26.05.20
Por Marcello Brito, Presidente do Conselho Diretor da Abag – Associação Brasileira do Agronegócio
Na linha do tempo, ainda é muito cedo para fazermos uma análise precisa dos impactos desse momento excepcional que o planeta está atravessando. A Covid-19 nos colocou num filme de ficção científica, mergulhados numa enxurrada de informações e teorias sobre essa pandemia que fez o País parar, mas no resumo dos fatos, para alguns, estamos entre a cruz e a espada: entre as precauções com a saúde e a retomada da economia. Mas na verdade estamos com a cruz e a espada nas mãos, pois tanto o sistema de saúde quanto a economia serão testados à exaustão e fortemente afetados.
Muito impactadas ainda com o rápido avanço da doença no Brasil e no mundo, as pessoas estão trancadas em casa, muitas estocando alimentos e produtos de higiene; e os países, fechando fronteiras, com todas as suas implicações. Podemos dizer que vivemos uma economia de guerra.
Diante dessa situação surreal, temos uma única certeza: o agronegócio é essencial e não pode parar. O abastecimento, o transporte e o escoamento de mais uma safra recorde, que está sendo colhida, não podem ser paralisados.
Estamos vivendo a seguinte situação no setor: temos o agroexportador, que está com preços crescentes das principais commodities, associado ao dólar alto. É algo nunca visto. Soja, milho, suco de laranja e proteínas animais são os grandes ganhadores do momento.
As cadeias de hortaliças, frutas, flores, pescado, leite e ovos, que possuem milhares de pequenos e médios produtores e que somam 85% das propriedades brasileiras com menos de 100 hectares, vivem dias de agonia. No setor de flores, o que passou e se perdeu não será recuperado, sendo que mesmo após o retorno à “normalidade”, eventos e festas devem ter uma dinâmica e constância menor que antes da pandemia. Nas frutas, o problema está nas exportações devido à falta de logística, com o cancelamento de milhares dos voos comerciais e de cargas. Hortaliças é um setor mais resiliente, acostumado a crises de preços, climáticas e sanitárias e deve se recuperar mais rápido. Os pequenos produtores, tal qual os pequenos comércios e indústrias, são os que precisarão de apoio governamental, urgente.
O setor sucroenergético, que tinha tudo para crescer este ano, com a queda do preço do petróleo sofrerá muito. O governo brasileiro perdeu uma grande oportunidade de se utilizar imediatamente da Cide sobre o preço da gasolina, assim mitigando tamanha crise que se avizinha num setor tão importante da economia em empregos, renda, energia e com impactos que ultrapassam os espectros econômicos, atingindo também a saúde da população urbana, pois mais etanol significa menos emissões de poluentes e menos impacto no já colapsado sistema púbico de saúde em tempos de pandemia. Decisões políticas, além de coragem e pontualidade, demandam compreensão do momento para antecipação de crises.
Outro setor vencedor nessa crise é o de papel e celulose. Com atuação em mais de mil municípios, o setor é fonte de mais de 5 mil produtos, inclusive de matérias-primas para confecção de máscaras cirúrgicas, vestimentas, papel higiênico, fraldas, lenços umedecidos, papel-toalha e detergentes. Este é só um dos muitos exemplos de quanto o agronegócio é essencial no dia a dia de cada um de nós e ainda mais agora.
Como toda crise é também oportunidade, esse é um momento extraordinário para a expansão das cooperativas no País. Não há hora melhor para um grande programa de incentivo ao cooperativismo, tanto por parte das associações do setor, da iniciativa privada organizada, quanto dos governos municipais, estaduais e federal. O agro legal e organizado será fundamental para o Brasil pós-coronavírus.
Espero que essa crise humanitária também nos ensine a enxergar os milhões de seres humanos invisíveis que nos acostumamos a deixar à margem da sociedade sem o básico para uma vida digna, saneamento básico, moradia decente, acesso digno à saúde e meio ambiente conservado. Vamos reaprender a gostar de gente?
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