Edição 36 - 25.06.23
Por Ronaldo Luiz
Em sua 7ª edição, Santander DATAGRO Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol 2023/24 celebra 20 anos da tecnologia do carro flex no Brasil
Com a presença de autoridades, lideranças do agro, executivos, acadêmicos, usineiros, produtores de cana, empresários, entre outros dos principais atores do segmento sucroenergético, o evento Santander DATAGRO Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol 2023/24, realizado nos dias 8 e 9 de março, em Ribeirão Preto (SP), celebrou os 20 anos da tecnologia do carro flex no Brasil. “O carro flex foi uma enorme conquista tecnológica do País”, disse Plinio Nastari, presidente da DATAGRO, na abertura do encontro, que reuniu 1,7 mil pessoas em sua sétima edição.
Nastari reforçou que o setor sucroenergético continua em expansão, com a expectativa de uma grande safra no ciclo 2023/24 e um cenário favorável do ponto de vista de demanda. “O mundo enfrenta queda de produção de açúcar, o que indica preços remuneradores para o produtor.” Segundo o presidente da DATAGRO, os estoques globais do adoçante estão baixos, ao mesmo tempo que o consumo mundial vem registrando crescimento anual em torno de 1,1%. Para a nova temporada, a projeção é de um custo de implantação das lavouras mais acessível, em decorrência principalmente da acomodação dos preços dos insumos.
APOIO AO RENOVABIO
Presente à cerimônia de abertura do evento, o coordenador-geral de etanol do Ministério de Minas e Energia (MME), Marlon Arraes, ressaltou que a pasta irá trabalhar para assegurar governança e previsibilidade nas políticas públicas dedicadas ao segmento sucroenergético, sobretudo em relação à estabilidade regulatória do RenovaBio. Por sua vez, o deputado federal Arnaldo Jardim, presidente da Frente Parlamentar pela Valorização do Setor Sucroenergético, recordou as oportunidades que os Fiagros trarão para diversificar as alternativas de crédito e financiamento para o agro.
Marcaram presença na solenidade de abertura do evento: Cid Caldas, coordenador de Açúcar e Etanol do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); Zé Vitor, deputado federal; Pedro Robério, presidente do Sindaçúcar (AL); Rosana Amadeu Silva, diretora do Ceise-BR; Luciano Rodrigues, diretor da Unica; Hugo Canho, presidente da Udop; Renato Pontes Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE; Eduardo Romão, diretor da Orplana; Gilberto Duarte de Abreu Filho, vice-presidente executivo Corporate do Santander; e Antônio Duarte Nogueira, prefeito de Ribeirão Preto.
ALTA NA PRODUÇÃO DO CENTRO-SUL
O primeiro painel apresentou as estimativas da DATAGRO para a temporada 2023/24 de cana-de-açúcar. Projeta-se uma colheita de 590 milhões de toneladas de cana, volume 6,9% superior ao registrado no ciclo 2022/23. Para a produção de açúcar, a estimativa é de 38,30 milhões de toneladas para a região. Se o número for confirmado, representará um crescimento de 13,1% em relação à temporada anterior. Por fim, a produção de etanol é calculada em 30,96 bilhões de litros, aumento de 5,9% na comparação com o ciclo 2022/23.
FORTALECIMENTO DO RENOVABIO
O governo federal tem como premissa zelar pela previsibilidade do RenovaBio, disse o coordenador-geral de etanol do Ministério de Minas e Energia (MME), Marlon Arraes. “Temos o objetivo de fortalecer o programa e todos seus instrumentos, como a RenovaCalc”, disse. “O intuito é assegurar a integridade dos CBios, com foco na ampliação de sua liquidez.”
Em sua apresentação, a superintendente executiva Corporate do Santander, Caroline Perestrelo, destacou números do mercado de CBios, ressaltando a oferta prevista de 37 milhões para 2023 e a expectativa da emissão de 99 milhões até 2032. Segundo a executiva, o preço atual do CBio está em torno de R$ 100. Em mercados internacionais maduros, contudo, títulos similares já são negociados próximos a R$ 600.
De acordo com o trader da Sucden, Elder Risso, um dos maiores desafios é ampliar o mercado de CBios para além das partes obrigadas a adquiri-los. As distribuidoras de combustíveis fósseis precisam comprar um determinado volume de títulos por ano como forma de compensar a emissão de gases de efeito estufa. “Atualmente, apenas 3% dos CBios estão nas mãos de partes não obrigadas”, disse Risso. Além disso, o pesquisador da Embrapa Marcelo Morandi lembrou que a oferta de CBios é, na realidade, maior do que a disponibilizada. Isso porque, segundo ele, existem projetos elegíveis que não estão sendo certificados, em especial no segmento de grãos.
ÍNDIA APOSTA NO ETANOL
A cônsul da Índia em São Paulo, Manisha Swami, afirmou que seu país tem como meta elevar a mistura de etanol na gasolina do patamar atual de 10% para 20% a partir de 2025. “Vamos investir no etanol com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, já que temos a quarta frota automobilística mundial”, disse. Em sua exposição, a diplomata ressaltou o intercâmbio que vem sendo desenvolvido entre seu país e o setor sucroenergético brasileiro.
ADIDOS PARA O ETANOL
O coordenador de cana, açúcar e etanol do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Cid Jorge Caldas, salientou que o setor sucroenergético deverá contar com o auxílio de adidos agrícolas, diplomatas de atuação comercial presentes nas embaixadas brasileiras, para a maior internacionalização do etanol brasileiro. Caldas afirmou que o Brasil precisa estimular o uso do etanol em outros países, destacando os atributos ambientais e econômicos do combustível.
