03.08.18
Um novo marco em Bem-estar Animal no abate Kosher já é realidade no Brasil e no Mercosul. É algo que se pode comemorar. A indústria do abate Kosher liquidou um antigo e persistente passivo de BEA.
A professora Temple Grandin visitou no dia 23 de julho um frigorífico no Uruguai que foi o primeiro do Mercosul a instalar o novo box rotativo Kosher (de fabricação local) atendendo à recente normativa israelense de BEA. Trata-se do Frigo Yi, situado na cidade de Durazno. Tive a satisfação de acompanhar a visita. Esta foi a terceira vez em um ano que estive com a professora Grandin, em função do tema do box rotativo.
Temple Grandin viajou ao Brasil e ao Uruguai para uma série de eventos realizados pelo professor Mateus Paranhos (UNESP – Grupo ETCO) e pela Professora Stella Huertas (Universidad de la República), que estão entre os mais importantes cientistas da área de Bem-Estar Animal. Ambos participaram da visita ao frigorífico para examinar o box em operação. Esse box uruguaio – que acomoda dois bois de uma vez – é uma versão aprimorada de modelos já existentes fabricados na Austrália e na Índia.
A norma israelense que exige a utilização de boxes rotativos para conter os bovinos para o abate Kosher entrou em vigor dia 1º de junho de 2018. Apesar da especulação de algumas indústrias, a data foi cumprida e a regra posta em prática. Como resultado, aproximadamente metade dos frigoríficos exportadores Kosher do Mercosul ficaram sumariamente suspensos. Assim que esses frigoríficos estiverem com as instalações em ordem podem voltar a exportar para Israel normalmente.
Entre aqueles que se adiantaram e conseguiram cumprir o prazo, a implantação do novo sistema tem seguido a contento. Naturalmente que uma mudança estrutural, que introduz novos equipamentos e modifica processos industriais, gera dificuldades na posta em marcha. Algumas plantas têm demorado algo além do normal, com um pouco mais de dificuldades de ajustes de equipamentos e baixa performance. Mas de modo geral, o mercado está funcionando e atendendo à nova norma.
Isso é razão para comemorar. Modificar o método de imobilizar os animais para o abate Kosher era uma necessidade antiga, e a tecnologia necessária está disponível há vários anos. Talvez essa não era a última fronteira em BEA que a indústria frigorífica do Brasil e Mercosul tinha que cruzar, mas certamente era uma que caía de madura.
Box rotativo duplo envolve alguns paradigmas. Os boxes rotativos no passado não eram aceitos como hoje pela comunidade do BEA. A professora Grandin passou a aceitar esse tipo de equipamento de contenção após descobertas científicas de que o boi leva um tempo mínimo de 10 segundos após o giro até começar a sentir vertigem. Vertigem causa desconforto, então seria uma questão em BEA. O outro paradigma é que alguns boxes duplos em utilização para abate Kosher nos Estados Unidos ganharam reputação negativa nos quesitos de BEA.
Há alguns meses atrás fui convidado pelo fabricante Otersin a conhecer o box rotativo duplo já em funcionamento. Tive boa impressão do equipamento quanto à conformidade com os princípios de BEA. Rapidamente tratei de comunicar à professora esse achado. Graças à professora Huertas foi possível viabilizar essa visita, histórica, pois uma das coisas que tirava o sono da Professora Grandin era o método de contenção de animais para abate Kosher na América do Sul. O proprietário do Frigo Yi, Martin Piñeiro e o proprietário da Otersin, Raul Cuevas, tiveram o mérito de receber essa visita, mas antes disso tiveram a coragem de submeter-se à avaliação da especialista Nº 1 no Mundo nesse tema.
Estive ao lado da Professora Temple Grandin durante toda a visita. Acabei naturalmente atuando como intérprete, em virtude das conversas anteriores com a professora sobre esse tema, e por conhecer os fabricantes, seus respectivos boxes e o tema geral da normativa de Israel. A professora Grandin ficou muito satisfeita com o design e funcionamento do equipamento, e elogiou reiteradamente os engenheiros da Otersin. Teceu elogios ao frigorífico também, pela boa operação do box rotativo e por alcançar a marca de ZERO vocalizações em mais de uma hora de observação do abate Kosher. Isso demonstra, também, um sistema de manejo de curral adequado aos preceitos de BEA.
São muitos os aprendizados que podemos ter de uma cientista tão iluminada como a Professora Temple Grandin. Quero comentar um em especial. Aos que costumam navegar pelo seu website (www.grandin.com) é normal ver artigos escritos há 10 ou 20 anos que foram recentemente editados. A professora Grandin está sempre disposta a revisar conceitos, testar novamente algum experimento.
A professora Grandin fez uma breve reunião de fechamento, com recomendações relevantes à melhoria contínua do processo de abate Kosher com o uso do equipamento rotativo. O desafio de alcançar os níveis corretos de BEA é uma tarefa diária, que depende de capacitação das pessoas da planta, dos rabinos que executam o abate – agora numa nova condição ergonômica – e de zelo com a manutenção dos equipamentos.
Clique aqui para conferir todas as #ColunasPlant.
TAGS: Bem-Estar Animal, Temple Grandin