LIÇÃO DE CASA

Bilionário do ramo da educação, Chaim Zaher e outros dois sócios lançam universidade voltada ex


Edição 38 - 02.09.23

Bilionário do ramo da educação, Chaim Zaher e outros dois sócios lançam universidade voltada exclusivamente para o agronegócio 

Por Paula Pacheco 

Apesar da posição consolidada no agronegócio internacional, o Brasil não tem tradição como polo de atração de estrangeiros em busca de conhecimento na área. Mesmo entre os brasileiros, as opções são restritas e descentralizadas. Atento a essa realidade, Chaim Zaher, fundador e CEO do Grupo SEB (do qual fazem parte redes de educação como Pueri Domus, Escola Concept e Maple Bear), Marcos Fava Neves e Roberto Fava Scare, professores e sócios-fundadores da consultoria Markestrat, enxergaram a oportunidade de juntar know-how e aportar recursos para lançar uma universidade cuja vocação é formar, já na graduação, profissionais voltados para o agro.  

Um dos principais centros de atividades do agronegócio brasileiro, Ribeirão Preto, a 317 quilômetros de São Paulo, foi a cidade escolhida para sediar a empreitada, chamada de Harven Agribusiness School. O centro de ensino de Chaim e dos primos Marcos e Roberto vai absorver R$ 100 milhões em investimentos.

Marcos Fava conta que parte dos recursos virá do patrocínio das salas de aula por empresas, o que deverá reduzir os aportes próprios. CEO da Harven, Scare destaca que o momento é adequado para um empreendimento como esse, dada a importância que o agronegócio brasileiro conquistou nos últimos 20 anos. “O agro vai continuar crescendo em relevância, tecnologia e volume de negócios”, afirma o executivo. “Isso gera gaps, mas agrega mais oportunidades para quem estiver preparado.” 

Por que Harven? Fava conta que a ideia surgiu da fusão das palavras harvest (colheita, em inglês) e heaven (paraíso). Ou seja, seria algo como “colheita divina”. O primeiro processo de seleção foi aberto em 1º de agosto e as turmas iniciais dos cursos de graduação em Administração, Direito e Engenharia de Produção entram em sala de aula a partir de 2024. 

As disciplinas vão mesclar o conteúdo programático regular e o viés do agro, com estudos de caso de empresas do setor, como análises de balanço financeiro ou de uma campanha publicitária específica. Para aumentar a adesão entre os conteúdos teóricos e práticos, CEOs e diretores de companhias do agronegócio serão contratados para ministrar as aulas. 

Os professores já começaram a ser convidados para entrar para o time da Harven. Segundo Scare, além da titulação, é preciso que tenham vivência de mercado. O CEO cita o caso do curso de Direito. Quem for para a sala de aula precisa ter, no mínimo, o próprio escritório de advocacia, além de vasta experiência na área. O objetivo, assegura o executivo, é não ser exclusivamente um “professor de livros”.  Ele explica sua teoria. “Há uma defasagem em termos educacionais no setor”, diz. “Os cursos de graduação possuem disciplinas voltadas para o agronegócio, mas não formam profissionais especializados na área.”  

Segundo os fundadores do novo centro de ensino, a Harven vai superar essa lacuna com um formato inovador. A ideia é levar os alunos até as fazendas, além de aproximá-los das lideranças das grandes empresas do setor. “Com isso, entregaremos para o mercado um profissional de excelência, totalmente preparado”, diz Zaher. “Na Harven, os alunos estarão próximos de tudo, de usinas de açúcar e de álcool, de produtores de laranja e pecuaristas.” 

A direção da Harven ainda está na fase de montagem das planilhas de custos. Por isso, o valor das mensalidades não foi definido. Segundo Fava, a cifra deve ser equiparada à de universidades como Fundação Getulio Vargas (FGV), Insper e ESPM. 

“Adotaremos um posicionamento premium, mas sem abrir mão da política social”, diz ele. “Vamos ceder bolsas de estudo para alunos carentes, o que vai possibilitar a sua inclusão.” Além da graduação, serão oferecidos cursos de pós-graduação e MBA, projetos de educação corporativa e intercâmbio.  

No primeiro momento, os cursos deverão seduzir quase que exclusivamente os estudantes brasileiros, mas os sócios projetam a atração de estrangeiros, já que pretendem aproveitar as relações com universidades internacionais e a participação em congressos para divulgar o lançamento da graduação. Estudantes de países vizinhos como Chile, Peru e Bolívia, que hoje buscam especialização na Argentina e nos Estados Unidos, estão na mira da Harven. Segundo Zaher, a expansão da marca além do interior paulista já está no radar. “O Centro-Oeste é uma região que nos interessa muito, por ter uma relação forte com o agronegócio”, diz.  

Ainda assim, os projetos para Ribeirão Preto são ambiciosos. Os sócios da Harven preveem ocupar 5 mil metros quadrados de áreas em cinco anos, entre salas de aula dedicadas a metodologia ativa, laboratórios e espaços de interação. O local escolhido para a instalação da instituição de ensino foi o complexo empresarial Dabi Business Park, que abriga empresas do agro como São Martinho, Vittia, ACP Bioenergia, Sicoob SP e Hexagon, entre outras.  

O escritório da Markestrat, que já funciona em Ribeirão Preto, será transferido para o Dabi Business Park. A consultoria, segundo o CEO da Harven, participará ativamente do projeto, já que uma das suas frentes de trabalho é a educação corporativa – até hoje, foram realizados pela empresa cerca de 20 MBAs , e o treinamento de cerca de 10 mil profissionais e executivos.  

Além da incursão pelo ensino, os sócios têm outros planos para Ribeirão Preto. Paralelamente ao projeto da Harven, Zaher busca investidores internacionais para começar a tirar do papel a Cidade do Agro. Trata-se de um ecossistema global voltado ao agronegócio com a oferta, no mesmo espaço, de centro de eventos, hub de tecnologia e hotelaria. 

Orçada em R$ 500 milhões, a Cidade do Agro deverá ocupar um terreno de 400 mil metros quadrados e será instalada em um terreno ao lado da Agrishow, uma das principais feiras do setor na América Latina. “É um projeto grande, em que cabe a entrada de novos parceiros”, afirma Zaher. “Eu mesmo já estou em contato com investidores de um fundo soberano árabe.” No futuro, o objetivo é transferir a Harven para o novo espaço, que funcionaria como eixo central do projeto. Entre outros participantes, a Cidade do Agro poderá contar com escritórios de empresas do setor agropecuário, um agroshopping, um centro de inovação e algum tipo de atração turística para famílias.