Desde o fim de 2023, a Europa vem sendo palco de uma onda crescente de protestos por parte de produtores rurais. As motivações variam de país para país: na Polônia, Romênia e Bulgária, as manifestações foram impulsionadas pela insatisfação com a entrada de grãos ucranianos no mercado local. Na Holanda, o estopim foi uma mudança nas regras para o uso de nitratos. Em boa parte do continente, contudo, o descontentamento se voltou contra novas exigências ambientais e de sustentabilidade.
Um estudo recente ajuda a lançar luz sobre as origens desse mal-estar e a apontar caminhos possíveis para a formulação de políticas públicas mais equilibradas. Encomendado pela multinacional CropLife e conduzido pelo instituto Ipsos, o relatório Farmer’s’ Horizon 2025 entrevistou 2 mil produtores de nove países da União Europeia e traça um retrato revelador do turbulento cenário agrícola europeu. Para 82% dos entrevistados, a principal fonte de insatisfação está nas dificuldades financeiras. Eles reivindicam melhor acesso a crédito e subsídios, além de uma distribuição mais equitativa dos lucros ao longo da cadeia de valor – são medidas vistas como essenciais para manter a atividade viável em tempos adversos, marcados pela guerra e pelo aumento dos custos logísticos.
A burocracia excessiva também é um ponto de atenção: 57% dos agricultores ouvidos pedem sua redução. Já um terço dos participantes destaca a necessidade de maior acesso a pesquisa e a ferramentas eficazes, sobretudo insumos para proteção de cultivos e tecnologias digitais. Há também um interesse evidente por soluções inovadoras, como sistemas de automação, imagens de satélite e ferramentas que auxiliam nas tomadas de decisão. O preço, no entanto, ainda representa uma barreira difícil de superar para a maior parte dos produtores.
As mudanças climáticas também figuram entre as principais fontes de preocupação para os produtores rurais. Para 26% dos entrevistados, eventos extremos como secas prolongadas, enchentes, nevascas e ondas de calor estão entre os cinco maiores desafios enfrentados pela agricultura hoje em dia. Além de comprometerem a produtividade, essas ocorrências afetam diretamente a saúde financeira das propriedades. Nesse cenário, práticas como rotação de culturas, irrigação eficiente, agricultura regenerativa e monitoramento do solo despontam como alternativas viáveis. Para que essas soluções ganhem escala, no entanto, é fundamental que sejam economicamente acessíveis.
Apesar da complexidade do cenário, há sinais de esperança no horizonte. Após a onda de protestos entre 2023 e 2024, cerca de 40% dos agricultores afirmam ter percebido uma melhora na forma como a sociedade enxerga o trabalho no campo. No entanto, apenas 20% consideram que as autoridades responderam de forma adequada às demandas do setor. O relatório também revela que os produtores não são contrários às iniciativas de sustentabilidade: o que desejam, na realidade, é clareza sobre como as mudanças serão implementadas e apoio concreto para colocá-las em prática. A expectativa é que, com acesso facilitado ao crédito e às novas tecnologias, seja possível aumentar a produtividade de forma sustentável. Mas o recado é claro: se nada mudar, os agricultores estão dispostos a voltar às ruas.





