O Caminho da Inovação

O longo trajeto para o desenvolvimento de um novo defensivo agrícola, do desenvolvimento da molécu


Edição 20 - 27.05.20

Plant + IHARA

O longo trajeto para o desenvolvimento de um novo defensivo agrícola, do desenvolvimento da molécula ao mercado

Cada vez que um novo defensivo agrícola chega ao mercado, se encerra um dos mais complexos e rigorosos processos de seleção promovidos por um setor industrial no mundo. São cerca de 20 anos de pesquisas e desenvolvimento e centenas de milhões de dólares de investimento para transformar uma molécula promissora em um produto seguro e eficaz no combate a uma praga na lavoura. “São várias etapas de desenvolvimento, muita pesquisa e checagem”, afirma Clayton Veiga, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Ihara. “Para se ter uma ideia, cerca de 250 milhões de moléculas são testadas até se chegar a um produto”, diz, citando dados da Phillips McDougall, consultoria britânica com expertise em análises da indústria de proteção de cultivos.

Uma das mais inovadoras empresas brasileiras de agroquímicos, a Ihara tem entre os seus principais diferenciais o conhecimento e o domínio desse longo e minucioso processo, que se inicia ainda bem longe de seus laboratórios, localizados em Sorocaba (SP). O desenvolvimento de um defensivo agrícola tem pelo menos quatro diferentes fases: discovery (descoberta, em tradução livre), screening (triagem), desenvolvimento e registro. Somente a partir da segunda e principalmente na terceira – que normalmente é a mais longa e com maior volume de investimentos – é que entra em cena a equipe de cientistas e pesquisadores da empresa. “Temos uma metodologia única de trabalho, sempre com uma preocupação muito grande em trazer ao mercado algo que tenha eficiência técnica, segurança humana e ambiental, e que seja melhor do que o que já é usado pelo agricultor brasileiro”, diz Clayton, “Se entendermos que não obtivemos algo superior, não seguimos adiante.”

As etapas de discovery e screening são realizadas por pesquisadores das principais indústrias químicas internacionais. Na primeira, eles escrutinam todos os milhões de novas moléculas desenvolvidas no mundo em busca daquelas que possuem potencial. As mais promissoras são colocadas sob avaliação e seguem para a segunda fase. No screening, elas são estudadas mais a fundo, em ambientes controlados, para que se entenda melhor sua estrutura química e seu mecanismo de ação, como podem ser utilizadas na agricultura e se seu uso é seguro. “É nesse momento que se determina a eficiência real de uma nova molécula”, explica Clayton.

O desenvolvimento de um defensivo pode levar até 20 anos e exigir investimentos de até US$ 300 milhões. Cerca de 250 milhões de moléculas são analisadas até se chegar a um produto.

Embora não participe diretamente na etapa de discovery, a Ihara acompanha muito de perto, graças a sua relação com algumas das principais empresas desenvolvedoras de moléculas do mundo. Entre os acionistas da empresa brasileira estão os grupos japoneses Nippon Soda, Kumiai Chemical, Sumitomo Corporation, Mitsui Chemicals Agro, Sumitomo Chemical, Mitsubishi Corporation e Nissan Chemical, líderes globais nesse segmento. O Japão possui, segundo Clayton, tradição e reputação no desenvolvimento de ferramentas que permitem uma maior produção de alimentos em uma mesma área e com segurança. “Ao longo dos anos, os japoneses direcionaram seus esforços integralmente às pesquisas para o controle fitossanitário, e a Ihara é a única empresa no Brasil com tamanho acesso a essas tecnologias”, diz.

Com isso, hoje o Japão é responsável por mais da metade das novas moléculas de defensivos agrícolas que estão sendo pesquisadas no mundo. “Um dos nossos principais diferenciais é ter acesso ao portfólio de acionistas e parceiros, que nos coloca na ponta da tecnologia do setor”, afirma Clayton. Tão importante quanto isso, porém, é a expertise da Ihara nas fases seguintes do desenvolvimento.

Operando como uma ponte que liga os agricultores brasileiros às inovações japonesas em proteção de cultivos, a empresa realiza permanentemente testes e ensaios de campo para verificar o encaixe dessas novas soluções no mercado brasileiro. “Nos dedicamos a conhecer profundamente essas moléculas e a construir um produto que beneficie a agricultura brasileira”, afirma o executivo. Não se trata, portanto, de tropicalizar um produto já existente em outros países, mas de utilizar tecnologia para se chegar a produtos exclusivos, com abordagem única aos desafios da agricultura brasileira e que tragam mecanismos de ação diferentes e com melhores resultados do que os existentes no mercado.

Com 99 profissionais em sua equipe – entre pesquisadores, agrônomos, toxicologistas, químicos, bioquímicos, entomologistas, fitopatologistas e outros profissionais com nível de mestrado e doutorado –, Clayton afirma que a etapa de desenvolvimento consome 60% do tempo e dos recursos envolvidos na obtenção de um produto. Pouquíssimas moléculas chegam tão longe e, mesmo assim, ainda passarão por uma dura avaliação de segurança – tanto do ponto de vista humano quanto do ambiental – e de eficácia. “Se houver alguma preocupação com qualquer um desses critérios, os estudos param e o projeto é cancelado.” Com base em simulações em campo, são traçados o perfil toxicológico e o posicionamento de produto a partir da molécula, que só então segue para registro junto às autoridades responsáveis – no Brasil, apenas esta etapa pode demorar até oito anos.

Segundo estudos da Phillips McDougall, o percurso criterioso e longo da molécula ao produto custa, em média, US$ 300 milhões. A Ihara tem investido cerca de US$ 20 milhões ao ano em pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Como resultado, tem lançado novos produtos que se destacam no mercado brasileiro pela inovação e eficiência no controle de inimigos que geram prejuízos bilionários aos produtores nacionais. Clayton cita dois exemplos recentes. No ano passado, a Ihara lançou uma família de quatro produtos inovadores (Zeus, Spirit, Maxsan e Dinno), que possui estrutura molecular única e tem como perfil alta eficácia a insetos sugadores – como o percevejo na soja – quando comparado aos inseticidas que estão no mercado há mais tempo, sendo a melhor alternativa para manejo de resistência disponível para o agricultor. Além do excelente controle do percevejo da soja, essa família de inseticidas veio para controlar a mosca-branca, o bicho-mineiro do café, cigarra-do-cafeeiro, ferrugem-do-cafeeiro e cigarrinha-da-cana. Com essas soluções, é possível alcançar um novo patamar de controle das principais pragas detratoras de produtividade em diversas culturas, contribuindo com uma maior longevidade das tecnologias existentes e menor perda por danos causados às lavouras.

Além disso, nos próximos meses a empresa deve lançar o herbicida Yamato, formulado a partir da tecnologia Axeev, que se mostrou muito eficiente no controle de plantas daninhas resistentes ao glifosato, um dos defensivos mais utilizados atualmente no País. A resistência ao glifosato tem aumentado de forma preocupante em todo o mundo, mas em breve os agricultores terão uma nova arma contra ela. O Yamato está em fase final de registro no Ministério da Agricultura.

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