Bioeconomia: caminho a ser trilhado

Há mais de um ano e meio, o coronavírus veio para embaralhar as cartas que estavam em muitas manga


Edição 27 - 10.12.21

Buckman
Buckman Chremistry, connected

Há mais de um ano e meio, o coronavírus veio para embaralhar as cartas que estavam em muitas mangas. Desfez planos, alterou rotas, desalinhou trilhos. E acelerou pautas que já eram urgentes antes da pandemia. Uma delas é o enfrentamento da escassez de recursos naturais e da degradação do meio ambiente, sobretudo pelas atividades industriais.

Nossa sociedade e o meio ambiente clamam por cuidado real. E nós, como iniciativa privada e sociedade civil, temos papel de agente transformador nesse cenário de incerteza. A jornada não será fácil, mas temos como escolher a rota que desejamos trilhar. A bioeconomia é um dos caminhos para essa transformação.

O consumo de produtos que utilizam matérias-primas sustentáveis não é apenas uma tendência, mas uma necessidade de sobrevivência da natureza e da humanidade. Países como a Alemanha já proíbem a comercialização de materiais plásticos que não sejam reciclados.

O reaproveitamento de 100% dos resíduos decorrentes da nossa operação industrial, que origina mais de 15 produtos – como matéria-prima para produção de cimento, serragem para painéis de madeira, corretivo de pH do solo e fertilizantes orgânicos – e gera emprego e renda a mais de 70 famílias, é um exemplo de iniciativa de economia circular que adotamos em nossa unidade industrial.

Em um grande projeto de bioeconomia recém-anunciado para modernização operacional da nossa unidade industrial de Guaíba (RS), que a tornará uma das mais sustentáveis do setor no mundo, estamos trabalhando para que a celulose não funcione apenas como matéria-prima para produtos já conhecidos ou mera fonte de receita. Os processos que serão implementados permitirão ganhos consideráveis para o meio ambiente e para a sociedade.

A lignina, conhecida como licor negro, material excedente do processo de cozimento da celulose, é utilizada na geração de energia elétrica, fazendo com que sejamos autossuficientes em produção energética. O excedente desse processo é comercializado à rede pública de energia, de modo que geramos anualmente energia capaz de abastecer um município de 50 mil habitantes por um ano.

A lignina, de forma geral, também começa a ser explorada no mercado para outros fins, podendo ser convertida em plástico durável para ser utilizado em aparelhos celulares, painel de automóveis e muitos outros equipamentos.

Já a celulose como um todo tem inúmeros usos e ainda pode se desdobrar na nanocelulose e na celulose solúvel – esta para indústria têxtil –, com a possibilidade de aumentar de 40 itens utilizados no cotidiano de uma família que tem como base essa matéria-prima para mais de mil itens confeccionados a partir dela.

Com as medidas de gestão e controle ambiental do BioCMPC, continuaremos sendo uma empresa zero resíduos, mas diminuiremos consideravelmente o volume de material gerado (composto químico originado na caldeira de recuperação) e eliminaremos 100% os resíduos de cinzas.

Para a região de Guaíba, durante as obras está prevista a criação de cerca de 7,5 mil novos postos de trabalho e a meta de atuar com cerca de 50% dos fornecedores com base na localidade, tornando esse o maior investimento em ESG em todo o Rio Grande do Sul.

Muitos outros ganhos estão por vir, entre eles o desligamento da caldeira de força a carvão, com redução prevista de 60% em emissão atmosférica, e um espaço digital para acompanhamento da performance ambiental da empresa.

Ter um compromisso com o coletivo e o meio onde se está inserido, com propostas robustas para a redução de ocorrências de eventos que gerem incômodos à comunidade e com melhores estratégias de governança socioambiental, é fundamental para uma retomada que gere e impulsione mudanças.

Tomar os ensinamentos atuais que a pandemia nos trouxe e direcioná-los à construção de uma economia mais do que sustentável, uma verdadeira bioeconomia, é crucial para alcançar um futuro mais promissor para todo o planeta.

*O executivo é formado em Engenharia Mecatrônica pela PUC de Minas Gerais, com MBA em Gestão Estratégica de Negócios pelo ITA-ESPM e especialização em Finanças Avançadas pelo New York Institute of Finance.