A SAFRA DOS VENTOS

Uma das principais fontes da matriz elétrica brasileira, energia eólica avança no País e começa


Edição 37 - 05.07.23

Uma das principais fontes da matriz elétrica brasileira, energia eólica avança no País e começa a ganhar espaço também no agronegócio 

Por Thiago Galante 

Uma das principais fontes da matriz elétrica brasileira, energia eólica avança no País e começa a ganhar espaço também no agronegócio 

Na nova era ambiental, agronegócio e sustentabilidade se tornaram temas indissociáveis. Tanto é assim que, na última Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP-27), realizada no final do ano passado, os especialistas reforçaram que o combate às mudanças climáticas passa necessariamente pela transformação da produção agropecuária. Reconhecido como um dos celeiros do mundo, o Brasil está cumprindo bem o seu papel nessa discussão. 

Além de possuir um rigoroso código florestal, que busca o equilíbrio entre a preservação ambiental e a produção agrícola, o País se destaca na geração de energia renovável, cada vez mais indispensável para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Nesse campo, poucos setores avançaram tanto nos últimos anos – e demonstraram potencial para acelerar ainda mais – quanto a produção de energia eólica. 

“A energia eólica já ocupa a segunda posição na matriz elétrica do País, ficando atrás apenas da hidrelétrica”, afirma Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Atualmente, lembra a executiva, o segmento responde por 12,5% da matriz elétrica nacional. Portanto, não deve mais ser tratado como uma alternativa – trata-se, acima de tudo, de uma realidade consolidada.  

De acordo com dados da ABEEólica, o Brasil encerrou o ano de 2022 com uma capacidade instalada de produção de 24,1 gigawatts (GW), o suficiente para colocar o País em sexto lugar entre os maiores produtores globais. O desempenho é fruto da presença de 9.970 aerogeradores distribuídos em 869 parques eólicos espalhados por 12 estados brasileiros. “Ainda há mercado para crescer, especialmente com a chegada das eólicas offshore”, acrescenta Gannoum, que agora integra o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o chamado “Conselhão”.  

A primeira turbina eólica entrou em operação no Brasil em 1992. No entanto, foi apenas em 2009 que ocorreu o primeiro leilão exclusivo para comercialização desse tipo de fonte no País. Desde então, os ventos tornaram-se cada vez mais favoráveis. Na última década, o setor recebeu US$ 42,3 bilhões em investimentos. A meteórica ascensão permitiu ao Brasil gerar 72,2 TWh de energia eólica em 2021, o suficiente para abastecer 108 milhões de pessoas e 36,2 milhões de residências, de acordo com dados da ABEEólica. Segundo a entidade, a energia gerada por fontes eólicas evitou naquele ano a emissão de 34,4 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera – para efeito de comparação, o Brasil emitiu 2,42 bilhões de GEE em 2021. 

Em 2023, espera-se que o Brasil alcance novos recordes de produção, especialmente no segundo semestre, quando a incidência de ventos é maior. Isso será importante para garantir preços mais competitivos e reduzir a necessidade de contratação de usinas termelétricas, que têm custos mais elevados para os consumidores, conforme ressalta a presidente da ABEEólica. 

Assim como todos os outros setores econômicos, o agronegócio também se beneficia da energia eólica. O uso de fontes renováveis impulsiona o desenvolvimento das atividades no campo, ao mesmo tempo que contribui para a compensação de créditos de carbono. Portanto, a força dos ventos pode ser um diferencial competitivo nas exportações. 

Um aspecto interessante apontado pela executiva diz respeito à possibilidade de produtores rurais que possuem propriedades em regiões com boa incidência de ventos cederem terras para a instalação de aerogeradores. Além de aumentar a renda com o aluguel dessas áreas, eles podem prosseguir normalmente com as atividades agrícolas e pecuárias – as torres, afinal, ocupam espaço físico reduzido, sem causar prejuízo algum para a produção agrícola. 

Embora o mercado seja promissor, é preciso lembrar que ele está repleto de desafios. “A energia eólica requer investimentos significativos e a instalação é uma das etapas mais complexas e caras de todo o processo”, diz Evandro Medeiros Braz, engenheiro civil com mais de 20 anos de experiência no setor. “Um aerogerador custa entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. Se considerarmos um parque eólico de pequeno porte, com dez aerogeradores, estamos falando de um investimento inicial bastante elevado, da ordem de R$ 200 milhões.” 

Com os custos elevados, o desenvolvimento da energia eólica depende necessariamente dos leilões promovidos pelo governo e das linhas de financiamento oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para participar desses leilões, os investidores devem apresentar três anos de medições de vento em suas áreas, o que comprovaria ao governo e ao BNDES que aquele local será produtivo. 

A energia eólica, jovem e já consolidada no cenário nacional, está avançando rapidamente para ampliar sua participação na matriz elétrica brasileira. Seus benefícios, como fonte de energia renovável e de baixa emissão de carbono, contribuem para que o Brasil alcance seus objetivos no Acordo do Clima e seja cada vez mais reconhecido como um exemplo de produtor sustentável no cenário agrícola global.