Mais energia para a paz

Abertura de Safra Santander DATAGRO: Guerra é mais um fator que evidencia necessidade de avanços p


Edição 30 - 08.08.22

Abertura de Safra Santander DATAGRO: Guerra é mais um fator que evidencia necessidade de avanços para descarbonização da economia global

A guerra no Leste Europeu, que entre alguns de seus componentes-chave revela a ainda dependência global de combustíveis fósseis – no caso, o fornecimento de petróleo e gás provenientes da Rússia, sobretudo para o continente europeu – é mais um fator que evidencia a necessidade de o mundo avançar na busca por uma economia descarbonizada, ou seja, mais verde, amigável ao meio ambiente.

Esta foi a mensagem central do Santander DATAGRO Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol 2022/23, evento realizado no dia 9 de março passado, em Ribeirão Preto (SP), e que contou com a participação do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.

E, na prática, o Santander DATAGRO Abertura de Safra deu exemplo, já que marcou a viagem inaugural de ônibus para transporte coletivo urbano da fabricante Scania, que é movido a biometano e/ou gás natural. A viagem experimental fez o traslado dos participantes da cerimônia de abertura, da prefeitura de Ribeirão Preto até ao local do evento.

De acordo com os presentes, entre autoridades, dirigentes do setor sucroenergético, executivos do segmento, produtores de cana, usineiros etc., o conflito na Europa é mais um fato que, combinado às mudanças climáticas, acentua o desafio de que o mundo precisa acelerar a transição energética em direção a fontes limpas e renováveis, e que o Brasil é protagonista nessa questão, além, obviamente, de ser grande player na produção de alimentos.

Um dos participantes da solenidade de abertura, o diretor executivo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Eduardo Leão, ressaltou que, além da necessidade de diversificação de fontes energéticas, o mundo precisará também, a partir de agora, se ater cada vez mais à origem da energia, considerando questões geopolíticas globais.

Em sua exposição, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, disse que o Brasil está apto a receber elevados volumes de investimentos em projetos “verdes”, já que o País é o que mais apresenta diversidade de rotas para descarbonização. Segundo o ministro, já existem recursos disponíveis nesta temática, originários do Fundo do Clima e do banco dos Brics.

Considerando a busca por uma mobilidade cada vez mais sustentável, Leite pontuou que não existe um modelo único, e que a escolha terá que levar em conta a fonte energética e a região do mundo. O carro elétrico, por exemplo, não será uma realidade imediata para todos os países. O Brasil, destacou, tem toda a infraestrutura de bicombustíveis [etanol, biodiesel, os avanços com biometano/biogás etc.], com entregas já consolidadas de oferta, preço e, claro, ambientais.

O ministro adiantou que o governo federal desenvolve propostas para viabilizar a criação de um mercado de carbono nacional, que fomente a redução de emissões de gases de efeito estufa e simultaneamente gere créditos de carbono verdes, inclusive advindos do biometano. Estes papéis poderão ser negociados e utilizados na prática como ativos ambientais-financeiros do Brasil. “Poderemos exportar estes créditos.” O presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, cumprimentou o ministro ao ressaltar que seu mandato vem combinando as necessárias políticas de comando e controle com medidas de estímulo às soluções sustentáveis.

Ao destacar o RenovaBio, a superintendente executiva da Agro Corporate do Santander, Caroline Perestrelo, lembrou que o banco foi pioneiro nas escriturações dos Certificados de Créditos de Descarbonização (CBios), peça-chave da Política Nacional de Biocombustíveis, e que a instituição financeira mantém 65% de participação nesse mercado de escrituração. “O RenovaBio é exemplo de modelo de mercado de carbono, e o Brasil é um celeiro de crédito de carbono”, frisou, antecipando que o Santander está preparando o lançamento de novas linhas de financiamento “verde” dedicadas ao setor sucroenergético.

