Agricultura Regenerativa: O Futuro Sustentável do Agro

A agricultura regenerativa é o tema em alta na agricultura mundial em 2025…
Edição: 48
1 de julho de 2025

Por Marco Ripoli

A agricultura regenerativa é o tema em alta na agricultura mundial em 2025, impulsionada pela necessidade de alimentar uma população crescente, projetada para atingir 9,8 bilhões até 2050, segundo estimativas da ONU, em um cenário de mudanças climáticas. Diferente dos métodos tradicionais, que dependem de lavouras intensivas, uso excessivo de químicos e monoculturas, essa abordagem restaura a saúde do solo, aumenta a biodiversidade e captura carbono.

A adoção de práticas agrícolas regenerativas vem ganhando força. Nos Estados Unidos, um estudo da Universidade Cornell aponta que a implementação de coberturas vegetais em 85% das terras agrícolas poderia sequestrar até 100 milhões de toneladas de CO? por ano, o que representaria uma redução de 18% nas emissões do setor. Na Europa, cerca de 30% dos produtores já experimentam o plantio direto, técnica capaz de aumentar a matéria orgânica do solo em até 0,5 tonelada por hectare anualmente. Já na Índia, o governo pretende converter 25 milhões de hectares para métodos sustentáveis até 2030, segundo o Ministério da Agricultura local.

A tecnologia está impulsionando essa mudança. Análises de solo baseadas em inteligência artificial melhoraram os rendimentos em 15% nas regiões de teste, e o uso de drones para o plantio de coberturas vegetais aumentou 40% desde 2022, de acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). A urgência é evidente – a agricultura representa 24% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Com eventos climáticos extremos atingindo 80% das áreas agrícolas no ano passado, a resiliência tornou-se inegociável.

A boa notícia é que os governos estão reagindo. O Acordo Verde da União Europeia tem como meta 25% da agricultura orgânica até 2030, e os Estados Unidos oferecem US$ 20 bilhões em subsídios para práticas regenerativas até 2026. Os consumidores também impulsionam essa demanda: 62% dos compradores globais agora preferem alimentos produzidos de forma sustentável, segundo pesquisa da Nielsen. Isso não é apenas uma tendência, mas uma estratégia de sobrevivência para a segurança alimentar e um planeta habitável.

No mundo, a agricultura regenerativa está se consolidando como resposta à degradação ambiental. Um relatório da McKinsey estima que, globalmente, a adoção dessas práticas em 20% das terras agrícolas poderia zerar as emissões líquidas de carbono do setor até 2050, capturando até 3 gigatoneladas de CO? por ano. Nos Estados Unidos, a General Mills comprometeu-se a converter 1 milhão de acres (cerca de 405 mil hectares) para a agricultura regenerativa até 2030, enquanto a PepsiCo planeja atingir 2,83 milhões de hectares no mesmo período.

No Brasil, 66% dos agricultores ja utilizam fertilizantes naturais e controle biológico de pragas

Na Austrália, fazendas de macadâmia regenerativas reduziram a necessidade de irrigação em 80%, dependendo quase exclusivamente de chuvas. Já na África, o Quênia lidera com iniciativas que integram agrofloresta, aumentando a produtividade em 20% em pequenas propriedades, conforme dados da FAO. A escala global impressiona: o mercado de agricultura regenerativa foi avaliado em US$ 8,1 bilhões em 2024 e deve crescer a uma taxa anual de 12%, alcançando US$ 18,3 bilhões até 2031, de acordo com a Kings Research.

No Brasil, a agricultura regenerativa se encaixa perfeitamente, aproveitando uma base já sólida. O País produz 30% da soja mundial e 15% da carne bovina, alimentando mais de 800 milhões de pessoas globalmente, segundo a Embrapa. Mais de 66% dos agricultores brasileiros utilizam biossoluções – fertilizantes naturais e controle biológico de pragas –, impulsionados pelo aumento de 150% no custo dos fertilizantes desde 2020 e por políticas como o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). O plantio direto cobre 35 milhões de hectares no Brasil, mais do que em qualquer outro lugar, evitando a emissão de 1,2 tonelada de CO? por hectare anualmente, conforme dados do Ministério da Agricultura.

