Edição 9 - 08.06.18
O sol nem bem nasceu e a movimentação nas ruas de Costa Rica, uma promissora cidade de 25 mil habitantes localizada na tríplice divisa do Mato Grosso do Sul com o Mato Grosso e Goiás, é intensa. Crianças caminham tranquilamente em direção às escolas, enquanto os adultos seguem para o trabalho em ônibus fretados pelas empresas da região. Entre essas pessoas está Maria Narcisa da Cruz, 38 anos, que trabalha na Atvos, responsável pela operação da unidade agroindustrial inaugurada na cidade no final de 2011 e que hoje é a maior empregadora da região.
Ex-vendedora de roupas, Maria ingressou na Atvos há sete anos, atraída por um anúncio na rádio local que dizia que a empresa estava em busca de profissionais a serem capacitados para atuar no plantio de cana, uma atividade hoje totalmente mecanizada, que poderia ser realizada tanto por homens quanto por mulheres. “Eu não pensei duas vezes. Saí da loja, fiz a entrevista e, para minha surpresa, fui contratada. Eu não sabia nem dirigir”, lembra ela, que passou um mês inteiro em treinamento antes de começar, de fato, a trabalhar.
Maria iniciou a sua trajetória na empresa trabalhando na “casinha”, um implemento acoplado à plantadora de cana, mas acabou promovida poucos meses depois. “A minha vontade era trabalhar com o trator, operar o GPS, essas coisas”, conta a profissional, há cinco anos líder da frente de preparo de solo da unidade Costa Rica da Atvos. “A empresa tem essa cultura de recrutar gente de dentro para os cargos de liderança. Aqui, tive a oportunidade de me capacitar e me tornar líder.”
Assim como no caso de Maria – de sua irmã, seu cunhado e sua sobrinha, que também trabalham na empresa –, a chegada da Atvos transformou a vida de muita gente em Costa Rica. Por consequência, como aconteceu também em outros pontos do Brasil em que a empresa opera, transformou a cidade. A Atvos se integrou ao município para acelerar o desenvolvimento ao gerar muitas oportunidades de emprego. Na última década, o PIB local, que em 2010 era de cerca de R$ 540 milhões, mais do que dobrou. Hoje, possui um dos IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) mais altos do estado do Mato Grosso do Sul. Graças aos mais de 1,2 mil empregos diretos e 4 mil indiretos, a taxa de desemprego na região também está bem abaixo da média nacional.
O engenheiro agrônomo pernambucano Kleber Albuquerque viveu essa revolução de perto. Responsável pela formação dos canaviais da Atvos, quase uma década atrás, hoje ocupa o cargo de superintendente do Polo Taquari (que engloba, além da Unidade Costa Rica, uma planta idêntica no município vizinho de Alto Taquari). Quando chegou à região, o executivo se deparou com um cenário típico sul-mato-grossense: grandes fazendas de pecuária e algumas áreas cultivadas com grãos. “Precisamos desbravar uma região nova para a cana-de-açúcar”, afirma Albuquerque, que liderou a formação de 90 mil hectares de canaviais – 80% cultivados pela própria empresa através de arrendamentos – que abastecem as duas indústrias.
Canavial de pé, faltava encontrar mão de obra para as duas plantas industriais construídas do zero, em uma região carente e com pouquíssimo conhecimento sobre o setor sucroenergético – do plantio da cana-de-açúcar à operação de uma unidade agroindustrial. O desafio era hercúleo: encontrar e qualificar quase 2,4 mil trabalhadores. O problema foi resolvido através do investimento maciço em capacitação e a possibilidade de crescimento dentro da companhia com base na meritocracia. “A Atvos é uma empresa que deixa claro para os seus integrantes que, se estiverem comprometidos, podem ter a certeza de que vão ter um desenvolvimento profissional e crescer”, diz Albuquerque, que costuma usar a própria história para motivar os trabalhadores.
