DE GRÃO EM GRÃO

Exportações brasileiras de amendoim cresceram 360% nos últimos dez anos, o que fez o País dispar


Edição 41 - 21.04.24

Exportações brasileiras de amendoim cresceram 360% nos últimos dez anos, o que fez o País disparar no ranking dos maiores produtores globais 

Por Marco Damiani  

O céu é o limite para o amendoim brasileiro. Depois de perder espaço para a soja, no início deste século, e ser relegado a um segundo plano na preferência de agricultores de todos os portes, este grão que nasce debaixo da terra já recuperou, com sobras, toda a sua majestade. A área plantada cresceu, as exportações batem recordes e as receitas estão cada vez mais altas. Nos últimos dez anos, os embarques brasileiros do produto se diversificaram para mais de 90 países, com alta de 360% desde 2014. As vendas externas saltaram 50% apenas nos últimos quatro anos, atingindo 276,5 mil toneladas de janeiro a novembro de 2023 e um volume de negócios superior a R$ 3 bilhões em toda a cadeia produtiva.  

Ainda assim, os protagonistas do setor acham que há espaço para mais avanços. “O crescimento rápido e sustentado só confirma a nossa certeza de que o amendoim ainda é um gigante adormecido no Brasil”, afirma o produtor José Antonio Rossato, diretor da Coplana, a maior comercializadora do grão no País, com uma área plantada aproximada de 20 mil hectares e sede em Jaboticabal, no interior de São Paulo. Em 2018, a cidade foi eleita a capital nacional do amendoim. De cada 4 toneladas que o Brasil exporta, uma é produzida ali. O estado de São Paulo lidera a produção nacional, com 64% do total. No ano passado, exportou perto de 250 mil toneladas, gerando receitas superiores a US$ 300 milhões. A forte presença tem longas raízes na associação da cultura com a cana-de-açúcar. O amendoim, ressalte-se, é usado na rotação da cana, fazendo as vezes de adubo natural.  

Com a multiplicação das possibilidades econômicas em torno do grão, o plantio trocou o perfil artesanal de antes pelas grandes estruturas empresariais de hoje. “O amendoim deixou de ser uma cultura secundária e passou a ocupar novas áreas, tanto na expansão do cultivo em rotação com a cultura de cana-de-açúcar quanto como opção principal do produtor”, afirma a engenheira agrônoma Mariste Belloli, da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em São Paulo. De acordo com a profissional, a área plantada com amendoim hoje no País é superior a 160 mil hectares. Um estudo realizado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab) mostra que a exportação do grão já chega a 100 países. Não à toa, em 2023 o Brasil passou a ocupar o quinto lugar no ranking internacional.  

O crescimento da cultura resultou no surgimento, nos últimos anos, de aproximadamente 40 empresas beneficiadoras do grão no Brasil, de acordo com levantamento recente realizado pela Embrapa. A maior delas, a Beatrice Peanuts, foi fundada pelos irmãos Romildo e Nilson Contelli, em 1980. Eles sofreram com a praga que provocou o recuo do plantio do amendoim no País na virada do século, mas lideraram a retomada do cultivo a partir dos anos 2000.  Hoje em dia, a empresa exporta dez tipos de amendoim para 12 países, a maioria da União Europeia.  

Os negócios da Beatrice vão bem. “Há mais de 40 anos plantando amendoim, cada vez fico mais admirado pela capacidade desse grão”, diz o fundador Nilson, considerado uma das maiores referências do cultivo no País. “Nós procuramos compartilhar nosso crescimento com os demais produtores, oferecendo novas variedades ao mercado para que a produção de amendoim no Brasil se fortaleça como um todo”, acrescenta. 

As exigências do mercado internacional fazem com que, internamente, a cadeia produtiva do amendoim seja monitorada de perto. O Programa Pró-Amendoim fiscaliza a segurança dos produtos à base do grão feitos no Brasil e emite certificações necessárias para a exportação. O avanço na qualidade da produção se deu em um momento de maior procura, no mercado internacional, pelo produto. Tradicionalmente, os principais compradores do amendoim nacional estão na União Europeia, com diversificações para África do Sul, México e Colômbia, mas agora quem tem feito a diferença é a China. O país passou a consumir o amendoim brasileiro a partir de 2022 e, no ano passado, praticamente dobrou o volume de pedidos. Como se diz entre os produtores, o amendoim é mesmo um grão poderoso. 

Ao lado da soja e do feijão, o amendoim é um dos grãos mais ricos do mundo em propriedades alimentícias, e bastante versátil. Suas sementes contêm grandes quantidades de óleo e proteína, além de carboidratos, sais minerais e vitaminas. Um de seus subprodutos, o óleo, tem amplo mercado na alimentação animal, que usa o resíduo, denominado torta. Quando refinado, é utilizado em processos da indústria farmacêutica, cosmética e alimentícia. Antes do refino, torna-se elemento importante para combustíveis e lubrificantes. 

Na alimentação humana, o óleo de amendoim pode ser um grande substituto nutricional do azeite de oliva, segundo estudos realizados pela Embrapa, tornando-se aliado no combate a doenças cardíacas. Além disso, o grão é rico em vitamina E, um composto antioxidante responsável por minimizar chances de câncer, diabetes e doenças autoimunes. O amendoim, como sabemos, é bastante consumido pelos brasileiros na forma de pratos doces e salgados, o que faz dele um elemento central na cultura gastronômica do País e componente direto da identidade nacional.