07.05.18
Por Luiz Fernando Sá
Assim que as autoridades regulatórias americanas oficializarem o aguardado “sim” para a aquisição da Monsanto pela Bayer, será decretado o fim de uma era da agricultura mundial. Em um comunicado divulgado nesta segunda-feira, 7 de maio, os principais líderes da companhia americana anunciaram que deixarão a empresa logo após a concretização da união com os alemães, um negócio de US$ 62,5 bilhões que criará um gigante e controlará mais de um quarto do mercado global de sementes e agroquímicos. Deixarão a Monsanto o CEO, Hugh Grant, o CFO, Pierre Courduroux, e Robert Fraley, principal cabeça científica da empresa nas últimas décadas. Com eles, vão-se homens que deram rosto à revolução dos trangênicos no campo – e foram endeusados e vilanizados por isso.
A aprovação do governo americano é a última barreira ainda a impedir a união Bayer-Monsanto, que já recebeu sinal verde em todos os demais mercados relevantes, como Brasil, Austrália e União Europeia. Espera-se que ela seja oficializada no fim de maio, abrindo as portas para a incorporação total dos negócios da empresa americana pelo grupo alemão. Com um perfil mais discreto e menos associado às polêmicas em torno dos organismos geneticamente modificados, a Bayer deve acelerar as pesquisas em outras áreas da biotecnologia, como as técnicas de edição de genes conhecidas pela sigla CRISPR.
Grant e Fraley são o avesso da discrição. Nunca se furtaram a comprar uma boa briga em defesa dos transgênicos, tecnologia que ajudaram a desenvolver e popularizar — e que provocou uma transformação na agricultura mundial. Fraley entrou na Monsanto aos 27 anos e nela atuou pelas últimas três décadas. Ph.D em microbiologia e bioquímica, ele liderou as equipes que desenvolveram a ciência por trás de marcas como as sementes Roundup Ready, tolerantes ao herbicida glifosato, um dos produtos químicos mais usados na agricultura moderna. A tecnologia dos transgênicos permitiu aumentos de produtividade importantes em diversas culturas, mas colecionou críticos preocupados com possíveis contraindicações de seu uso nas lavouras e consumo pelos humanos. Em 2013, Fraley foi um dos ganhadores do World Food Prize, que homenageia pessoas que contribuíram significativamente para ampliação da oferta de alimentos. Dois anos depois chegou a polemizar com o compositor americano Neil Young, que lançou um álbum chamado “The Monsanto Years”, cujas músicas combatiam abertamente a companhia.
Grant, da mesma forma, foi um eloquente debatedor nos mais diversos fóruns de discussão sobre o uso de transgênicos e jamais se omitiu na defesa das tecnologias desenvolvidas pela empresa que liderava e onde trabalhou por 35 anos. “Foi um privilégio poder ter servido como CEO da Monsanto durante este período de extraordinário crescimento e de transformação dos nossos negócios”, afirmou no comunicado. “Estou orgulhoso do que produzimos e anseio pelo que o futuro reserva para esta organização”.
Por enquanto, sabe-se apenas o que o futuro reserva para Grant, Fraley e outros executivos de primeiro escalçao que deixarão a Monsanto. O pacote de saída de Grant está estimado em US$ 32,6 milhões (US$ 13 milhões em dinheiro e o restante em ações. Fraley levará US$ 8,9 milhões e Courduroux, US$ 8,4 milhões.
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