Entre os participantes da cerimônia, destaque, ainda, para a presença do deputado federal Arnaldo Jardim, também presidente da Frente Parlamentar de Valorização do Setor Sucroenergético; do prefeito de Ribeirão Preto, Duarte Nogueira; do secretário da Agricultura de São Paulo, Itamar Borges; da deputada federal Aline Sleutjes, presidente da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados; do vice-presidente do Corporate Santander Brasil, João de Biase; do presidente do Sebrae-SP, Tirso Meirelles; do presidente do Siamig e do Fórum Nacional Sucroenergético, Mário Campos etc. Todos foram recepcionados pelo anfitrião, o presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, que comandou os trabalhos.

Confira mais destaques do Santander DATAGRO Abertura de Safra de Cana, Açúcar e Etanol 2022/23:

:: China deve continuar como principal mercado para o açúcar brasileiro

A China deve continuar como principal mercado para o açúcar brasileiro, já que a demanda local deve se manter acima da produção doméstica do país asiático, destacou o chefe da divisão de açúcar da unidade nacional da Cofco, trading de origem chinesa, Maurício Sacramento.

O diretor-geral da Sucden Brasil, Jeremy Austin, analisou que a tendência de elevação do custo da energia na Europa, em razão dos desdobramentos da guerra no leste do continente, pode impactar nas despesas da produção do açúcar na região, que é baseado no cultivo da beterraba. Além disso, segundo ele, a valorização de commodities como milho e trigo pode fazer com que produtores do velho continente troquem o plantio da beterraba pelo de grãos, numa espiral que favoreceria a competitividade do açúcar originário da cana nos mercados internacionais. Por outro lado, o analista ressalvou que o custo logístico [frete marítimo], também em alta mundialmente, é um fator que joga contra o adoçante brasileiro.

:: Mercado de capitais avança como via factível de fonte de crédito e financiamento para o agronegócio

O mercado de capitais, em especial com a expansão dos Fiagros, avança como alternativa factível de fonte de crédito e financiamento privado para o agronegócio. Atualmente, existem 18 Fiagros registrados na B3, que levantaram aproximadamente R$ 4,3 bilhões aos emissores.

Segundo os participantes deste painel de crédito, entre os quais o sócio e diretor de investimentos da Vectis Gestão, Laercio Boaventura; e o diretor do banco de desenvolvimento Proparco, Guilherme Meira, as operações/negócios agrícolas com padrão ESG, ou seja, com indicadores positivos no tocante a critérios sociais, ambientais e de governança, são as que têm maior potencial para captação de recursos privados, seja diretamente [fundos de investimento, por exemplo], sejavia mercado de capitais. Nesse sentido, salientou o superintendente da área de açúcar e etanol da Marsh McLennan Brasil, Luciano Cardoso, o setor sucroenergético está bem posicionado na temática ESG.

:: Índia vai investir no etanol

O embaixador da Índia no Brasil, Suresh Reddy, afirmou que o país asiático tem um plano ambicioso para aumentar o uso de etanol, com foco em ganhos ambientais e também de geração de emprego e renda localmente. O diretor-geral da Indian Sugar Mills Association (Isma), Abinash Verma, revelou que o objetivo do governo indiano é que a mistura de etanol na gasolina salte dos atuais 10% para 20% até 2025.

:: Novas estimativas da DATAGRO para safra 2022/23

O presidente da DATAGRO, Plinio Nastari, divulgou as mais recentes estimativas para a safra de cana no ciclo que se inicia, correspondente à temporada 2022/23. Mesmo diante das projeções de irregularidades climáticas, a produção de cana no Centro-Sul tem potencial para chegar a 562 milhões de toneladas, contra 525 milhões da safra anterior.

No caso do açúcar, o volume produzido deve alcançar 33 milhões de toneladas, levemente superior ao montante de 32,1 milhões do ciclo passado. Já a produção de etanol, incluindo o proveniente do milho, deve atingir 29,8 bilhões de litros, superando os 27,7 bilhões da safra anterior.

