Uma jovem com muito gás

Com R$ 600 milhões em projetos para os próximos 18 meses, a Thermo Energy se prepara para ser refe


Edição 35 - 02.05.23

Com R$ 600 milhões em projetos para os próximos 18 meses, a Thermo Energy se prepara para ser referência no mercado de biogás

 

Os próximos meses prometem ser intensos para o empreendedor Roberto Maués, CEO da Thermo Energy, empresa com sede no Rio de Janeiro mas foco nas áreas produtoras do interior do Brasil. O calendário prevê uma série de datas marcantes para a consolidação da jovem empresa como uma importante desenvolvedora de soluções para um dos mercados mais promissores para a geração de energia no Brasil nos próximos tempos. Nos últimos quatro anos, a Thermo, como Maués se refere à companhia, se dedicou a estudar, no mundo todo, as melhores e mais eficientes referências de mercado na produção de biogás e biofertilizantes a partir do uso de biomassa. Desenvolveu expertise e foi ao mercado. Agora, é hora de entregar.

Em cerca de 50 dias está previsto o início de construção da primeira unidade contratada à empresa, que deve entrar em operação até outubro. Outros quatro projetos já estão alinhados para a construção de biorreatores – equipamentos que transformam passivos ambientais como vinhaça, esterco de galinhas poedeiras e resíduos de confinamentos de gado de corte e leiteiro, entre outros, em biogás e biofertilizantes – devem estar em funcionamento até agosto de 2024. “São investimentos que, somados, atingem R$ 600 milhões”, afirma Maués. “Queremos nos consolidar como os maiores integradores de biomassa em crescimento no Brasil”.

Criada em 2015 no ramo Offshore e de máquinas térmicas (de onde inclusive surgiu o nome), a Thermo se transformou para se dedicar ao desenvolvimento de soluções energéticas renováveis e, posteriormente, fechar o foco no biogás – e, em particular, nos produtores de biomassa do agronegócio – em função do enorme potencial do setor nessa área. “O Brasil é um dos maiores produtores de proteína animal, do mundo”, exemplifica Maués. “Temos condições de gerar projetos altamente sustentáveis, que combinem viabilidade econômica e sustentável com o aproveitamento do resíduo e ainda propicie o avanço do bem estar animal”, afirma. “É um mercado com evolução impressionante, muito rápida”.

O modelo de negócios desenhado pela Thermo se inicia pela busca de fontes de biomassa por região. Uma vez identificada uma possibilidade – em geral com capacidade de fornecimento diário superior a 50 toneladas de biomassa –, a empresa procura produtores, faz o estudo de viabilidade econômica e procura parceiros investidores. “É um modelo tripartite, reunindo produtor, operador e investidor”, explica o executivo. “A Thermo faz parte do equity em função do investimento na operação por no mínimo dois anos, como garantia de performance. Então, se o próprio produtor tiver interesse na operação, fazemos uma nov negociação”. O biometano produzido já tem destino garantido: uma empresa distribuidora parceira absorve 100% do estoque, que então é fornecido para indústrias.

“Não estamos preocupados apenas com a viabilidade econômica, mas sobretudo em tirar esse passivo do meio ambiente de forma regional”, diz Maués. “A sustentabilidade tem viabilidade quando o modelo econômico está funcionando. A gente entende que a prioridade na captura do CO2 e do metano é o que faz o projeto ser eficiente. Outras formas de usar biomassa, como compostagem, não promovem o mesmo impacto e não têm a mesma pegada de economia circular”.

Os modernos biodigestores utilizados nos projetos são de alta performance e trazem uma série de benefícios ambientais e sociais, além dos econômicos. A Thermo trouxe da Alemanha e nacionalizou o modelo construtivo, com tanques em concreto armado, totalmente herméticos. Assim, há garantia de que não haverá vazamento de resíduos e traz a vantagem adicional de evitar a proliferação de vetores. Esse efeito sanitário poderá ser sentido em um projeto em implantação na região da Serra da Mantiqueira, em Minas Gerais, que contará com uma parceria com uma ONG para a preservação da qualidade das águas do rio Verde. Lá, os resíduos da produção favoreciam a reprodução de moscas e o mau cheiro, o que, durante anos, comprometeu a atividade turística. “A ideia agora é promover a volta do turismo e do desenvolvimento nas cidades da região”, afirma Maués.

A produção de energia é feita através de geradores vindos da China, país com larga expertise na produção de biogás. A produção de biofertilizantes, outro ativo importante obtido no processo, pode ser adaptada às necessidades de cada região. Para isso, pode-se controlar a população de bactérias dentro do biorreator para produzir o resultado desejado. As plantas construídas pela Thermo têm vida útil de pelo menos 15 anos sem a necessidade de intervenções para manutenção.

Os investimentos variam conforme a capacidade do biorreator. Para um projeto para 50 toneladas diárias de biomassa, por exemplo, o valor fica em torno de R$ 35 milhões, com retorno do investimento estimado em dois anos e meio. “É um payback bem rápido”, afirma o executivo. Além dos ganhos com o biogás e os biofertilizantes, há ainda a possibilidade de se obter rendimentos provenientes de créditos de carbono ou selos verdes, resultado da descarbonização das atividades agropecuárias.

“A geração de créditos de descarbonização tem chamado a atenção do mercado investidor e de potenciais parceiros”, afirma Maués. “Fora do Brasil, há até operadores de óleo e gás interessados em fazer parcerias em que eles absorvem créditos e outros ativos ambientais que beneficiam na compensação das suas operações”, afirma Maués. Segundo ele, a modelagem dos projetos da Thermo é baseada nos ativos principais – biogás e biofertilizantes – e os ativos ambientais entram como bonificação. “É a cereja do bolo”, define.

No município de Lins, no Interior de São Paulo, uma fazenda que cria gado em regime de confinamento já serve como referência desse modelo. O proprietário trabalhou com a Thermo a fim de modificar alguns processos, visando melhorar processos de bem-estar animal e de captação da biomassa, sempre com suporte de profissionais do setor para garantir a pegada de sustentabilidade. “O Brasil tem tecnologia de vanguarda pra isso, com potencial muito diversificado”, ressalta Maués. “Estudos mostram que o país pode ter uma produção diária de biomassa 30 milhões de metros cúbicos no futuro. Queremos uma fatia disso”.