O Cerrado, que abrange 2 milhões de quilômetros quadrados, é um exemplo de potência regenerativa – 40% de suas áreas agrícolas utilizam sistemas integrados de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), aumentando o carbono do solo em 0,8 tonelada por hectare ao ano, segundo a Embrapa. Um relatório recente da Um Só Planeta aponta que o Cerrado poderia gerar R$ 572 bilhões com agricultura regenerativa, impulsionando o PIB nacional. O Plano ABC+ do Brasil tem como meta restaurar 30 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030, e o objetivo de 2025 é reduzir as emissões em 48%. Leis rigorosas, como o Código Florestal, protegem 25% das terras rurais privadas, promovendo a sustentabilidade sem impedir o crescimento.

Os números brasileiros são ainda mais expressivos quando olhamos o impacto econômico e ambiental. Em 2023, o Brasil tinha 130 milhões de hectares de terras degradadas, mas a agricultura regenerativa já recuperou 5 milhões de hectares desde 2010, segundo a Embrapa. A adoção de bioinsumos cresceu 20% ao ano desde 2018, e 55% das propriedades familiares utilizam controle biológico, posicionando o País como líder mundial nesse quesito, conforme estudo da McKinsey.

A produção de soja em sistemas regenerativos no Mato Grosso aumentou os lucros em 12% por hectare, enquanto o uso de ILPF na pecuária elevou a produtividade de carne em 30%, de acordo com a CNA. Além disso, o Brasil exportou US$ 120 bilhões em produtos agrícolas em 2024, e 40% desse valor veio de práticas sustentáveis, atendendo à demanda de mercados como a União Europeia, onde 70% dos compradores preferem soja sustentável.

No entanto, desafios persistem. Apenas 6% dos US$ 12 bilhões em crédito rural concedidos em 2022 foram destinados a práticas de baixo carbono, e somente 20% dos pequenos produtores têm acesso a treinamentos, segundo o Banco Central. No mundo, a falta de uma definição universal de agricultura regenerativa dificulta políticas consistentes – a FAO reconhece a agricultura conservacionista, mas ainda não chancela o modelo regenerativo como padrão. No Brasil, a transição custa entre US$ 200 e US$ 300 por hectare, e pequenos produtores, que cultivam 30% das terras aráveis, recebem apenas 15% do crédito disponível.

Mesmo assim, os agricultores brasileiros são líderes globais e estão preparados para expandir. As implicações para os produtores são imensas. Métodos regenerativos podem aumentar a produtividade de terras degradadas entre 10% e 20%, algo essencial quando 15 milhões de hectares de pastagens estão subutilizados, conforme o IBGE. Métricas de saúde do solo, que serão lançadas em 2025 – como testes de carbono atingindo 500 partes por milhão –, podem desbloquear US$ 2 bilhões anuais em créditos de carbono se 20% das propriedades se qualificarem, estima a ClimateWorks. Os mercados de exportação estão famintos por produtos sustentáveis: 70% dos compradores da União Europeia preferem soja sustentável, e a participação do Brasil pode subir de 40% para 50% até 2030. A resiliência também se paga – solos saudáveis reduzem a perda de água em 25%, essencial em um cenário em que 60% das fazendas enfrentaram secas no último ano, segundo o Inmet.

Os custos, porém, pesam. Além do investimento inicial, a capacitação é um entrave. Globalmente, apenas 10% dos agricultores têm acesso a treinamentos em práticas regenerativas, e no Brasil esse número sobe para 20%, ainda insuficiente. Riscos políticos também existem – restrições ao uso da terra podem se intensificar, e o investimento estrangeiro, que caiu 12% desde 2022, pode desacelerar ainda mais. Se o Brasil restaurar os 20 milhões de hectares planejados, o impacto global será enorme, com 50 milhões de toneladas extras de grãos por ano, 10% a menos de emissões e economias rurais mais fortes. No mundo, a agricultura regenerativa poderia alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050 sem aumentar as emissões, desde que 30% das terras agrícolas adotem essas práticas. Para os agricultores brasileiros, essa é a chance de liderar – alimentando o mundo enquanto o regenera.

Marco Ripoli é diretor da PH Advisory Group e Bioenergy Consultoria

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