Já para a região Norte/Nordeste, os números apontam para uma colheita de 53 milhões de toneladas de cana na safra 2022/23, contra 52,5 milhões da temporada passada. A produção de açúcar deve apresentar ligeiro aumento, passando de 3 milhões de toneladas no ciclo 2021/22 para 3,1 milhões na safra 2022/23. Ademais, o volume produzido de etanol, também incluindo o originário do milho, está previsto em 2,2 bilhões de litros frente 2,1 bilhões da temporada passada.

:: Painel destacou benefícios da fertilização organomineral para setor sucroenergético

A dependência do agronegócio brasileiro da importação de fertilizantes nunca foi tão clara e discutida como agora, em particular após o início do conflito no Leste Europeu, importante região produtora e fornecedora de matérias-primas para fabricação de adubos.

As sanções sobre a Rússia, e que anteriormente já haviam sido aplicadas a Belarus – outro importante fornecedor –, irão comprometer o comércio internacional destes países. Além disso, interrupções nas rotas marítimas na região também têm potencial para prejudicar o fluxo de navios, e consequentemente a entrega de produtos, como os fertilizantes.

Atualmente, o Brasil é o quarto consumidor global de adubos e é o maior importador mundial. Importamos cerca de 80% de todo o fertilizante usado na produção agrícola nacional. No caso do potássio, o percentual importado é de cerca de 95%. A Rússia é responsável por fornecer cerca de 25% dos fertilizantes para o Brasil.

Em paralelo, o agro brasileiro vem buscando alternativas à dependência dos insumos [nitrogênio, fósforo e potássio – conhecidos na sigla em inglês por NPK]para fabricação de fertilizantes, que além de tudo são de origem fóssil, investindo na expansão de tecnologias de adubação biológica e organominerais. O tema foi destaque em painel sobre a Agrion.

Liderada pelo empresário Ernani Judice, a empresa é especializada na fabricação de fertilizantes organominerais a partir, por exemplo, da combinação de resíduos das usinas de açúcar e etanol, como a torta de filtro, com micronutrientes e determinadas quantidades de NPK. Após análises físicas, químicas e biológicas, explicou Judice, essa mistura é enriquecida biologicamente com bactérias e fungos, desencadeando uma “compostagem bioacelerada”, que irá gerar um adubo organomineral de elevado potencial de fertilização.

De acordo com o empresário, o fertilizante especial é encapsulado sob o formato de um pellet de matéria orgânica, que naturalmente por si só já aduba o solo e simultaneamente contribui para a liberação gradual dos demais nutrientes minerais, aumentando a absorção pelas plantas, bem como reduzindo perdas e contaminações. “A composição do pellet, ou seja, se vai mais ou menos matéria orgânica, pode ser customizada por cultura e, até o momento, em lavouras de cana-de-açúcar, temos registrado ganhos comprovados de produtividade em torno de 20%.”

Judice pontuou que, além de promover uma destinação ambientalmente correta para resíduos e sobras do setor sucroenergético, o modelo de negócios de fertilizantes organomineral desenvolvido pela Agrion entrega o produto com custo menor e ainda abre a possibilidade de uma nova fonte de receita para a usina.

:: Biodefensivos têm potencial para reduzir pegada de carbono das atividades agrícolas

O uso de biodefensivos para proteção de cultivos também tem potencial positivo para redução da pegada de carbono das atividades agrícolas, exatamente pelo fato de diminuir a necessidade da aplicação de produtos químicos, que têm como alguns de seus ingredientes básicos insumos de origem fóssil.

Foi o que destacou o diretor comercial da Koppert Biological Systems, Gustavo Herrmann. Segundo o executivo, as oportunidades para o Brasil neste segmento são gigantescas, devido, sobretudo, à biodiversidade presente em nosso território, matéria-prima básica para o desenvolvimento de novas tecnologias.

O professor do Departamento de Genética da Esalq-USP, Mateus Mondin, ressaltou que, além de acarretar em queda nos custos de produção, o uso de biodefensivos pode também funcionar como um ativo financeiro para os negócios agrícolas. Isso porque, de acordo com Mondin, cultivos protegidos com estes produtos podem ser elegíveis para obtenção de certificações “verdes”, e assim passarem a ser reconhecidos financeiramente pelo mercado.