BAGAÇO PARA GERAÇÃO DE ENERGIA
Um dos painéis destacou o potencial que o bagaço da cana vem apresentando como opção de matéria-prima para a geração de energia elétrica. O executivo da Estratégia Agro, Marcelo Escorel, ressaltou que a energia elétrica gerada pelo produto vem abastecendo não apenas as usinas de açúcar e etanol, como também as demais plantas industriais próximas às regiões produtoras de cana. Na mesma linha de raciocínio, o diretor sênior da Energy Innovation, Mark Lyra, frisou que, a despeito do avanço do uso do bagaço, persiste o desafio de compreender sua dinâmica de monetização. Nesse contexto, o diretor executivo da Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), César Henrique Costa, apresentou uma plataforma que, em parceria com a DATAGRO, tem um módulo destinado à comercialização do bagaço.
A VEZ DAS USINAS 4.0
O avanço da tecnologia nas usinas é um processo irrefreável. De acordo com os especialistas, as chamadas “usinas 4.0” têm proporcionado ganhos de eficiência, redução de custos e novas oportunidades de negócios. Segundo eles, o ponto central é atrelar a inovação à estratégia geral de negócios da empresa. O painel contou com as seguintes participações: Marco Alasmar, diretor técnico da RAM Automação e Controle; Marcos Augusto Pinheiro Donegá, presidente da ISA; Rafael Bassetto, gerente industrial da Usina São Manoel; Marta Schuh, diretora de Risco Cibernético da Marsh; e Elke Meirelles, gerente executivo industrial do Grupo São Martinho.
PRODUÇÃO DE ALTA PERFORMANCE
O consultor sênior da DATAGRO Alta Performance, Eduardo Calichman, elencou quatro principais recomendações para se extrair o máximo de açúcar por matéria-prima: tratamento do caldo para melhorar a qualidade do adoçante; cristalização com eficiência; cozimento capaz de obter maior volume do produto com o equipamento já disponível; e centrifugações eficazes. “Nosso objetivo é conseguir mais sacos de açúcar por tonelada de cana, com o uso do mesmo volume de insumos ou até menos”, disse Calichman.
GESTÃO DAS USINAS
A nova realidade climática mudou as janelas de plantio. Além de fazer com que as safras comecem cada vez mais cedo, ela também impacta os processos agroindustriais das usinas. Segundo especialistas, o cenário exige melhor integração com a área agrícola e ajustes de custos. Participaram do painel: Arlélio Leite dos Santos, professor da UniUDOP; André Lins Albuquerque, CEO da Pentagro; Airton Silva, consultor industrial da DATAGRO Alta Performance; e Luiz Paulo Sant’Anna, CEO da Lupa Gestão e Governança Empresarial e consultor do grupo Serquímica.
NOVAS TECNOLOGIAS SUSTENTÁVEIS
Ruy Toledo Piza, associado da DATAGRO Financial, foi o responsável por moderar o painel “Novas Tecnologias: Produtividade e Sustentabilidade”. O tema foi abordado por Ernani Judice, fundador e CEO da Agrion Fertilizantes; Rogério Bremm, diretor agrícola da BP Bunge; e Redson Vieira, líder de vendas da Linha Cana da Corteva Agriscience.
Com a guerra no Leste Europeu, o mercado brasileiro busca alternativas para os fertilizantes, já que o Brasil importa mais de 80% desse insumo – grande parte vem da Rússia e Belarus, que sofrem sanções por parte do Ocidente. Nesse contexto, a Agrion oferece uma solução viável e sustentável: os organominerais.
Segundo Judice, os organominerais são constituídos da combinação de resíduos das usinas de açúcar e etanol com micronutrientes e determinadas quantidades de NPK – nitrogênio, fósforo e potássio. “Após análises físicas, químicas e biológicas, a mistura é enriquecida biologicamente com bactérias e fungos, o que irá gerar um adubo organomineral de elevado potencial de fertilização.”
O diretor agrícola da BP Bunge, Rogério Bremm, ressaltou que o objetivo da companhia é trabalhar cada vez mais com práticas de agricultura regenerativa. Em 2023, a BP pretende ter a primeira usina do País 100% manejada com produtos biológicos e resíduos agroindustriais. “O biológico não é um competidor do químico e vice-versa”, disse Redson Vieira, da Corteva Agriscience. “Eles interagem entre si, com o objetivo de trazer maior produtividade e rentabilidade.”
MERCADO GLOBAL DE AÇÚCAR
O painel “A Visão dos Traders sobre o Mercado Mundial” contou com a moderação de Ingo Kalder, sócio da DATAGRO Financial, e dos palestrantes Ricardo de Aguiar Dias Alves, trader da Raízen; Paulo Torres de Carvalho Ferreira, trader sênior da LDC; e Gabriela Ribeiro Bosquetti, analista comercial da Usina Aroeira.
Dias Alves mencionou a questão climática, que “está muito favorável para o desenvolvimento da cana na safra 2023/24”. Segundo ele, o mix de produção parece mais direcionado ao açúcar. “O quadro, claro, está estritamente ligado ao retorno econômico”, afirmou.“Mas pode haver alguma variação. No momento, o adoçante apresenta uma rentabilidade maior que o etanol.”
Em sua palestra, Torres disse que o mundo precisará do açúcar brasileiro, já que questões climáticas têm potencial para impactar as safras de Índia e Tailândia: “A perspectiva é de preços firmes.” Por sua vez, Gabriela Bosquetti abordou a questão logística, alertando que qualquer imprevisto no Porto de Santos – principal rota de escoamento do adoçante – poderá prejudicar os embarques.