EVOLUÇÃO A JATO NO AGRONEGÓCIO

Por Tiago Dupim As diversas tecnologias que chegaram ao agronegócio nos últimos anos fizeram com


Edição 11 - 13.11.18

Por Tiago Dupim

As diversas tecnologias que chegaram ao agronegócio nos últimos anos fizeram com que o setor ganhasse um destaque ainda maior na economia nacional. Os ganhos foram inúmeros no dia a dia da lavoura: agilidade nos processos, melhorias no direcionamento de recursos e esforços, redução de custos e aumento da produtividade e competitividade são apenas alguns desses benefícios que ajudaram o setor a se tornar responsável por mais de 20% da atividade econômica do Brasil.

Com o smartphone no bolso e um tablet debaixo do braço enquanto observa os drones ajudando na pulverização da lavoura, o novo produtor rural brasileiro está ávido por novidades que simplifiquem o seu trabalho. Ele precisa de mobilidade para ganhar tempo. Como a aviação comercial deixa a  desejar no que se refere ao número de cidades atendidas, os aviões particulares são a melhor solução. E essas máquinas de ganhar tempo estão cada vez mais sofisticadas.

Quando o assunto é aviação, o perfil do empresário brasileiro do agronegócio é diferente do do norte-americano, por exemplo. Isso se deve muito à infraestrutura na aviação, que por aqui ainda deixa muito a desejar. Até 15 anos atrás, o agribusiness estava compreendido em apenas algumas regiões com grande capacidade produtiva. Hoje isso se expandiu para fronteiras em vários cantos do País. No entanto, as companhias aéreas ainda não  conseguem chegar a muitos desses lugares. Se por um lado a maior parte dos empresários ligados ao agribusiness depende apenas de pistas curtas e não preparadas para operar os seus monomotores ou bimotores, por outro já existem aqueles que estão operando em áreas mais bem estruturadas. Com isso, abre-se espaço para os jatos executivos. “O mercado está mudando e a cabeça dos fazendeiros também. Além disso, temos jovens empresários chegando ao campo em busca de novidades”, afirma Eduardo Vaz, CEO da Líder Aviação, uma das maiores empresas de aviação privada da América Latina.

“Pela perspectiva do campo, hoje o motivo da tomada de decisão do empresário  para a compra e uma aeronave é o mesmo que para a aquisição de uma colheitadeira: envolve o quanto isso vai trazer de retorno para ele”, completa Philipe Figueiredo, diretor de vendas de aeronaves da Líder. Sediada em Belo Horizonte, a empresa está presente nos principais aeroportos brasileiros, com mais de 20 bases operacionais. Ao longo dos anos, o conglomerado mineiro diversificou as atividades e hoje atua em seis unidades de negócio: venda de aeronaves, manutenção, operações de helicóptero, atendimento aeroportuário, fretamento e gerenciamento de aeronaves e operações de helicópteros. Conta com aproximadamente mil colaboradores e uma frota com 60 aeronaves.

O relacionamento da empresa com o agribusiness é antigo. Ele começou ainda na década de 1960, quando a Líder iniciou a comercialização de aeronaves, e se intensificou muito nas últimas três  décadas à medida que o agro foi crescendo no Brasil. “Sempre estivemos ao lado desse segmento e entendendo as necessidades dos operadores. Como a venda de uma aeronave é construtiva e se baseia no relacionamento, vamos aonde for necessário para estarmos próximos do cliente”, diz Figueiredo.

Durante muito tempo, o grupo mineiro foi responsável pela venda de aviões monomotores e bimotores no Brasil. Por conta da capacidade de operar em pistas curtas e não preparadas, essas aeronaves sempre tiveram grande aceitação pelos empresários do agro. Mas parece que os tempos estão mudando. “Acredito que o agribusiness evoluiu tanto tecnologicamente nos últimos anos que hoje faz mais sentido que os empresários comecem a olhar para aeronaves mais sofisticadas e avançadas”, esclarece Vaz.  

A Líder conhece o segmento de aviação de negócios como poucas. Em novembro, o grupo, que começou com a atividade de táxi-aéreo, completará 60 anos. Durante esse período, representou e comercializou vários tipos de aeronaves no País. Nesse ramo, tudo começou lá atrás, no fim dos anos 1960, quando a empresa adquiriu o  primeiro jato Learjet 24 do Brasil. Com isso, passou a representar a então fabricante norte-americana. E a parceria foi um sucesso: mais de 100 aeronaves vendidas até o início de 1990. Paralelamente, a Líder representava também os aviões wide body da canadense Canadair, que depois seria comprada pela Bombardier.

Tempos depois, a companhia firmou um relacionamento intenso com a Raytheon (empresa norte-americana ligada ao setor de defesa), que, já na década de 1980, comandava a fabricante de aeronaves executivas Beechcraft. Então, a Líder decidiu rescindir o contrato com a Learjet para assumir a representação da Beechcraft. Foi também nesse período que a empresa passou a comercializar por aqui os helicópteros da norte-americana Bell. Depois de algumas divergências comerciais, porém, os contratos com ambas foram encerrados. “Na verdade, queríamos oferecer aos clientes uma aeronave de alta performance com baixo custo operacional que incorporasse novas tecnologias. E muitos desses produtos que representávamos eram derivados de plataformas antigas e sem perspectiva de atualização”, revela Vaz.

