Edição 35 - 27.03.23
Como, em dez anos de atividade, o CIBiogás e o PTI estruturaram o caminho para o presente e para o futuro da cadeia produtiva e dos negócios do biogás no País
O negócio do biogás não é exatamente uma novidade no Brasil. Mas, comparado a outras cadeias de geração de energia, ainda faz pouco tempo que o setor vem ganhando espaço por aqui no fornecimento de um recurso energético limpo e competitivo e como solução para gestão de resíduos nos meios urbano e rural. Para o agronegócio, o benefício vai além: trata-se de uma grande oportunidade para tornar o setor cada vez mais sustentável e dar condições de atender às exigências locais e globais quanto à descarbonização e à preservação ambiental. Com essa evolução, o que era um problema transforma-se em matéria-prima para mudar a vida no planeta.
Essa história vem mudando e se intensificando nos últimos dez anos, a partir da criação do Centro Internacional de Energias Renováveis, o CIBiogás, uma Instituição de Ciência e Tecnologia com Inovação (ICT+i) que nasceu dentro do ecossistema do Parque Tecnológico Itaipu (PTI). Dessa sinergia vem o impulso para a formação e a consolidação da cadeia de biogás e biometano. Enquanto o PTI cria plataformas de negócios e inovação, o CIBiogás tem a capacidade de desenvolver modelos energéticos inovadores. “Trabalhamos sempre na fronteira do conhecimento”, afirma o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael González.
O CIBiogás atende toda a cadeia de biogás com um amplo leque de soluções adequadas às condições e às necessidades de cada segmento. Um diferencial na prestação dos serviços do Centro é o Laboratório de Biogás, o primeiro no Brasil com o aval da Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro (CGCRE), na norma ISO 17025:2017. Segundo González, o objetivo do laboratório é avaliar o potencial energético dos produtos. “Já realizamos mais de 39 mil análises”, disse o executivo. “Atendemos desde uma empresa como a Raízen até os produtores rurais.”
Oportunidade de negócios
A atuação conjunta do CIBiogás com o PTI visa construir modelos de negócios inovadores e sustentáveis. Exemplo prático desse conceito é o trabalho desenvolvido na Granja São Pedro Colombari, localizada em São Miguel do Iguaçu (PR), a primeira no País a utilizar o biogás como matéria para geração de eletricidade em Geração Distribuída (GD).
O projeto transformou a necessidade de destinar corretamente os dejetos da produção de suínos em um fornecimento de 35 mil kWh/mês em energia elétrica. E acabou gerando vantagens ambientais e econômicas, pois a produção de energia veio acompanhada da redução na contaminação do solo e da melhoria da qualidade do ar.
Outra inovação do projeto foi a criação do primeiro sistema de microrrede (microgrid) em área rural a biogás do Brasil. O sistema entra em atividade para abastecer uma pequena região rural em situações emergenciais de queda de energia elétrica da concessionária, garantindo o fornecimento para as propriedades conectadas até que a distribuição volte ao funcionamento adequado e servindo, assim, como um backup de rede.
Além de gerar novos negócios, essa iniciativa oferece melhoria na qualidade de energia elétrica na área rural e segurança energética, fortalece arranjos locais, permite um novo papel do agronegócio na geração de energia elétrica e vincula a produção com a baixa emissão de carbono.
Outro exemplo do potencial de desenvolvimento do CIBiogás com o PTI está no município de Entre Rios do Oeste, também no Paraná. O biogás produzido a partir de dejetos da suinocultura em propriedades da região é transportado por mais de 20 quilômetros de tubulação até uma Central Termelétrica de 480 kW de potência.
Todos os dias, 215 toneladas de resíduos são transformadas em 4.600 m3 de biogás, gerando mais renda para os produtores e resolvendo um problema ambiental da principal atividade econômica do município. Além disso, a área onde está instalada a Minicentral Termelétrica foi revitalizada com estrutura de rede elétrica que fornece iluminação para os prédios públicos. Também no oeste paranaense, O PTI integra o Espaço Impulso, o Laboratório de Inovação do Agro instalado no parque do Show Rural Coopavel, uma das principais feiras do agronegócio mundial. Nesse espaço as empresas encontram uma fazenda experimental para obter validação técnica e mercadológica para soluções e tecnologias voltadas ao agronegócio.
Todo esse processo e essa ambientação podem ser aplicados às mais diferentes cadeias produtivas, de acordo com a capacidade de cada matéria-prima em gerar energia. O setor sucroenergético, por exemplo, tem alto potencial para esse aproveitamento, e pode agregar uma elevada melhoria de performance do negócio como um todo.
Evolução coletiva
O CIBiogás conta com um grupo de parceiros e membros de 41 empresas que contribuem diretamente no atendimento a toda a cadeia de biogás e biometano. Essa composição já mostra que o propósito do Centro é apresentar soluções que promovam uma evolução mais abrangente, envolvendo o setor como um todo.
Esse conceito deu origem ao BiogasClub, o primeiro clube de negócios focado em biogás no Brasil. Além de multiplicar as oportunidades comerciais no setor, o clube permite a ampliação do networking, o que contribui ainda para superar desafios na trajetória de evolução dessa cadeia produtiva.
Tal aproximação pode, inclusive, promover uma maior integração das empresas que oferecem diferentes soluções para cada elo dessa cadeia, criando pacotes tecnológicos mais completos. E ainda contribuir para a elaboração de políticas públicas que estimulem a evolução do setor, inclusive facilitando o acesso aos investimentos.
Esse caminho pode levar o Brasil a uma posição mais do que privilegiada na produção de energia limpa e acessível para um mundo mais sustentável. E o CIBiogás e o PTI, em conjunto, estão na dianteira dessa jornada.