23.08.19
Por Romualdo Venâncio
No Rio Grande do Sul, as redes de supermercados podem vir a abrir mão de seus açougues para trabalharem apenas com cortes já embalados. O objetivo é facilitar o manejo dentro das lojas, oferecer mais praticidade aos clientes, estimular o consumo e aumentar as vendas. Essa possibilidade foi compartilhada por Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), durante uma coletiva de imprensa da entidade para apresentar os resultados do primeiro semestre deste ano e as perspectivas para os setores de aves e suínos. “Eu, particularmente, adorei essa novidade. A mudança ajudaria muito a agregar valor aos produtos e a gerar mais empregos. Inclusive, a ideia poderia ter partido da indústria”, comentou o dirigente.
Um dos motivos da animação de Turra com essa pretensão dos gaúchos é o tímido crescimento no consumo de carne de frango e suína pelos brasileiros. A previsão da ABPA para este ano é que o consumo per capita de carne de frango fique em 41 quilos, retração de 2% em relação a 2018, e o de carne suína cresça entre 1% e 2%, podendo chegar a 19 quilos. “Se a economia não reage, o consumo também não aumenta”, lamentou Turra. Se para o mercado interno as perspectivas não tendem a passar por grandes mudanças, a expectativa em relação às exportações é bem diferente.
No caso da carne de frango, os números do primeiro semestre de 2019 são positivos, mas podem ser ainda mais. Entre janeiro e julho deste ano, foram exportadas 2,43 milhões de toneladas, volume 5,8% superior ao mesmo período de 2018, quando as vendas externas somaram 2,30 milhões de toneladas. Em termos de receita, o crescimento foi maior: quase 11% (10,8%). O faturamento nos seis primeiros meses de 2019 foi de US$ 4,07 bilhões, enquanto que em igual período de 2018 ficou em US$ 3,68 bilhões. Turra comemora as possibilidades de ampliação e abertura de mercado. Este ano, por exemplo, a Seara fez a primeira exportação brasileira de carne de frango para a Índia, uma carga de coxas e sobrecoxas (leg quarter). A perspectiva é de que o segundo semestre traga números ainda melhores.
No segmento de carne suína, as exportações entre janeiro e julho de 2019 somaram 414,5 mil toneladas, com avanço de 19,6% sobre as 346,6 mil toneladas do primeiro semestre do ano passado. Na mesma comparação, a receita cresceu 23,5%, passando de US$ 686,6 milhões para US$ 847,8 milhões. O fato mais relevante para o setor no mercado global tem sido o impacto da Peste Suína Africana (PSA) na China. Com base em projeções do Rabobank, a ABPA informou que a potência asiática pode perder metade de sua produção de suínos. Considerando que os chineses respondem por cerca de 50% do volume global, essa perda representaria um quarto da produção mundial. Os efeitos da PSA na Ásia devem ser maiores neste segundo semestre, pois, segundo Ricardo Santin, vice-presidente e diretor de Mercados da ABPA, ainda há um delay em relação aos dados sobre o cenário. “A situação toda abre uma grande oportunidade para o Brasil, tanto que desde janeiro a China é o principal destino da carne suína produzida por aqui. Da carne de frango também”, afirmou Santin.
As condições sanitárias são um diferencial do País frente ao mercado global. Segundo Rui Eduardo Saldanha Vargas, vice-presidente e diretor técnico da ABPA, essa condição fez o Brasil avançar como player em proteína animal, incluindo ovos, por não ter problemas com doenças que estão preocupando outros países, a exemplo da PSA. “O Brasil foi precavido e tem se antecipado a esses eventos sanitários, o que trouxe resultados positivos”, disse o executivo. “Mas ainda que ocorra algo assim, temos condições – públicas e privadas – de reagir rapidamente e controlar. Estamos em um momento bom de sanidade, mas não é algo momentâneo, faz parte de um processo”, acrescentou.
Todo esse cenário cria uma boa perspectiva de avanço no mercado internacional, mas sem deixar de lado a prudência. Isso porque ainda são aguardadas novas habilitações para plantas industriais, sobretudo vindas da China. “A indústria está pronta para retomar a capacidade ociosa, e há até novas empresas surgindo, investindo em plantas, só aguardando demanda e habilitação de novas plantas”, disse Santin.
A diretoria da ABPA acompanha de perto toda essa movimentação, mas, neste momento, divide a atenção com a organização do Salão Internacional de Avicultura e Suinocultura, o SIAVS 2019, evento que acontece de 27 a 29 de agosto, em São Paulo (SP), e reúne toda a cadeia produtiva dos dois segmentos. Turra comentou o trabalho feito pela entidade para convidar governadores – sete já estão confirmados – a participarem do SIAVS. “Poucos se deram conta da importância socioeconômica da avicultura e da suinocultura, como a relação das duas atividades com o desenvolvimento das cidades onde estão”, afirmou. O dirigente disse ainda que haverá uma dedicação especial durante o Salão para fortalecer a imagem dos setores junto ao público internacional, com um acompanhamento direto aos jornalistas estrangeiros. A expectativa para esta edição é de receber cerca de 30 mil visitantes vindos de 30 países diferentes, além de 1,6 mil produtores e 1,7 mil congressistas.
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