A escalada rumo ao topo

Altos índices de produtividade e qualidade elevada do algodão levam a cotonicultura brasileira a conquistar o posto de maior exportadora global
Edição: 45
6 de março de 2025

Por Thiago Galante

Ele está presente em nossas roupas, nos tapetes que decoram as salas, produtos de higiene, cédulas de dinheiro, óleos de cozinha e até mesmo na alimentação animal. Um olhar atento para o algodão brasileiro revela um produto multifacetado, de alta qualidade e reconhecido internacionalmente. Não à toa, em julho a cotonicultura brasileira alcançou um marco histórico. No final do ano comercial 2023/24, o algodão nacional juntou-se a soja, milho, laranja, café, celulose e cana-de-açúcar como as commodities agrícolas em que o Brasil detém o posto de maior exportador global. No período, foram enviados ao exterior 12,3 milhões de fardos, superando com boa margem os 11,7 milhões enviados ao exterior por produtores americanos, conforme dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Para o ano comercial 2024/25, estimativas preliminares do USDA, que são atualizadas mensalmente, sinalizam que o Brasil deverá manter esse posto, com uma distância um pouco mais justa, de 500 mil fardos. “A liderança foi fruto do investimento e da dedicação dos produtores, em parceria com a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea) e a ApexBrasil”, diz o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), Alexandre Schenkel. “Agora, é manter a posição e evoluir.”

A liderança, ressalte-se, foi alcançada 27 anos após o Brasil descer ao posto de segundo maior importador global da pluma. Na temporada 1996/97, a praga bicudo-do-algodoeiro quase dissipou a produção nacional, o que levou à necessidade de importação e ajustes nas lavouras.

Segundo os registros históricos da Abrapa, no final da década de 1970 o País cultivava pouco mais de 4 milhões de hectares de algodão, para colher menos de 600 mil toneladas de pluma. Na recém-encerrada temporada, os agricultores brasileiros semearam 1,9 milhão de hectares e colheram 3,6 milhões de toneladas. Em produtividade, houve um salto extraordinário de 266 kg/ha para 1.552 kg/ha no período. “Produzimos algodão em apenas 0,2% do território nacional, em áreas livres de desmatamento”, afirma Schenkel.

O caminho até o topo não foi fácil e, para isso, a Abrapa – que representa 99% da cadeia produtiva e 100% dos exportadores de algodão – estabeleceu quatro importantes pilares. O primeiro deles é a qualidade, que começa no campo e passa por todo o processo de beneficiamento nas indústrias, até chegar aos testes do Ministério da Agricultura para receber a certificação da Better Cotton e, assim, ser reconhecido internacionalmente.

Referência no assunto, a Fazenda Pamplona, unidade do grupo SLC Agrícola situada em Cristalina (GO), está atenta a cada detalhe desse processo. Um deles, conforme diz a coordenadora de produção Beatriz Ramos, é optar por plantar duas fileiras de milho, uma cultura de médio porte, na beira das estradas, a fim de evitar que a poeira gerada pelos caminhões que transitam na via “sujem” a pluma do algodão, que é semeado nas áreas mais internas das lavouras.

O segundo pilar da Abrapa é a sustentabilidade, que consiste na utilização total do algodão. Além da pluma, que é exportada e usada pela indústria têxtil nacional, o beneficiamento da commodity oferece outros subprodutos. Um deles é o caroço, aplicado na fabricação de óleo cru e no farelo voltado à alimentação animal. Além disso, há a fibrila, geralmente indicada para a produção de tapetes e panos de chão, e o línter, empregado na fabricação de tecidos mais rústicos, estofamentos, filtros e até mesmo pavios de pólvora e cédulas de dinheiro.

No quesito sustentabilidade, outro aspecto relevante é a busca pela produção sustentável. Nesse sentido, a Fazenda Pamplona construiu uma biofábrica para desenvolver e aumentar, ano após ano, o emprego de defensivos biológicos em substituição aos químicos. Segundo Marcelo Peglow, gerente da Pamplona, os biológicos já respondem por 15% dos defensivos utilizados. “Na próxima safra, vamos facilmente chegar aos 20%”, diz o executivo. Segundo ele, além de aumentar a produtividade, eles têm respaldo do mercado: “Os biológicos ajudam a agregar valor ao produto que vai para fora do Brasil”. Na safra 2023/24, a Fazenda Pamplona alcançou o recorde histórico de produtividade da SLC Agrícola.

O penúltimo pilar da Abrapa é a promoção, que tem a difícil missão de incentivar o consumo do algodão diante da expansão das fibras sintéticas. Com esse objetivo, a associação criou em 2016 o movimento “Sou de Algodão”, inicialmente voltado ao mercado interno. “Começamos pelo B2B, até chegarmos ao varejo e ao consumidor final, engajando a cadeia como um todo”, diz Silmara Ferraresi, diretora de Relações Institucionais da Abrapa e gestora do movimento.

A campanha começou com apenas dez apoiadores. Atualmente, 1,6 mil marcas de moda e vestuário compõem o portfólio. “Não adiantava a Abrapa falar direto com os consumidores finais sem a cadeia têxtil estar envolvida”, afirma Ferraresi. “Se nós não tivéssemos as marcas conosco, não adiantaria. Ninguém levanta da cama de manhã e diz que está doido para comprar uma camiseta de algodão.”

Apenas esse movimento, contudo, não era suficiente. No meio de sua curta trajetória, o “Sou de Algodão” ganhou um novo irmão – o Cotton Brazil. “Como fomos ganhando cada vez mais espaço lá fora, também precisávamos de um programa para falar com o mercado externo”, diz a diretora Institucional da Abrapa. “Por isso criamos o Cotton Brazil em 2020, para atuar nos principais mercados consumidores.” Com quatro anos de atuação, o movimento chegou a 11 mercados, participou de 50 eventos internacionais e contou com 500 clientes envolvidos, a grande maioria deles na Ásia, que é o destino de 95% do algodão exportado pelo Brasil.

Um tema recente, mas cada vez mais discutido no agronegócio, é a rastreabilidade, o quarto pilar da Abrapa. Pensando nisso, a Döhler, empresa têxtil de Santa Catarina com 140 anos de história, lançou em agosto as primeiras toalhas 100% algodão com rastreabilidade completa. Quem compra o produto pode escanear um QR Code fixado na etiqueta da peça e acessar todas as informações sobre o algodão utilizado para a confecção, desde o cultivo até a fiação, passando pelo processo de beneficiamento. O emprego de tecnologia blockchain garante a segurança e a integridade dos dados. “A aceitação do produto pelas redes varejistas foi muito boa”, diz Marco Aurélio Braga, head de Marketing e Comunicação da Döhler. Iniciativas como essa explicam por que o algodão brasileiro chegou ao topo do mundo.

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