Edição 3 - 17.01.18
Em uma de suas visitas ao Brasil, no início de 2017, Mike Stern, CEO da Climate Corporation, concedeu uma entrevista exclusiva a Plant. Confira alguns trechos:
O que o sr. conhece sobre o ambiente de inovação AgTech no Brasil?
Para ser sincero, não estou muito familiarizado com o cenário de inovação no Brasil. Sei que há um ecossistema vibrante para startups e que nosso time aqui está conversando com uma série de empresas em diversos segmentos. Nós abrimos a infraestrutura de nossa plataforma de desenvolvimento e estamos muito interessados em ter mais parceiros dentro dela. Por exemplo, há uma série de sensores sendo desenvolvidos para a agricultura. Não achamos que precisamos ser os inventores de tudo. Estamos mais interessados em encontrar startups e parceiros que possam trazer novas peças para o quebra-cabeça.
A Climate está aberta a fazer aquisições também?
Sim, estamos abertos. Recentemente compramos uma pequena empresa chamada VitalFields, na Estônia. Eles desenvolveram uma ferramenta que permite um melhor acompanhamento de dados dos subsídios oferecidos a produtores na Europa. Essa é uma necessidade real para a agricultura europeia e é um exemplo claro de como podemos tratar a questão das aquisições.
Vocês pretendem trazer para o Brasil laboratórios para pesquisa e desenvolvimento de novas funcionalidades para o sistema da Climate?
Nós já temos um foco em engenharia de sistemas no Brasil, trabalhando em softwares. Também vamos ampliar nossa pesquisa agronômica, o que devemos fazer em grande parte através de parcerias.
Uma das perguntas que os produtores sempre fazem quando se fala em novas tecnologias para a produção é: “Quando nós seremos ouvidos?” Eles são frequentemente abordados por vendedores oferecendo coisas incríveis e respondem “ok, a tecnologia é fantástica, mas não é o que eu preciso.” O sr. costuma ouvir os produtores? Qual a sua estratégia nesse sentido?
Nós estamos em um período de testes no Brasil. Estive em uma fazenda hoje em Sorriso, no Mato Grosso, visitando dois irmãos que começaram a testar nosso produto há cerca de um ano. Eles são parte de um grupo que montamos para avaliar nossa plataforma antes do lançamento e fazer sugestões. Essa é nossa estratégia, ir a campo e trabalhar com os produtores. Temos entre 90 e 100 produtores parceiros fazendo esses testes. A maior parte do meu tempo aqui no Brasil é justamente para conversar e ouvir o retorno desses parceiros.
A partir dessas conversas, é possível que seja desenvolvido algum produto ou funcionalidade específica para o Brasil ou para a agricultura tropical?
Com certeza. Estamos consistentemente ouvindo nossos parceiros falando sobre a relação entre o clima e a necessidade de pulverização das lavouras. Aqui, temos de levar em consideração a possibilidade que vocês têm de produzir duas safras ao ano. Isso não acontece na Europa e em grande parte dos Estados Unidos. As decisões precisam ser tomadas de forma muito justa e combinada com informações meteorológicas. O que é fantástico em nossos softwares é que podemos inovar muito rapidamente. Eu trabalhei durante muitos anos na Monsanto e lá pude ver como o desenvolvimento de novas variedades com a biotecnologia demanda tempo. Com software é tudo diferente. Nos Estados Unidos, lançamos oficialmente nossa plataforma no início de setembro do ano passado. Agora, já estamos na quarta atualização. Por isso é tão importante para nós estar aqui, conversar com os produtores, coletar os dados de cada região. Eu digo a eles: “Falem o que aprenderam, o que precisam”. É interessante como eles apontam coisas relevantes. Em geral, saímos dos encontros com algo novo para implementar. O resumo desse processo é: inovação e aperfeiçoamento podem ser feitos muito rapidamente. Nós não somos perfeitos. O que pretendemos fazer é dar as ferramentas nas mãos dos produtores, deixá-los expostos aos atributos que propomos e trabalhar com eles.
Existem várias companhias hoje trabalhando com modelos preditivos para clima e pragas nas lavouras. Quando a Climate deve lançar um produto com esse tipo de funcionalidade?
Antes de mais nada, é preciso dizer que esse não é um problema fácil de resolver. Há uma porção de softwares por aí trabalhando com tecnologia de reconhecimento por imagem, apontando fotos de uma infestação no campo e qual a praga que pode estar afetando a lavoura em determinado ponto.
Mas já há alguns deles usando machine learning para construir modelos que podem antecipar a existência de condições climáticas favoráveis para o surgimento de infestações…
Exato. Mas para ser capaz de produzir um modelo preditivo, como eu dizia, que aponte que existe uma grande probabilidade de surgimento de ferrugem asiática na soja, por exemplo, em uma determinada parte da lavoura, isso não é simples de se fazer. Acreditamos que apenas com grandes quantidades de dados, que cubram uma série de variáveis em uma grande quantidade de áreas e em uma grande quantidade de tempo é que isso será possível. Essa certamente será uma das áreas mais competitivas da agricultura digital. Posso te garantir que ninguém está investindo mais e possui mais recursos para resolver esse problema do que a The Climate Corporation. Esse é o futuro. Estou realmente animado.
O sr. disse que ainda não foi fechado o preço de lançamento para o sistema Field View no Brasil. Qual é o valor médio pago pelos agricultores americanos?
Temos dois produtos atualmente no mercado. Um é o FieldView drive que estamos testando aqui. Começamos a oferecer nos Estados Unidos no ano passado, com vendas baseadas em um modelo de assinatura. O valor médio é de mil dólares por ano para cada propriedade, independentemente do tamanho. Ocorre que em algumas regiões do Brasil as fazendas são muito maiores. Por isso ainda estamos trabalhando na definição de um valor apropriado. Estamos a poucos anos do lançamento também de novos produtos.
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