Por Amauri Segalla
Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro deixou de ser apenas um pilar importante da economia para se consolidar como alicerce fundamental do Produto Interno Bruto (PIB) do País. Em momentos de instabilidade, foi o setor que sustentou as contas externas, garantiu superávits comerciais e ajudou a preservar empregos. Se até pouco tempo atrás ainda pairavam dúvidas sobre a capacidade de o agro sustentar taxas consistentes de crescimento, hoje não há espaço para hesitação: a pujança do campo é parte indissociável da prosperidade nacional e, cada vez mais, também responsável por alimentar o mundo.
A revista PLANT PROJECT acompanhou cada passo dessa transformação. Desde sua estreia, em julho de 2016, trouxe às páginas, com profundidade e clareza, dados, entrevistas e análises que revelam a força crescente de um setor que passou a influenciar de maneira decisiva os rumos da economia brasileira. Mais do que registrar números, a PLANT mostrou como o Brasil se afirma como potência global de alimentos. Hoje, o agro brasileiro alimenta 1 bilhão de pessoas no mundo e responde sozinho por quase 55% das exportações mundiais de soja, 35% do comércio internacional de carne de frango e quase 25% das vendas de carne bovina. É uma força que projeta o país como peça central da segurança alimentar mundial.
A comparação com uma década atrás não poderia ser mais eloquente. Em 2016, o agronegócio representava 21% do PIB brasileiro, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e do Cepea/Esalq-USP. Em 2024, essa participação chegou a 27%, mesmo com o crescimento de outros segmentos da economia. Em valores absolutos, trata-se de uma expansão impressionante: o PIB do agro saltou de R$ 1,4 trilhão para quase R$ 2,6 trilhões nesse período, quase dobrando em dez anos. A agricultura e a pecuária foram decisivas para manter a economia em movimento durante a recessão de 2015 e 2016, bem como na crise gerada pela pandemia da Covid-19, em 2020. Nos dois momentos, enquanto setores urbanos recuavam, o campo sustentou o PIB, manteve as exportações em alta e garantiu superávit à balança comercial.
Os números do comércio exterior ilustram a centralidade do agro na economia nacional e na alimentação mundial. Em 2016, o agronegócio brasileiro exportou US$ 85 bilhões, representando aproximadamente 45% do total das vendas do País ao mercado internacional. Em 2024, o valor saltou para US$ 164 bilhões, equivalentes a quase 50% do total de exportações do País. Soja, carnes, açúcar, celulose e café continuam como protagonistas, mas houve diversificação da pauta: etanol, algodão, frutas e até produtos de maior valor agregado passaram a ter espaço maior no mercado internacional. O resultado, ressalte-se mais uma vez, foi fundamental para que o Brasil acumulasse superávits comerciais expressivos, mesmo em anos em que a indústria e os serviços não conseguiram sustentar a mesma performance. O setor tornou-se, assim, a principal âncora da economia, mas também um dos maiores fornecedores globais de alimentos.
Outro traço marcante dessa década foi o salto de produtividade. A chamada segunda revolução verde no Brasil, apoiada em ciência, inovação genética, mecanização e agricultura digital, permitiu ampliar a produção sem avançar na mesma proporção sobre novas áreas. Entre 2016 e 2025, a produção de grãos cresceu de 195 milhões para 330 milhões de toneladas, um aumento de quase 70%. A área plantada, porém, expandiu-se em ritmo bem mais modesto – de 60 para 80 milhões de hectares, segundo a Conab. Ou seja, a produtividade média por hectare avançou de maneira expressiva, o que se deve sobretudo ao uso de sementes mais eficientes, à modernização do manejo e à adoção crescente de tecnologias no campo.
O dinamismo do agronegócio se reflete na geração de empregos. O setor responde hoje por cerca de 30% das vagas formais do País. Não se trata apenas de trabalho no campo, mas também de empregos criados em indústrias de processamento de alimentos, no transporte, na logística e nos serviços associados. Um efeito visível é a interiorização da riqueza. Cidades do interior de Mato Grosso, Goiás, Bahia, Tocantins e Maranhão experimentaram um crescimento acelerado, com índices de desenvolvimento acima da média nacional. Universidades e centros de pesquisa foram instalados, redes de infraestrutura se expandiram e novos polos de inovação surgiram em regiões antes consideradas periféricas.
Como se não bastasse, nos últimos dez anos o Brasil deixou de ser visto apenas como celeiro de commodities para consolidar-se também como hub de inovação no agro. Startups de biotecnologia, plataformas digitais de gestão de fazendas e tecnologias de agricultura de precisão criaram um ecossistema vibrante, que atraiu investimentos de capital de risco e colocou o País no mapa das agtechs. Ao mesmo tempo, avançou a industrialização do campo. O processamento local de carnes, grãos e frutas gerou cadeias de valor mais robustas, com maior geração de divisas. Grandes cooperativas, antes restritas ao fornecimento de insumos e ao escoamento da produção, se tornaram conglomerados industriais capazes de competir globalmente.
A força do agro ficou evidente nos momentos mais críticos. Durante a pandemia, em 2020, enquanto a indústria de transformação recuava 5%, o agronegócio avançou 3%. Anos depois, em 2022 e 2023, em meio a turbulências políticas e fiscais, o setor garantiu superávits recordes que ajudaram a estabilizar o câmbio e conter a inflação. A capacidade de atravessar crises, internas ou externas, confirma o peso crescente do agro na economia brasileira. Ao gerar divisas e manter as contas externas em equilíbrio, o setor atua como amortecedor em tempos de instabilidade e se firma como uma das bases mais sólidas para o desenvolvimento do País.
Se o balanço da última década é amplamente positivo, os próximos anos trarão desafios ainda maiores. O aumento da produtividade terá de caminhar lado a lado com a sustentabilidade, em um cenário marcado por exigências regulatórias mais rigorosas e consumidores internacionais cada vez mais atentos à origem dos alimentos que consomem. Práticas de baixo carbono, rastreabilidade e certificações ambientais já são condição de acesso a mercados estratégicos. Ao mesmo tempo, o setor terá de manter o ciclo de investimentos em inovação, infraestrutura e formação de capital humano no campo, para consolidar os avanços conquistados e ampliar sua competitividade. É esse novo capítulo que a PLANT PROJECT seguirá de perto, registrando como o Brasil pretende conciliar sua vocação agrícola com as demandas de um mundo em transformação.





