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por Rodrigo Ribeiro, de Belém
Em novembro de 2025, Belém, no Pará, será a capital ambiental do mundo. A cidade receberá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que promete ser um marco nas discussões sobre políticas climáticas globais ao reunir líderes mundiais, cientistas, ambientalistas e representantes da sociedade civil em busca de soluções concretas para os desafios ambientais. A escolha de Belém como sede da COP30 carrega forte simbolismo. Situada no coração da Amazônia, a região destaca a importância vital da maior floresta tropical do mundo na regulação do clima global e na captura de carbono.
Anfitrião do evento, o Brasil pretende usar a COP30 como uma plataforma para destacar a importância de alianças regionais voltadas para a proteção ambiental. Durante o encontro, o governo brasileiro deverá apresentar iniciativas para atrair apoio financeiro e tecnológico de países desenvolvidos. O objetivo é garantir não apenas a conservação da floresta, mas também promover a sustentabilidade econômica das comunidades locais. De acordo com o Observatório do Clima, rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira, a COP30 também terá papel crucial para reforçar as metas do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.
Poucas vezes a conferência climática ocorreu em meio a um contexto geopolítico tão complexo. O mundo enfrenta atualmente uma crise energética intensificada pela guerra na Ucrânia, enquanto tensões comerciais entre grandes potências agravaram ainda mais o cenário global. Países em desenvolvimento, como o Brasil, pressionam por um maior compromisso financeiro por parte das nações ricas, que são historicamente responsáveis por uma parte significativa do aquecimento do planeta. Os Estados Unido, por exemplo, respondem por 12% das emissões globais de gases causadores do efeito estufa.
O mercado de créditos de carbono estará no centro dos debates da COP30, especialmente considerando os avanços parciais registrados nas conferências anteriores. Um dos artigos do Acordo de Paris, que regula o comércio internacional de créditos de carbono, ainda carece de definição de regras claras. O Brasil está bem posicionado para se tornar um grande fornecedor de créditos, devido à sua vasta cobertura florestal e ao potencial de projetos sustentáveis. Para que o mercado funcione de maneira eficaz, será necessário garantir a transparência nas transações e assegurar que empresas globais apresentem planos de longo prazo para a neutralização de suas emissões.
Com o setor de energia respondendo por 75% das emissões globais de gases de efeito estufa, a transição para matrizes energéticas limpas é uma prioridade global. Nesse sentido, a COP30 será uma oportunidade para os países apresentarem seus planos de descarbonização e transição energética. O Brasil, com seu histórico de êxito em energias renováveis – como biocombustíveis, energia hidrelétrica, solar e eólica –, deverá liderar as discussões e propor cooperações internacionais. Contudo, os maiores emissores globais, como China, Estados Unidos e União Europeia, serão pressionados a acelerar suas metas de redução de emissões.
Uma das marcas esperadas da COP30 será a forte presença de lideranças indígenas e movimentos sociais. Esses grupos reivindicam maior participação nas negociações, argumentando que são os mais afetados pelas mudanças climáticas. Em Belém, eles deverão apresentar propostas voltadas para a proteção territorial, financiamento direto de iniciativas locais e reconhecimento de seus direitos como guardiões da floresta.
Apesar das altas expectativas, o sucesso da COP30 depende de uma série de fatores. As negociações climáticas são conhecidas por sua complexidade e pela divergência de interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. Além disso, a falta de cumprimento de promessas anteriores pode minar a confiança mútua e dificultar a obtenção de consensos. Outro desafio será a transformação dos compromissos assumidos em ações concretas. É essencial que os países não apenas apresentem metas ambiciosas, mas também mecanismos claros de monitoramento e responsabilização. “A COP30 tem o potencial de ser um marco nas políticas climáticas globais”, disse recentemente o cientista sueco Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático, na Alemanha, e vencedor do Tyler Prize 2024, principal prêmio ambiental do mundo. “Com o Brasil em posição de protagonismo e a Amazônia como pano de fundo, o evento pode impulsionar a cooperação internacional em prol da sustentabilidade.”
