Por Ronaldo Luiz
A fruticultura brasileira vive seu melhor momento nos mercados internacionais. Em 2024, os embarques de frutas ultrapassaram 1 milhão de toneladas e o faturamento somou US$ 1,38 bilhão – um avanço de 2,04% em comparação com o resultado do ano anterior, conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A precificação melhor das frutas nacionais nos mercados globais contribuiu para o aumento do valor médio nominal da tonelada comercializada em 3,4% em 2024, passando de US$ 1.217 em 2023 para US$ 1.258 no ano passado. Mangas, melões, uvas, limões e limas, além de nozes e castanhas, lideraram as remessas internacionais. Essas espécies representaram 68,9% do volume exportado e 70,6% da receita apurada. Melancia e mamão também apresentaram bom desempenho.
Os clientes das frutas brasileiras passaram de 130 para 138, sendo o grupo formado por Países Baixos, Reino Unido, Espanha, Estados Unidos e Argentina o principal, respondendo por 81,8% do volume embarcado e 78,2% das divisas obtidas. Somente os Países Baixos adquiriram 464 mil toneladas das exportações brasileiras de frutas em 2024, representando 37,3% do total embarcado. Isso se deve ao fato de, além do consumo interno, os holandeses redistribuírem grande parte do que importam para o varejo europeu. “Temos oferta, diversidade, sanidade, qualidade e sustentabilidade, e poderíamos exportar muito mais, já que temos potencial para dobrar, triplicar e até quadruplicar nossa produção, garantindo o abastecimento interno e gerando excedentes exportáveis”, diz o vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Waldyr Promicia. “Mas há o desafio da abertura de novos mercados e o protecionismo comercial.”
Apesar dos números positivos, que mostram a evolução do setor e posicionam o Brasil como o terceiro maior produtor mundial, a fruticultura nacional tem apenas 4% de participação nas vendas globais. “Somos apenas o 23º maior exportador mundial”, diz o dirigente, acrescentando: “As oportunidades são enormes. Para se ter ideia, estamos exportando até frutas de clima temperado, como lichia e mirtilo. Depois que a ciência agrária brasileira viabilizou o cultivo comercial em larga escala de uvas no Nordeste, não duvido que possamos produzir qualquer tipo de fruta por aqui”.
Nessa jornada, o Projeto Frutas do Brasil, desenvolvido pela Abrafrutas em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), programou uma série de ações estratégicas para ampliar a presença das frutas brasileiras nos mercados internacionais em 2025. A iniciativa prevê a participação em quatro grandes feiras internacionais: Fruit Logistica, em Berlim; Fruit Attraction, em São Paulo e Madri; e a Asia Fruit Logistica, em Hong Kong, na China. Além disso, o projeto contempla a organização do Frutas do Brasil Festival, em colaboração com influenciadores digitais e com o apoio das embaixadas do Brasil na Europa e na Ásia.
Essas feiras são algumas das principais vitrines globais do setor da fruticultura por oferecerem oportunidades diretas para conectar produtores brasileiros a importadores, distribuidores e consumidores de diferentes partes do mundo. Na Fruit Attraction Madrid 2024, o estande brasileiro foi eleito o melhor na categoria Países e Regiões, destacando-se entre 1.800 expositores concorrentes. Já o esforço do Frutas do Brasil Festival tem se mostrado, segundo a Abrafrutas e a Apex, uma ferramenta eficiente para promover os sabores, a diversidade e a qualidade das frutas brasileiras nos mercados-alvo. O envolvimento de influenciadores digitais, afirmam a entidade e a agência, bem como a parceria com as embaixadas, reforça a visibilidade do Projeto Frutas do Brasil e ajuda a conquistar novos públicos.
Na avaliação de Promicia, o acordo Mercosul-UE e, sobretudo, a legislação antidesmatamento europeia representam um desafio, mas, ao mesmo tempo, uma boa oportunidade para a fruticultura brasileira. “O cultivo de nossas frutas cumpre todos os requisitos de boas práticas que os europeus estabeleceram”, diz. “Estamos bem posicionados do ponto de vista do compliance socioambiental, com a adoção de certificações conceituadas, como a GlobalGap”, afirma o dirigente. Atualmente, as frutas brasileiras ainda enfrentam tarifas que variam entre 4 e 14% para ingressar no mercado europeu. Com o novo tratado, essas taxas serão parcial ou totalmente eliminadas.
Para o executivo de Desenvolvimento Setorial da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, Nilson Gasconi, as certificações relacionadas à origem do produto e à rastreabilidade dos processos são um ativo real de credibilidade quanto à sanidade, qualidade e sustentabilidade da fruticultura brasileira: “A tecnologia de código de barras oferecida por nós e adotada por exportadores de frutas tem padrão de reconhecimento mundial inequívoco e único, sendo capaz de abrigar informações desde os insumos usados nos pomares até o manejo do plantio, o processamento e a distribuição, chegando ao ponto de venda”.
Gasconi, porém, chama a atenção para o desafio logístico de armazenagem e transporte, que impacta a exportação de frutas, já que se trata de uma mercadoria perecível e que exige controle constante de temperatura. Segundo ele, essa questão demanda estruturas de câmaras refrigeradas, o que eleva os custos. A análise é compartilhada por dois de seus clientes: Carlos Lucato, sócio-proprietário da Citrícola Lucato, que trabalha com a produção de cítricos (laranja, limão e tangerina), e a Itaueira, famosa pela exportação de melão e que planeja iniciar embarques de melancias a partir deste ano.
