Plant + Marsh
Perdas na última temporada de queimadas e incêndios florestais poderiam ter sido minimizadas ou evitadas com um plano de prevenção estruturado. Frequência e severidade de eventos extremos exigem adaptação a novos riscos.
A temporada de queimadas e incêndios florestais no Brasil colocou em xeque a resiliência do agronegócio, que acumula perdas bilionárias e segue pressionado por uma crise climática sem precedentes. De acordo com o superintendente responsável pelo Interior de São Paulo da Marsh Brasil, Luciano Cardoso, o setor precisa se tornar capaz de antecipar e mitigar os impactos de eventos extremos, já que eles se tornarão cada vez mais intensos em frequência e severidade. “Historicamente, o agronegócio enxerga o risco mais sob uma ótica financeira, focando no crédito, custo de insumos e na variação de preços de commodities. Porém, os tempos mudaram e as ameaças às quais estamos expostos também. É imprescindível ampliar a visão”, afirma Cardoso.
O executivo alerta que o agronegócio brasileiro precisa incorporar ferramentas que outras indústrias já utilizam, como matriz de risco, planos de combate e resposta a emergências. Outra ferramenta é o plano de continuidade de negócios, estruturado para que a operação seja interrompida pelo mínimo tempo possível diante de um evento extremo. “A tecnologia entra nesses programas como uma grande aliada. Em nossas consultorias de risco, procuramos trazer toda nossa expertise global aliada a ferramentas que podem auxiliar no trabalho de prevenção, como sensores térmicos e câmeras rotatórias, que permitem monitorar grandes áreas e identificar focos de incêndio rapidamente”, afirma Cardoso. “Também precisamos preparar brigadas especializadas para o combate de incêndios florestais, treinadas e equipadas com ferramentas adequadas. O agro trouxe os drones para pulverização para chegar assertivamente em áreas pequenas e aplicar os defensivos, que podem ser grandes aliados no combate rápido a pequenos focos de incêndio, tudo isso integrado em um plano robusto de gerenciamento e prevenção de riscos.”
Além dos danos visíveis à infraestrutura e propriedades, Cardoso ressalta desafios adicionais como a perda de biodiversidade, a degradação do solo e a poluição do ar, que podem afetar a produtividade agrícola e a integridade física dos trabalhadores. A questão da responsabilidade civil também deve ser considerada em casos de incêndios que se espalham para rodovias ou propriedades vizinhas, podendo causar acidentes graves inclusive com perdas humanas. O risco cibernético é outro ponto de atenção, devido à crescente automação e digitalização das operações agrícolas. “Hoje, as colhedoras e tratores são automatizadas e operam via GPS. Se houver uma interrupção cibernética nos sistemas de controle, o tempo que se perde acaba impactando diretamente a produção”, ressalta.
A adoção de um plano de gerenciamento de riscos estruturado, além de evitar tragédias e perdas econômicas, também impacta positivamente o custo do seguro. “Seguradoras avaliam como os riscos são tratados antes de definir o valor das apólices. Se o produtor ou a empresa demonstrarem ter um sistema eficaz de prevenção e combate, o custo dos seguros atuais pode ser reduzido, mas o benefício pode ser muito maior. Podemos ter novos produtos muito mais abrangentes e modelados para os desafios que teremos pela frente ”, conclui o especialista.