#oagronuncapara – E depois da tempestade?

Por Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da FAO para


Edição 20 - 26.05.20

Por Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas e Titular da Cátedra de Agronegócios da USP. Ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Ninguém, em lugar nenhum, poderia imaginar a extensão, a profundidade e a velocidade da tragédia que um mísero vírus causaria à humanidade, com reflexos negativos incalculáveis na área da saúde, na social, na econômica, na política e na vida cotidiana das pessoas em todos os cantos do mundo.

Naturalmente a agropecuária não ficou de fora da tormenta.

Mas esse setor produtivo tem uma característica diferente de qualquer outro: o homem é apenas um agente do sistema complexo que é determinado por uma força superior, a natureza, que define os tempos para cada ação no campo. O que fazemos é ajudá-la, por meio de tecnologias e investimentos que criamos com o fim de potencializar seu irrecorrível comando.

A atividade rural segue um ciclo rigoroso, estabelecido por essa extraordinária maestrina escalada pelo Criador, a natureza, que é responsável pela continuidade da vida.

E é por isso que a agropecuária não pode parar: ela estabelece o ciclo da vida. E é por isso que, todas as madrugadas, milhões de homens e mulheres em todos os lugares de todos os países saem de casa para plantar, tratar, colher. E de seu trabalho depende tudo o que vem depois, o transporte, a industrialização, a armazenagem, a embalagem, a distribuição, a exportação. Assim sendo, a cadeia do abastecimento de alimentos está igualmente amarrada às disposições da natureza. Na verdade, as cadeias produtivas inteiras, das quais a produção rural e o abastecimento são elos fundamentais, estão ligadas a esse ciclo extraordinário da vida: a produção de insumos, de equipamentos, a concessão de créditos, a inovação e a difusão de tecnologias, tudo é estabelecido em função dos mandamentos naturais. Ou seja: cidade e campo estão integrados nesse processo.

Mas o coronavírus está causando muito prejuízo ao agro brasileiro. Sofreram demais os produtores de flores porque seu mercado quase desapareceu: não se realizam mais congressos, festas, eventos, missas, até casamentos foram adiados. Também os hortifrútis foram afetados duramente: quando ficam maduros, precisam ser colhidos e consumidos, ou apodrecem. E isso depende da cadeia de distribuição, que foi perturbada pelo fechamento de estradas, entradas de cidades, postos de combustíveis onde se abasteciam os transportadores, e até pela redução do poder aquisitivo das maiores vítimas da Covid-19, os milhões de brasileiros que ficaram sem emprego e sem renda. Ações de governo estão sendo implementadas para mitigar este ponto específico, mas o estrago no campo já foi feito.

A cana-de-açúcar é o maior prejudicado, porque o consumo de etanol caiu até 70% por causa do confinamento, e seu preço despencou em função da queda do preço do petróleo. Governo e produtores estão em busca de soluções para essa catástrofe que afeta os milhares de trabalhadores de mais de 9 milhões de hectares no País inteiro.

E toda gente está pensando em como ficará o mundo depois do coronavírus, com prognósticos os mais diversos. Mas uma coisa é certa: a questão sanitária não tem recebido o cuidado indispensável nem em nível global e nem nos países de forma individual. A régua tem que subir bastante. Sociedades e governos precisam estar muito atentos para isso.

Quem sobreviver, verá.

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