Por Evanildo da Silveira
Com um rebanho de 5,9 milhões de cabeças em 2024 e uma produção estimada em 5,5 milhões de toneladas de carne suína para 2025, o Brasil ocupa a quarta posição no ranking global do setor, atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos. Mas esse desempenho enfrenta um obstáculo cada vez mais relevante: o calor. Em um país tropical e sujeito às mudanças climáticas, as altas temperaturas provocam estresse térmico nos animais, afetando produtividade, rentabilidade e qualidade da carne. Para ajudar os produtores a enfrentarem os efeitos do calor sobre os animais, pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP), desenvolveram o GRT Suínos, um aplicativo que avalia os riscos térmicos nas granjas e orienta as medidas necessárias para garantir o bem-estar dos suínos.
O GRT Suínos surge como um novo aliado tecnológico para a suinocultura, com potencial para transformar a forma como os produtores enfrentam o estresse térmico nos rebanhos. “A ideia nasceu da constatação de que, embora haja um volume crescente de pesquisas sobre riscos na suinocultura, elas são fragmentadas e carecem de uma abordagem integrada de gestão, especialmente diante dos efeitos das mudanças climáticas”, afirma Fabiano Gregolin, coordenador do projeto e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Bem-Estar, Ambiência e Zootecnia de Precisão (GBAZP), da Esalq/USP.
Segundo Gregolin, o objetivo do projeto foi criar uma solução tecnológica capaz de auxiliar os produtores na identificação, avaliação e gestão de riscos relacionados ao conforto térmico dos suínos. Foi assim que nasceu o GRT Suínos (sigla para Gestão de Riscos Térmicos), concebido como uma ferramenta de apoio à tomada de decisão nas granjas. “O calor provoca estresse térmico, compromete a homeostase e exige maior gasto de energia dos animais para manter a temperatura corporal”, afirma pesquisador. Homeostase é o processo pelo qual os organismos mantêm um equilíbrio interno estável, regulando funções como temperatura, níveis de glicose e pH, mesmo diante de variações no ambiente externo. Quando esse mecanismo é comprometido, há redução da conversão alimentar, queda na eficiência produtiva e aumento dos custos, o que impacta a rentabilidade, o bem-estar dos animais e a qualidade final da carne.
Desenvolvido para o sistema Android e baseado na metodologia Scrum, voltada à gestão colaborativa de projetos, o GRT Suínos já foi testado e validado por técnicos e estudantes da área. “O aplicativo propõe uma abordagem inovadora e integrada para a gestão de riscos térmicos nas granjas, com potencial de melhorar a produtividade, o bem-estar dos animais e a qualidade do produto final”, afirma Gregolin. Segundo o pesquisador, o grande diferencial do aplicativo está na capacidade de guiar o produtor na identificação, análise e avaliação dos riscos térmicos nas granjas. Ao final do processo, o sistema gera um relatório técnico com sugestões de ações corretivas. “Os testes indicaram alto nível de satisfação dos usuários e boa usabilidade, confirmando a eficácia e a aceitação da ferramenta”, afirma o pesquisador.
Gregolin destaca que o GRT Suínos foi desenvolvido para aliar ciência, tecnologia e praticidade. O uso é simples: o produtor insere dados sobre o ambiente produtivo, como estrutura da granja, sombreamento, ventilação, manejo e até a resposta dos animais ao calor. A partir dessas informações, o aplicativo gera um relatório técnico com os riscos identificados, sugestões de ações corretivas e orientações para o monitoramento contínuo do conforto térmico.
É fácil compreender as habilidades do app. O GRT Suínos funciona como um sistema de gestão de riscos térmicos, baseado em um mapa que identifica 172 riscos distribuídos em quatro grandes categorias – instalações, equipamentos, manejo e animal – e 27 subcategorias. O aplicativo permite ao usuário registrar dados, analisar ameaças ao bem-estar térmico e gerar, ao final, um relatório gerencial com orientações para a tomada de decisão. Segundo Gregolin, o desenvolvimento do aplicativo foi dividido em três etapas. “A primeira consistiu em uma revisão sistematizada da literatura, para mapear o estado da arte sobre gestão de riscos em suinocultura”, diz. “Na segunda, elaboramos um modelo inédito com base em ampla revisão bibliográfica e dados empíricos, resultando na construção de um mapa de riscos térmicos. A terceira etapa foi a criação, o desenvolvimento e a validação do GRT Suínos como ferramenta prática e funcional.”
Os testes confirmaram que o GRT Suínos é uma ferramenta inovadora, bem recebida pelos usuários. O aplicativo obteve alto índice de satisfação e foi considerado de fácil uso. “Trata-se de um avanço importante na introdução da gestão de riscos na suinocultura, com impacto positivo nas condições produtivas, tanto para os animais quanto para os profissionais do setor”, afirma Gregolin. “Além disso, abre caminho para novas pesquisas e inovações na área.”
Um dos diferenciais do app, segundo ele, é o alinhamento com padrões internacionais de gestão de riscos, como os definidos pela norma ISO 31000. A equipe da Esalq trabalha agora para tornar o aplicativo disponível nas principais lojas virtuais. “Estamos em busca de parceiros para viabilizar a disseminação da tecnologia. Acreditamos que essa ferramenta tem potencial para transformar a gestão da suinocultura no Brasil”, conclui o pesquisador.