“Vai demorar para superar o trauma psicológico”

O empresário José Fava Neto, diretor-vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja de Goi


Edição 8 - 27.03.18

O empresário José Fava Neto, diretor-vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja de Goiás (Aprosoja Goiás), teve um início de 2018 amargo. Na madrugada de 12 de janeiro, 15 ladrões invadiram a fazenda dele de soja e milho, localizada no município baiano de Jaborandi, na divisa com Goiás, e deixaram um prejuízo superior a
R$ 1 milhão, decorrente, sobretudo, do roubo de defensivos agrícolas.

Fava Neto não estava na fazenda no momento do crime, mas, nos dias seguintes, ao conversar com seus empregados, diz ter tido a exata noção dos momentos de terror por eles vividos, sob a mira de revólveres e várias ameaças. Os bandidos invadiram a propriedade por volta da meia-noite, renderam funcionários e as famílias e agrediram dois seguranças. Deixaram o local por volta das 3 da madrugada. Os empregados conseguiram se libertar uma hora depois.

Leia também: Insegurança, a praga que tira o sono dos produtores

“Foi desesperador”, conta o empresário. “Já tive vários casos de furtos pequenos, mas é a primeira vez que funcionários são feitos reféns e ficam sob ameaça. Felizmente, não machucaram gravemente ninguém, mesmo os seguranças agredidos, porém o trauma psicológico vai demorar para ser superado.”

Segundo Fava Neto, os furtos e roubos cresceram tanto nas propriedades rurais, a ponto de as companhias de seguros se recusarem a fazer novos contratos com fazendas – restringem-se a renovar as apólices de quem já havia adquirido um plano anteriormente.

Além de ter de arcar com o prejuízo de R$ 1 milhão, o empresário explica que as perdas não param por aí.
Uma das primeiras providências tomadas após o roubo foi diminuir o estoque de defensivos, mas isso traz consequências logísticas difíceis de contornar, pois a reposição desse material não é feita na agilidade necessária ao plantio.

“Em clima tropical, usa-se muito defensivo agrícola. O sucesso da agricultura depende dele”, afirma o vice-presidente da Aprosoja Goiás. “Não usá-lo ou postergar sua aplicação por dois ou três dias significa prejuízo. Para piorar, quando chove naquela região da Bahia, as estradas ficam intransitáveis, o que atrasa a entrega de vários tipos de suprimento.”

O roubo à fazenda de Fava Neto também foi marcado por uma irônica coincidência. Ocorreu no primeiro dia da Operação Safra da polícia local, cujo objetivo era garantir a segurança das fazendas daquela região
do cerrado da Bahia. “Mandaram um helicóptero sobrevoar a área de minha fazenda, e ele quebrou, ficou dias à espera de peças para ser consertado”, desaponta-se o empresário. Dois dias depois, assaltantes roubaram agências bancárias em Correntina e Rosário, municípios próximos à fazenda. “A atenção da polícia voltou-se toda para esses
crimes”, resigna-se Fava Neto.

Em sua avaliação, embora bem-intencionada, a polícia “enxuga gelo” com seus poucos recursos: “Quando ela prende, o Judiciário solta. Nosso sistema é muito leniente. Só existe o roubo porque tem quem compra. No entanto, a investigação não chega ao receptador, que precisa ser punido severamente”.

Diante da incapacidade do Estado de prover segurança, Fava Neto sugere que se permita ao produtor rural o uso de armamento em suas propriedades, como alternativa à contratação de empresas privadas de segurança, cujo custo é altíssimo, em sua opinião.“O agronegócio é hoje, disparadamente, quem sustenta o Brasil. E o setor precisa receber de volta investimentos em segurança, em inteligência na investigação”, afirma. “Do contrário, continuaremos a ficar com aquele sentimento de revolta, incapacidade e tristeza, cada vez que somos informados em nossos grupos de WhatsApp de um roubo em fazenda, o que tem se tornado cada dia mais comum.”

TAGS: Crimes no Campo, Insegurança