As unidades, ambas com capacidade para moer até 3,8 milhões de toneladas de cana por ano, operam hoje a todo vapor – devem atingir a capacidade máxima de moagem em até dois anos. Somadas, as plantas do Polo Taquari produziram, na safra 2017/18, quase 300 milhões de litros de etanol hidratado, 240 milhões de litros de etanol anidro, além de 640 mil MWh de energia elétrica limpa, produzida a partir da biomassa da cana e vendida no mercado através de leilões , além de usada para a autossuficiência das unidades.
Juntamente com a geração de empregos, a Atvos também contribui para o desenvolvimento da região através de ações sociais, realizadas em parceria com os órgãos públicos e a sociedade civil. Conhecido como Energia Social, o programa, conta com 15 projetos em Costa Rica – e 74 em todos os municípios em que a empresa está presente -, da construção de um auditório público a cursos de qualificação profissional para a população, passando pelo monitoramento da biodiversidade na região, a construção de uma sala de fisioterapia na APAE e o investimento na ampliação do hospital local.
Dois desses projetos, no entanto, chamam especialmente a atenção pelo engajamento da comunidade: o Florestinha, com foco na educação ambiental de crianças e adolescentes, e o Núcleo de Mediação de Conflitos, que tem como objetivo resolver disputas simples sem a necessidade de recorrer à Justiça.
Realizado em parceria com a polícia ambiental e a prefeitura de Costa Rica, o Florestinha atende atualmente 60 crianças de 6 a 14 anos em situação de vulnerabilidade social. Trata-se de um verdadeiro batalhão de patrulha ambiental mirim. “Eles têm fardamento, patentes e respondem por funções específicas dentro da hierarquia. O projeto busca trabalhar a disciplina e o respeito ao próximo através de atividades lúdicas”, afirma Chafick Luedy, gerente de Pessoas e Administração da Atvos no Polo Taquari. “As crianças participam de programas de trânsito, ações de combate à dengue, conscientização sobre o uso da água. Eles são inseridos de fato na sociedade e percebem que o trabalho deles tem relevância.”
Pedro Eron da Silva Barbosa, de 13 anos, é o “chefe” da turma. Há quatro anos no Florestinha, detém a patente de tenente. “Nos encontramos três vezes por semana e cada dia temos uma atividade diferente. Tem educação física, ensaios para os desfiles e aulas com os policiais ambientais. Tem muita disciplina aqui. É como no quartel”, afirma o garoto, que pretende seguir carreira na área. “Quero fazer medicina militar”, disse, enquanto coordenava um grupo de crianças durante o plantio de árvores nativas.
Já o Núcleo de Mediação de Conflitos – concretizado em parceria com a Prefeitura de Costa Rica, a Delegacia de Polícia Civil e o Conselho Municipal de Segurança – tem como objetivo principal solucionar pequenas desavenças entre os moradores da cidade, como brigas entre vizinhos, pequenos acidentes de trânsito e questões relacionadas aos direitos dos consumidores – problemas que não precisam, necessariamente, ser resolvidos pela Justiça. Nesse caso, a Atvos fez o investimento na sala e no treinamento dos 40 voluntários que atuam como mediadores dos conflitos. “Na maioria dos casos, as disputas podem ser resolvidas através de uma simples conversa”, explica Alexsandro Mendes Araújo, delegado de Costa Rica. “A mediação é uma forma até melhor de se resolver os problemas, já que ambas as partes constroem conjuntamente a solução.”
Apesar do pouco tempo de funcionamento, o projeto já pode ser considerado um sucesso. De acordo com os coordenadores do núcleo, a taxa de resolução dos conflitos supera os 97%. O Florestinha não fica atrás. Com várias crianças já na fila de espera, o programa deve ser ampliado e em breve passará a atender até 100 jovens de Costa Rica. Exemplos como esses são a prova de que o agronegócio, motor da economia brasileira há décadas, também pode ser um importante fator de transformação social.
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