No entanto, ressalta Rockström, o sucesso dependerá da vontade política dos líderes globais e da mobilização da sociedade civil para transformar promessas em ações reais. Se os países conseguirem superar suas diferenças e firmar compromissos concretos, a COP30 poderá ser lembrada como o momento em que o mundo deu um passo decisivo para evitar os piores cenários das mudanças climáticas. O atual contexto, no entanto, carrega desafios adicionais. A crescente disputa entre as potências globais pode influenciar negativamente o andamento das negociações, pois há receio de que questões políticas externas à agenda climática contaminem as discussões técnicas. O realinhamento de blocos econômicos também cria um ambiente de incerteza.
Os conflitos regionais e a recuperação desigual após a pandemia adicionaram complexidade à busca por consenso. Países menos desenvolvidos tendem a exigir garantias de financiamento antes de assumir compromissos adicionais de descarbonização. O papel dos Estados Unidos será observado de perto. Há expectativas quanto à postura americana frente às demandas de financiamento e descarbonização rápida, especialmente porque o governo Trump enfrenta pressão interna de setores da indústria. No caso europeu, espera-se que a União Europeia continue defendendo regulações ambientais mais rígidas, mas as crises energéticas internas também poderão limitar sua margem de manobra. A China, como maior emissor global, deverá propor novas metas, mas também continuará demandando acesso a tecnologias limpas financiadas por países ricos.
O debate também envolverá a transição justa. O conceito busca assegurar que trabalhadores e comunidades dependentes de setores de alta emissão não sejam deixados para trás. Para isso, deverão ser implementados mecanismos de requalificação profissional e desenvolvimento de novos empregos verdes, especialmente em países que dependem economicamente de indústrias extrativistas. Se tudo correr como o planejado, a COP30 será capaz de definir mecanismos claros para implementar essas transições. Os observadores alertam, porém, para o risco de que as negociações se estendam além do prazo, como frequentemente ocorre. Manter a pressão política e mobilizar a sociedade civil será elemento fundamental para garantir o sucesso do encontro.
A Amazônia, devido à sua rica biodiversidade, receberá também uma série de atividades paralelas promovidas por organizações da sociedade civil, ONGs e comunidades locais. O objetivo será garantir que as comunidades sejam ouvidas nas discussões formais. A inclusão dessas vozes poderá garantir maior legitimidade às decisões e fortalecer os compromissos assumidos. Além disso, Belém poderá ser palco de alianças bilaterais paralelas às negociações formais, criando condições para acordos específicos em setores como energia renovável, agricultura regenerativa e tecnologias de captura de carbono.
Outro aspecto relevante será o monitoramento posterior aos compromissos firmados. Especialistas enfatizam a necessidade de mecanismos internacionais eficazes para garantir que as metas sejam cumpridas e revisadas periodicamente. Isso é fundamental para evitar que países apresentem planos insuficientes ou metas de longo prazo sem a devida transparência. Haverá pressão por indicadores claros e sistemas de relatório que permitam acompanhar o progresso real. Se implementadas de forma robusta, essas medidas poderão servir como base para a próxima década de ações climáticas, garantindo que o evento em Belém tenha efeitos duradouros.
Ao final, espera-se que Belém simbolize não apenas a urgência da luta climática, mas também a esperança de um futuro sustentável baseado na cooperação global. A coordenação intersetorial será fundamental. Além disso, a criação de conselhos consultivos com participação da sociedade civil e cientistas pode fornecer recomendações baseadas em evidências. Essa estrutura consultiva também pode garantir que os compromissos assumidos se mantenham alinhados com as mudanças nas condições globais, evitando retrocessos.
Há a expectativa crescente de que a COP30 possa consolidar um acordo sobre a precificação global do carbono, criando mecanismos financeiros que penalizem emissões elevadas e recompensem projetos sustentáveis. Com essas iniciativas, a conferência tem o potencial de moldar as políticas econômicas globais por décadas. O sucesso da conferência dependerá de cada ator envolvido – governos, empresas, sociedade civil e indivíduos – trabalhando para transformar as decisões tomadas em ações concretas. Em última análise, Belém poderá simbolizar um momento decisivo na luta global contra as mudanças climáticas, proporcionando um futuro sustentável para as próximas gerações.