OS Banqueiros da floresta

De banqueiros famosos, re.green inicia reflorestamento para resgatar carbono na Mata Atlântica e na


01.03.23

De banqueiros famosos, re.green inicia reflorestamento para resgatar carbono na Mata Atlântica e na Amazônia

 

Com aporte de R$ 300 milhões, recuperação de grandes áreas degradadas no Brasil une família Moreira Salles e Armínio Fraga no mercado de crédito ambiental que movimentou US$ 227 bilhões no ano passado

 

De valores grandiosos e em aceleração no mundo, mas ainda sem regulação completa e com um comércio residual no Brasil, o mercado de crédito de carbono nacional vive neste momento uma franca movimentação de um de seus mais jovens e, sem dúvida, maior player em termos de recursos financeiros. A re.green, empresa fundada este ano a partir de uma associação entre banqueiros e empresários reconhecidos em outros segmentos, está em plena fase de execução do projeto de reflorestamento de sua primeira grande propriedade adquirida para fins de resgate de carbono da atmosfera e, com isso, obtenção de bons lucros pelos serviços prestados ao meio ambiente. A entrada dessa empresa, cujo cacife em capital inicial chega a mais de R$ 300 milhões, no jogo climático é uma sinalização clara de que o mercado nacional de compensação de emissões de poluentes ganha musculatura, densidade e, neste caso específico, personagens de sucesso consagrado em seus negócios até aqui. No Conselho de Administração da re.green, presidido pelo banqueiro Marcelo Medeiros, brilha a estrela do economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e chefe da Gávea Investimentos. Como investidor, ele está ao lado da família Moreira Salles, fundadora do Unibanco, sócia do Itaú e dona da Cambuhy Investimentos, e Marcelo Barbará, ex-banco Garantia e atual CEO da casa investidora Lanx Capital e da própria Cambuhy. Os três nunca haviam investido em reflorestamento antes. Entre os cofundadores da companhia, João Moreira Salles é mais um nome ligado ao mercado financeiro que se faz presente. 

No mês passado, o empresário Guilherme Leal, um dos homens mais ricos do País e com longa história no terreno da sustentabilidade, como líder da Natura, também aportou recursos milionários e terá assento no Conselho da companhia. Com ele, chega Roberto Waack, presidente do Instituto Arapyaú e conselheiro para investimentos de Leal. É certo que, se não houvesse potencial nesse negócio, nenhum deles estaria ali. A área técnica da re.green é igualmente estrelada. Fazem parte do time que irá definir os critérios para os reflorestamentos na pauta da companhia o professor Ricardo Rodrigues, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), um dos maiores especialistas brasileiros no assunto. Rodrigues também é um dos cofundadores. O COO – Executivo Chefe de Operações – é o também professor uspiano Mauricio Penteado, de larga experiência em companhias privadas de grande porte.   

 

“A gente fala do sonho de restaurar 1 milhão de hectares nos próximos 12 anos”, conta o co-CEO Thiago Picolo, que igualmente faz parte, na re.green, de um time de técnicos com vasto currículo acadêmico e empresarial. A nova companhia nasceu, após três anos de planejamento e articulações para sua montagem, quase simultaneamente à publicação do Decreto 11.075, de maio deste ano. Feito a partir das pressões internacionais sobre o Brasil, que possui os biomas da Mata Atlântica e da Floresta Amazônica entre os mais importantes do mundo, o texto legal endereça a regulação completa do mercado de carbono no País até 2025. Os sócios da re.green apostam que, diante dos compromissos assumidos pelo presidente eleito, Lula, com a comunidade internacional, a preservação e comercialização da sustentabilidade ambiental estarão em alta no Brasil pelos próximos quatro anos. Não se trata, assim, de nenhum salto no escuro, mas de um movimento calculado para posicionar a re.green numa “pole position” para buscar os lucros que o resgate de carbono promete.

O co-CEO Bernardo Strassburg, idealizador da companhia e de conhecimento técnico destacado na plataforma Lattes, indica mais um encaminhamento de negócios para a re.green. “A concessão de florestas é um negócio promissor e queremos estar nele”, disse ele à jornalista Vanessa Adachi, do site Capital Reset. “Neste setor que demanda capital intensivo, se formos bem-sucedidos, vamos precisar atrair novos recursos. Não necessariamente equity”, direcionou Strassburg.

Até 2030, o mercado de carbono tem potencial para movimentar no Brasil nada menos que US$ 167 bilhões. Nas contas do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), os montantes em torno desse negócio devem atingir US$ 347 bilhões até 2050. A julgar pelos números atuais negociados nas bolsas de créditos ambientais, as projeções são factíveis. Num comércio global que cresce há quatro anos consecutivos, e teve alta de 20% entre 2020 e 2021, os negócios internacionais somaram US$ 227 bilhões no ano passado. A consultoria Refinitiv estima que os valores de 1 tonelada de carbono resgatada da atmosfera por projetos florestais, cujo preço máximo atual é de cerca de US$ 137, pode ser multiplicado por 15 nos próximos sete anos.

Com o caixa forrado, a re.green tem como estratégia comprar fazendas com matas degradadas, especialmente na Bahia e na Amazônia, para realizar reflorestamento. Nessa medida, terá créditos de resgate de carbono para vender em bolsa às empresas poluidoras. “A gente até usa o termo ‘restauração cinco estrelas’, que é o padrão mais alto de serviço ambiental”, diz Picolo. “Sempre iremos trabalhar o reflorestamento apenas com espécies nativas, com um nível de biodiversidade comparável ao de uma floresta primária, além de uma promoção muito grande da fauna”, acrescenta ele. “Em 30 anos, dentro das nossas áreas de atuação não será possível apontar uma diferença entre uma floresta restaurada e uma floresta nativa”, promete.

A re-green nasce inteiramente pura, por assim dizer. A área de Mata Atlântica degradada comprada na Bahia terá, em seu manejo de reflorestamento, trabalhadores de comunidades locais. Igualmente há um compromisso em prestigiar, em termos de trabalho, integrantes de quilombolas e indígenas que estiverem nas terras adquiridas ou no seu entorno. A companhia já tem entre seus princípios a promessa de formar mão de obra especializada por meio da qualificação dos locais. Já estão em plena produção quatro viveiros de mudas, capazes de abastecer cada hectare a restaurar com 1,6 mil árvores nativas. O plantio já está em curso. 

Um segundo fator de lucro, além dos créditos ambientais, estará na venda de madeira de origem certificada, de alto valor no mercado internacional. Se nada der certo, o que parece impossível em razão de todas as condições favoráveis, no mínimo eles estão comprando um bem precioso chamado terra. Com banqueiros de estirpe à frente do negócio, a ideia é fazer com que os benefícios ambientais promovidos pelas ações de reflorestamento andem de mãos dadas com os ganhos que fazer o bem pode acarretar.