A mulher, o vinho e o mar de Malta

Verão chegando aqui na Europa e eu só tenho a comemorar porque, definitivamente, amo calor e sol.


17.05.18

Viviane Taguchi é jornalista especializada em agronegócio, caipira com orgulho, especialista em instalações de chuveiros, viaja pelo mundo sozinha, e se sente desafiada a cada “você não pode fazer isso”.

Verão chegando aqui na Europa e eu só tenho a comemorar porque, definitivamente, amo calor e sol. Acordei cedo no último domingo, dia das mães, para ir para a praia. O sol já está bem simpático por aqui, mas ainda não me atrevo a entrar na água, gelada, geladíssima. Tão gelada que, se você colocar a sua garrafa de vinho em um buraquinho cavocado na areia, bem onde as ondas arrebentam, em dez minutinhos, ele está no ponto. E foi o que eu fiz.

Como aqui em Malta as praias são baías, cercadas de grandes paredões de pedras, só há ondinhas, e o risco da garrafa se perder no mar, é zero.  Eu já tinha observado algumas pessoas fazendo isso e lembrei da história do sorvete, que só foi descoberto porque um chinês abençoado esqueceu a sua sobremesa na neve e ela congelou. Então, pensei, deve dar muito certo com o vinho. E dá.

Ir para uma das praias do arquipélago sem um vinho a tiracolo é quase um pecado. Você pode comprar bons vinhos no supermercado (ninguém liga se você é mulher e enche o seu carrinho de bebidas alcoólicas – sim, eu fiz o teste – ou se está na praia, no bar, no restaurante, bebendo um vinho sozinha) por preços bem justos. Há vinhos importados da Itália, França, Portugal, Nova Zelândia e Austrália, Argentina e Chile (não achei os brasileiros). Mas quem faz sucesso aqui são os nacionais, que têm uma história tão particular quanto a própria ilha.

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Os vinhos malteses começaram a ser produzidos pelos fenícios por volta de 800 A.C, mas foram os Cavaleiros Hospitalários da Ordem de Malta que instalaram os primeiros vinhedos nos séculos XVI e XVIII, principalmente para produzir vinhos para as missas. Conversei com um especialista em vida, o Iven, (um maltês de quase 70, apreciador de vinhos, cervejas e boa comida – e é meu professor de inglês) que contou que até o período em que Malta era uma colônia (1964, do Reino Unido) esses vinhos não eram bons. Ele mesmo só passou a tomar vinhos malteses nos anos 1980, uns dez anos depois de os fazendeiros investirem em variedades internacionais de uvas.

A vantagem que Malta tem para produzir uvas é que, no verão, os dias tem até 12 horas de sol, clima quente, seco e influenciado pela brisa do mar. Isso faz com que as uvas amadureçam mais rápido. O solo de calcário também ajuda muito no cultivo de variedades como Cabernet Sauvignon, Merlot, Syrah, Sauvignon Blanc, Chardonay, Chenin Blanc e as nativas Ghirghentina e Gellewza. O que limita a produção é a falta de espaço para plantar mais vinhedos (Malta tem 316 km²). Uma propriedade considerada grande aqui tem, em média, 20 hectares.

São os malteses e os turistas que consomem quase toda a produção, mas vi vinhos malteses sendo vendidos na Itália e na Inglaterra, com os mesmos preços praticados aqui, os mais caros custam cerca de 20 euros, mas também há os de 5 euros. Por sugestão do Iven, eu comprei o Caravaggio (Cabernet Sauvignon), produzido pela Marsovin, a maior de Malta, por 16 euros. Por indicação do jornal, comprei o Medina (Chardonay Ghirgentina), feito pela Emmanuel Delicata, a vinícola mais antiga, por 8 euros, e por que eu acho chique pagar barato, comprei o Citadella, também feito pela Marsovin, por 4 euros.

Desfilei linda, leve e solta com meu carrinho cheio de vinhos pelo supermercado e mais ainda, quando os coloquei para gelar no buraco de areia. Ajeitei meus óculos de sol, suspirei alto e voilà. Ser mulher e tomar quantos vinhos você quiser, onde você quiser, do jeito que você quiser, deveria ser uma ordem para o seu bem-estar.

Cheers!

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