Complexo de Lois Lane

Qual seria a maior potência ambiental do planeta? No tripé da sustentabilidade, sabemos que os EUA


11.06.18

Ativista agroambiental e empresário, Caio Penido é pecuarista no Mato Grosso e trabalha na articulação da “Liga do Araguaia” onde lidera projetos de pecuária sustentável: Projeto Carbono Araguaia, Projeto Campos do Araguaia, Projeto Garantia Araguaia e parceria com a EMBRAPA Gado de Corte, entre outras atividades.

Qual seria a maior potência ambiental do planeta? No tripé da sustentabilidade, sabemos que os EUA são a potência econômica, perseguido pela China. E a Noruega, a potência social, com seu altíssimo Índice de Desenvolvimento Humano. Segundo ranking do FMI, o Brasil é a nona potência econômica (boa parte graças ao agro) e, pelo IDH da ONU, a 79ª potência social.

E a maior potência ambiental? Você arriscaria um palpite? Não posso responder com certeza, pois precisaríamos escolher indicadores apropriados e nos aprofundar na análise de muitos estudos. Acho estranho não existir nenhum ranking mundial que revele isso com clareza e credibilidade. Talvez algum país com vastos oceanos possa ter uma biodiversidade marinha que supere a da floresta amazônica somada aos 7 mil km de costa marítima brasileira. Mas e se analisarmos apenas a questão da biodiversidade terrestre?

Sabemos que a Rússia detém a maior área florestal do mundo, mas assim como no Canadá (segundo colocado) e nos EUA (quarto colocado), suas florestas são segregadas em regiões improdutivas, frias e com pouca biodiversidade ou são plantadas. Nos países desenvolvidos todas as áreas com potencial produtivo estão produzindo, a população respeita o produtor rural e apoia os subsídios governamentais para manter esse produtor no campo. Por que no Brasil não é assim?

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No Brasil (terceiro colocado), diferente dos outros, estamos abrindo mão de produzir em áreas com alta aptidão. Motivados por interesses comerciais internacionais disfarçados de políticas ambientais que se sobrepõem a legislação brasileira, tentam nos obrigar a abrir mão de áreas extremamente produtivas sem receber nenhuma compensação. Pior, sem termos reconhecida nossa verdadeira condição de mantenedores da maior biodiversidade terrestre do mundo. Isso não pode ser legal!

Os proprietários de terras que ainda têm o direito legal de desmatar suas áreas excedentes de Reserva Legal deveriam ser estimulados a deixar suas florestas intocadas através de modelos de remuneração, compensação, pagamento por serviços ambientais ou outras formas que valorizassem os serviços ecosistêmicos prestados por essas áreas.  

Parece-me que a população brasileira, com seu complexo de “vira lata”, colonizada e manipulada, desenvolveu uma síndrome que chamo de “complexo de Lois Lane”! Assim como a namorada do Superman, que olha para o Klark Kent e não percebe ser ele o herói poderoso de capa vermelha, muitos formadores de opinião olham para o Brasil e não percebem que ele é uma potência ambiental, com grandes áreas preservadas e riquíssima biodiversidade. Os setores agro e ambiental são os que estão dando certo no Brasil. Exigir desmatamento zero, sem levar em conta o direito de incorporar novas áreas ao processo produtivo (seguindo o que o código florestal permite) ou compensar o empresário rural por abrir mão desses direitos, é enganar a sociedade e menosprezar a inteligência do povo brasileiro. Além de antiético!

Mesmo com esta enorme articulação internacional contra a crescente presença do Brasil no comércio mundial de alimentos, fibras e bioenergia, o país segue firme em sua vocação natural de celeiro do mundo, conservando mais de 60% de seu território. Acho que o mundo não contava que conseguiríamos desenvolver essa tecnologia agrícola para os trópicos com tanta eficiência e agora não sabe como lidar com o Brasil. Vamos ser pacientes, mas eles vão ter que aprender: somos uma potência agroambiental!

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TAGS: Agroambiental, Caio Penido, Sustentabilidade