Edição 41 - 17.03.24
Avanço das fusões e aquisições no agronegócio mostra intenso processo de consolidação do setor
Por Marco Damiani
Duas vertentes bem nítidas já estão abertas, neste início de ano, para operações de fusões e aquisições entre empresas do agronegócio. É crescente a procura por companhias de agrosserviço, como máquinas e sementes, e pelas agtechs, que desenvolvem tecnologia específica para atividades como geomonitoramento, gestão de equipamentos e automação. Entre os 88 negócios de M&A, a sigla em inglês para Mergers and Acquisitions, realizados no País no ano passado, nada menos que 51, ou 58% do total, se deram em torno de operações de agribusiness em plena atividade, com sua capacidade de geração imediata de caixa. Na segunda posição, com 14 negociações concretizadas, aparece o segmento de tecnologia, movido pelo binômio aumento de produtividade e economia de custos.
“O interesse em agribusiness é permanente, pela capacidade de entregar resultados, mas o volume de negócios com agtechs está crescendo e, mesmo assim, ainda é incipiente diante das quase 2 mil empresas desse segmento já mapeadas pela Embrapa no País”, diz Giovana Araújo, sócia-líder de Agronegócio da consultoria KPMG. O fato de, muitas vezes, essas companhias operarem com estruturas administrativas leves, mas com grande domínio de conhecimento exclusivo, as torna atrativas na relação custo-benefício. “A evolução tecnológica já é uma marca do agro brasileiro, onde o aumento da produtividade passa pela tecnologia”, diz ela. “As agtechs são muito relevantes para esse crescimento.”
As empresas de capital nacional devem seguir liderando, com grande margem sobre as multinacionais, o processo de compras e associações no agro. A restrição à aquisição de terras no País por parte de companhias estrangeiras explica, em larga medida, o até aqui baixo interesse no mercado nacional. No ano passado, enquanto as empresas brasileiras fecharam 64 operações entre si, os negócios que envolveram companhias de capital estrangeiro foram apenas 14. Estados Unidos, França e Suíça lideram o ranking de compradores de fora. A China, mesmo com todos os seus interesses estratégicos na região, realizou nos últimos dez anos apenas quatro operações de M&A no País, a mais recente em 2019.
“O interesse das empresas do agro em se fortalecerem por meio de compras e associações é cada vez maior”, afirma Leonardo Dell’Oso sócio da consultoria PwC e líder de uma estrutura de 500 profissionais de monitoramento do mercado de M&A no País. “Acreditamos num crescimento de até 15% dos negócios neste ano, muito em razão das consultas que temos recebido de companhias interessadas nos setores de papel e celulose, alimentação animal, cooperativas e frigoríficos”.
As condições de mercado para 2024 não são as ideais para a realização de grandes lances, em razão da baixa nos preços internacionais das commodities. Mesmo assim, na avaliação da PwC, empresas de fertilizantes e com ativos em terras e florestas têm grande potencial de atrair a atenção das companhias investidoras. No primeiro caso, em razão do processo de ampliação da produção interna, reflexo das reviravoltas no mercado internacional provocadas pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A aquisição de empresas proprietárias de imóveis rurais, por outro lado, agrega bens ao negócio e amplia possibilidades de manejo ambiental sustentável.
Atuando em apoio às exportações do agronegócio, companhias especializadas do subsetor conhecido como TIC, de testes, inspeções e confirmações, igualmente entraram no radar das grandes companhias do agro. “Recebemos muitas consultas informais que indicam que o mercado de fusões e aquisições se diversifica cada vez mais, acompanhando o próprio crescimento do agronegócio como um todo”, conclui o consultor Dell’Oso.