíram que o armazenamento de carbono não foi alterado em relação ao uso da terra para pastagens.

O Brasil se consolidou nos últimos anos como um dos protagonistas do óleo de palma sustentável. Isso se deve sobretudo ao trabalho feito pela Agropalma, maior produtora de óleo de palma certificado das Américas. No ano passado, a empresa produziu cerca de 180 mil toneladas. Tome-se como exemplo a sua maior unidade, localizada no município de Tailândia, no Pará. São 107 mil hectares de área, sendo 64 mil de reserva florestal – portanto, 60% do total são terras de preservação.

Em termos de proteção de espécies nativas, a companhia assinou parceira com a Conservação Internacional (CI) e o Instituto Peabiru para preservar a biodiversidade presente em suas reservas. Segundo a Agropalma, foram detectadas na região ao menos mil espécies de animais, das quais 40 estão ameaçadas de extinção. No aspecto ambiental, a empresa diz que passará a utilizar caldeiras movidas a biomassa em suas indústrias de refinaria em Limeira (SP) e Belém (PA).

Em termos gerais, a produção brasileira de óleo de palma cumpre uma série de requisitos para impedir a degradação de áreas florestais. Entre outros requisitos, os produtores devem destinar uma parte de suas fazendas para projetos de preservação e seguir regras específicas de manejo da cultura. Outras empresas têm investido em projetos sustentáveis. Uma das maiores companhias de cosméticos do mundo, a Natura criou, em parceria com a Embrapa, um programa que associa o cultivo de óleo de palma com outras espécies agrícolas e florestais, reduzindo assim os danos ambientais da atividade.

Há também boas iniciativas em andamento fora da América Latina. Em Gana, na África, a startup Green Afro-Palms criou um equipamento que permite aos produtores extrair até 20% do óleo de palma das frutas – pelos métodos manuais, o índice é de 10%. Ou seja, a técnica possibilitaria dobrar a produção no local utilizando a mesma área. Na Indonésia, o governo local tem buscado meios sustentáveis de produção. Cada vez mais, o óleo de palma tem se tornado menos agressivo ao meio ambiente e um parceiro importante da preservação.