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Em entrevista exclusiva, Silvia Massruhá, primeira mulher a presidir a estatal, fala sobre o que pr


Edição 37 - 12.07.23

Em entrevista exclusiva, Silvia Massruhá, primeira mulher a presidir a estatal, fala sobre o que pretende fazer para levar a empresa em direção ao futuro 

 

Por César H. S. Rezende 

No ano em que completa exatas cinco décadas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) passou a ser chefiada, pela primeira vez na história, por uma mulher. Silvia Maria Fonseca Silveira Massruhá assumiu o cargo em 1º de maio com a promessa de levar a estatal em direção ao futuro. “Estamos em um mundo em transformação, que demanda constantemente inovação e tecnologia”, disse a executiva, em entrevista exclusiva à PLANT PROJECT.  

Doutora em Computação Aplicada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e mestre em Automação pela Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Massruhá ingressou na Embrapa em 1989. Desde então, participou ativamente de importantes transformações que chegaram ao campo, das primeiras aplicações da informática na produção agropecuária ao advento da internet, das soluções digitais à inteligência artificial. 

Na entrevista a seguir, Massruhá faz um balanço das atividades da Embrapa, diz o que pretende fazer para fortalecer parcerias com os protagonistas do agronegócio e fala sobre a formulação de políticas públicas voltadas para o setor. Acompanhe:  

 

De que forma a Embrapa pode contribuir para a formulação de políticas públicas voltadas ao agronegócio? 

O papel da ciência é sempre fundamental como subsídio, porque tem a capacidade de antecipar cenários e, assim, contribuir com informações e dados consistentes relacionados às demandas do agro. Prova disso são as constantes demandas de instituições governamentais. Veja o exemplo do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), instrumento fundamental para orientar produtores na gestão e na adoção de práticas sustentáveis nas respectivas cadeias produtivas. Há muitos outros.  

Quais?  

Um estudo recente conduzido pela Embrapa em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e mais 21 instituições brasileiras monitorou a pesca profissional na Bacia do Alto Paraguai nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, onde mais de 30 mil pessoas são diretamente dependentes dessa atividade. Os resultados têm subsidiado a ANA e órgãos ambientais estaduais nas tomadas de decisão.  

A sustentabilidade é um tema presente na agenda da Embrapa?  

A agenda de pesquisa da Embrapa tem na sua essência a base sustentável, porque o cenário de futuro e o compromisso brasileiro com as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estão vinculados. Entre as nossas contribuições estão as tecnologias de Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN), que só na cultura da soja gera uma economia anual de US$ 15 bilhões. Além disso, temos a edição gênica, que permite a identificação de genes resistentes a estresse hídrico, tropicalização de culturas e novas oportunidades de produção, como o Sisteminha Embrapa no Semiárido. 

Quais são as principais iniciativas da Embrapa para ajudar os produtores a lidar com os desafios impostos pelas mudanças climáticas? 

São muitas, mas eu destacaria uma parceria da Embrapa com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que resultou na criação de uma unidade mista de pesquisa de genômica aplicada às mudanças climáticas com o foco na prospecção de genes resistentes a estresses hídricos e a doenças. 

A tecnologia tem se tornado um fator cada vez mais relevante no campo. Nessa área, que contribuições a Embrapa pode oferecer?   

A capilaridade de nossas 43 unidades descentralizadas, que, por sua vez, estão em contato com outras instituições de pesquisa e segmentos do setor produtivo, é o principal suporte para que a ciência chegue aonde deve chegar.  Recentemente, a Embrapa promoveu a Caravana FertBrasil, uma iniciativa que busca levar informação com foco no aumento da eficiência do uso de fertilizantes e de insumos para a nutrição de plantas. A ação está em andamento em todo o Brasil.   

Como a Embrapa tem buscado incorporar em suas pesquisas e projetos as necessidades das mulheres no campo? 

Atualmente, a Embrapa conta com o Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, que é um grupo que trabalha com dados, análises, diagnósticos e prognósticos para a formulação de políticas públicas em benefício das mulheres que atuam no setor agropecuário, florestal ou aquícola. Além disso, por meio da Rede Embrapa de Mulheres, direcionamos ações voltadas para esse público, cada vez mais presente nas lavouras. As mulheres são parte fundamental do agronegócio brasileiro. Atualmente, cerca de 30% das propriedades rurais são lideradas por mulheres, de acordo com o IBGE.  

Como está a participação feminina dentro do quadro de funcionários da Embrapa?  

Os dados mais recentes mostram que 32% de nosso quadro é formado por mulheres. Na diretoria executiva, já somos 40%, mas a meta é aumentar a representatividade para 60%.  

Nesse contexto, o que significa para a Embrapa ter uma mulher na presidência pela primeira vez na história?  

Sendo a primeira mulher a assumir o cargo, a responsabilidade só aumenta. Sou pesquisadora da Embrapa há 34 anos, atuando na área de Computação Aplicada à Agricultura, mais especificamente em projetos de inteligência artificial. Independentemente do gênero, acredito que todos devem persistir nos seus sonhos.  

Quais são as suas expectativas para o futuro da instituição?  

Defendo um amplo e democrático plano de modernização da Embrapa, focado em algumas premissas fundamentais, como o diálogo permanente, a valorização das equipes, uma maior integração entre unidades de pesquisa, a simplificação de processos, a recomposição orçamentária, a ampliação da participação dos empregados nas decisões, entre muitas outras iniciativas. Além disso, é preciso manter a Embrapa na fronteira do conhecimento e na vanguarda da ciência e tecnologia.