No eixo Petrolina (PE)–Juazeiro (BA), o Vale do São Francisco é o maior polo de fruticultura do País, gerando cerca de 240 mil empregos diretos no campo. Foi a irrigação que viabilizou o cultivo local, responsável por boa parte da produção nacional de mangas. De acordo com dados da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia, o faturamento anual do setor na região é de cerca de R$ 2 bilhões, sendo R$ 800 milhões provenientes da exportação de mangas e uvas de mesa.
No Sul de Minas Gerais, tradicionalmente conhecido pela produção de café, uma nova cultura está ganhando espaço. A maçã, geralmente encontrada nas regiões mais frias do País, agora faz parte de um projeto da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG) para diversificar a produção agrícola e garantir uma nova fonte de renda aos agricultores. Com resultados animadores, os produtores participantes finalizaram a colheita da primeira safra, que somou 30 toneladas da fruta.
A iniciativa abrangeu municípios como Alfenas, Guaxupé, Monte Santo de Minas, Guaranésia e Arceburgo, promovendo a compra conjunta de mudas e garantindo assistência técnica aos agricultores, desde a escolha da área de plantio até o manejo das árvores. Segundo o coordenador técnico da Emater-MG e responsável pelo projeto, Kleso Franco Júnior, as variedades cultivadas – Eva e Princesa – foram desenvolvidas pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e escolhidas por sua adaptabilidade ao clima local, com um inverno menos rigoroso do que o das regiões tradicionalmente produtoras de maçã no Sul do Brasil. “A produção de maçã exige dedicação e acompanhamento técnico”, diz Júnior. “No primeiro ano de colheita, algumas plantas chegaram a produzir 15 quilos de frutos por pé, o que é muito significativo para uma cultura ainda em fase de teste nas propriedades dos agricultores.” Ao todo, foram plantados 1,5 mil pés de maçã em uma área de aproximadamente 2 hectares.
A proposta da Emater-MG foi além da maçã. Alguns produtores investiram em outras frutas de clima temperado, aproveitando a estrutura e o conhecimento adquiridos. Em Guaranésia, o cafeicultor Luís Celso Pedroso diversificou sua propriedade com maçã, pêssego e uva, em uma pequena área de 0,5 hectare. Segundo ele, a ideia é testar qual fruta melhor se adapta ao local. “A área que tenho é pequena para o plantio de milho e soja e muito sujeita a geadas, o que não é bom para o café”, afirma. “Então, estou fazendo esses testes. Estou gostando da experiência com a maçã, mas ainda é um aprendizado.” Ele conta que a primeira colheita de maçã rendeu 170 quilos da fruta, vendida para um feirante do município. A ideia é fazer os cálculos, avaliar custos e, provavelmente, aumentar o plantio na próxima safra. Os resultados iniciais mostram que a maçã pode ser uma alternativa viável no Sul de Minas, proporcionando maior rentabilidade aos pequenos produtores. “Além da venda da fruta in natura, já fomos procurados por produtores interessados em fazer o processamento das frutas na propriedade”, diz o coordenador da Emater-MG.
Sidinei Pessoa Magalhães, de 45 anos, é um apaixonado pela fruticultura e viu na atividade uma oportunidade de renda quando ainda era operador de máquinas pesadas. Há dez anos, escolheu o município de Tangará da Serra (MT) para investir na produção de bananas, que se consolidou como sua principal fonte de sustento para a família. “Eu decidi apostar na agricultura e tudo começou com um pequeno plantio de banana-maçã, e comecei a gostar”, diz. “Naquele momento, tive bons resultados, mas percebi que a produção poderia ser ainda melhor.” Motivado a aumentar a produtividade, Sidinei procurou a Assistência Técnica e Gerencial do Senar-MT depois de participar de um dia de campo no município. Durante o evento, conheceu Eduardo Carneiro Teixeira, técnico credenciado da instituição e especialista em produção de bananas. Com sua ajuda, Sidinei começou a aplicar técnicas de gestão que estão transformando os resultados da propriedade. “Quando iniciamos, a área era praticamente crua, apenas pasto e restos de um bananal de banana-maçã”, afirma Carneiro. “O principal ponto que trabalhamos foi o preparo do solo.”
Além de aumentar a eficiência, Magalhães também modernizou a propriedade com a instalação de um sistema de irrigação de ponta, a fim de garantir que toda a produção recebesse água de forma controlada. Com a orientação do Senar-MT, não apenas melhorou a produção como também adotou boas práticas ambientais. Ele obteve as licenças necessárias para o uso sustentável da água do rio, equilibrando produtividade e respeito ao meio ambiente. O produtor não esconde o orgulho ao falar de seus 8 hectares de banana: 5 dedicados à banana-nanica e 3 à BRS Terra-Anã. A colheita acontece semanalmente, com uma média de 100 a 200 caixas de banana-nanica e 50 a 100 caixas de Terra-Anã. Na gestão do negócio, ele conta com a ajuda das filhas, Anielle e Adriele, que auxiliam nas vendas e na emissão de notas fiscais.
O suporte técnico contínuo também faz a diferença no sucesso da produção. “Se temos dúvida sobre a aplicação dos defensivos, mandamos mensagem para o Eduardo e ele nos orienta”, diz Magalhães. Com planos de expandir o cultivo de banana-da-terra para alcançar uma média de 300 a 400 caixas por mês, ele está otimista. “A intenção é aumentar mais o plantio, porque, após os gastos com a irrigação, só teremos lucro.”