NASCE UM NOVO PLAYER

A Líder encontrou o que procurava em Greensboro, na Carolina do Norte, EUA. É ali, numa cidade com cerca de 300 mil habitantes, que está localizada a divisão de aeronaves de uma gigante japonesa: a Honda Aircraft Company. Fundada em 2006, a empresa é quem cuida do design, produção,  comercialização, serviços e suporte ao HondaJet, um dos jatos executivos leves mais avançados do mundo que vem fazendo a cabeça de muitos empresários. “Ficamos encantados com o projeto. Entendemos que ali havia uma alta tecnologia japonesa empregada, capacidade financeira, visão de longo prazo e um projeto que foi aperfeiçoado durante muitos anos. Fazia todo o sentido, como operador e representante, apostar nesse produto”, explica o CEO.

Eduardo Vaz, CEO da Líder: “O mercado está mudando e a cabeça dos fazendeiros, também”.

O otimismo da empresa mineira com esse very light jet de seis  lugares single pilot não é para menos. De acordo com a Gama (Associação dos Fabricantes da Aviação Geral, sigla em inglês), desde que recebeu a certificação de tipo da FAA (Administração Federal de Aviação), no fim de 2015, as entregas seguem a pleno vapor: dois aviões naquele mesmo ano; 23 em 2016 e, em 2017, a consagração: 43 unidades entregues, firmando-se como o jato executivo mais entregue da sua categoria – mais que o dobro do seu principal concorrente. E este ano a fábrica segue trabalhando em ritmo acelerado: até junho foram mais 17 aeronaves.

As duas primeiras unidades do pequeno japonês, que custa US$ 4,5 milhões, desembarcaram por aqui este ano cercadas de expectativas. Uma delas está prestes a completar 100 horas de voo pela América  do Sul e, de cara, impressionou os pilotos devido ao seu alto desempenho, velocidade e tranquilidade durante o voo. “O desempenho da aeronave tem sido muito bom em diversas localidades, seja em pistas longas ou curtas. Estamos felizes com os resultados”, resume o comandante Alexandre Spessato, que está operando a aeronave há mais de um ano.

Atualmente, a fábrica produz em média quatro aeronaves por mês e deverá alcançar a capacidade plena das instalações (80 unidades por ano) em março de 2019. Até julho último eram 92 aviões  operando no mundo. Uma das que foram entregues no Brasil opera para um cliente do agribusiness. E para 2018 e 2019 já tem entregas previstas por aqui. “Claro que nem todo mundo do agro vai buscar um jato, mas há muitos que buscam velocidade e vivem perto de uma pista asfaltada. A nossa aposta é que uma boa parte desse mercado está pronta para absorver um HondaJet e, quem não está, muito em breve chegará lá”, confia Vaz.

Hoje o HondaJet é uma das estrelas da aviação de negócios.  No ano passado, ainda segundo dados da Gama, mundialmente o setor experimentou um crescimento de 1,3% no número de entregas, graças principalmente à entrada de novos modelos. No  total, os fabricantes colocaram no mercado 676 unidades. “As grandes diferenças do HondaJet em relação aos concorrentes é que temos a melhor performance da categoria, com mais velocidade, combinada ao baixo custo  operacional. O avião é o mais eficiente em consumo de combustível mesmo com motores mais potentes que os dos outros”, comenta Figueiredo.

Figueiredo: na aquisição de um avião, produtor usa mesmo critério adotado na compra de uma colheitadeira

A nova versão do jato nipônico, o HondaJet Elite, já tem seu pouso confirmado no Brasil para os próximos meses. Para operações de longo alcance, ele apresenta um ganho adicional de 17% (+396 km) e uma otimização do fluxo de ar nos motores. Além disso, o avião  apresentou melhorias de desempenho de pista, reduzindo em mais de 150 metros de comprimento a decolagem em peso máximo.

A tendência é uma redução significativa de ruído, tornando a viagem para os passageiros ainda mais agradável. O sistema de aviônicos está mais avançado e agora conta com funções adicionais de gerenciamento para um melhor planejamento de voo e funções automáticas de estabilidade e de proteção. Com isso, ganha-se na segurança do voo e se reduz ainda mais a carga de trabalho do piloto. A  aeronave com esse novo pacote de atualizações sai por US$ 5,25 milhões.

Segundo Vaz, a grande preocupação da Honda Aircraft é entregar o melhor com o menor custo possível. E ele não descarta que tenhamos novos produtos no futuro. “Acho que a Honda não vai ficar só nesse modelo. Acredito que talvez seja  apenas o início de uma bem-sucedida família. Mas isso só o tempo irá dizer.”

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