Entre um Gole e Outro

  Os novos vinhos do Chile. Dá para harmonizar vinhos com música, como fazemos com a comida?


30.04.21

Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio

 

Os novos vinhos do Chile. Dá para harmonizar vinhos com música, como fazemos com a comida? A taça ideal para o espumante. Rótulo vende vinho? E o vinho de vinícola Lamborghini. São os assuntos desta edição da coluna Terroir. Boa leitura.

O NOVO CHILE VINÍCOLA

O Chile vive uma revolução vinícola. À margem dos blockbusters do vinho chileno industrial, pequenos produtores estão fazendo vinhos incríveis – autorais, de terroir, quase artesanais. Ainda são pouco conhecidos no Brasil. Mas são esses vinhos, “feitos em escala humana”, que a importadora Novo Chile apresentou recentemente aos brasileiros.

Numa live com comentaristas de vinhos de várias partes do país, e com vinhateiros chilenos, provamos dois exemplares desta nova geração: um delicioso Pinot Noir da Patagônia Chilena, elaborado pela Trapi Del Bueno, e um elegante blend de Cabernet Sauvignon, Petit Verdot, Malbec e Cabernet Franc da Viña Laura Hartwig. Dois grandes vinhos de terroir com personalidades próprias marcantes – e bem diferentes do que o Chile tradicionalmente exporta.

Registro fotográfico de uma garrafa de vinho da vinícola Laura Hartwig.
VINHO LAURA HARTWIG EDICION DE FAMILIA CHILE 750 ML

VINHO HARMONIZA COM MÚSICA?

Um grupo cada vez maior de especialistas acredita que sim. Assim como certos vinhos combinam melhor com determinadas comidas, também haveria vinhos mais compatíveis com cada estilo musical. Eles se baseiam em muita experimentação.

Do mesmo modo como se descobriu que o vinho branco acompanha melhor um salmão do que uma picanha, também seria possível determinar qual vinho harmoniza melhor com rock, jazz ou música clássica.

Alguns pesquisadores até garantem que os sabores dos tintos podem ser potencializados com música mais “pesada”, como o rock. E que vinhos brancos, como o Chardonnay, harmonizam melhor com músicas energéticas. Será? O que você acha?

A MELHOR TAÇA PARA O ESPUMANTE

ESTRADA ANTIGA, VIOGNIER 2020

Por que os apreciadores de espumantes têm preferido taças mais bojudas em vez das tradicionais “flûtes”? Experts sustentam que o gás carbônico do espumante precisa de uma “câmara” maior para se expandir, antes de chegar ao nosso nariz. Na taça flûte, o gás – sem espaço para expansão – subiria mais rapidamente e se volatizaria antes que pudéssemos apreciar todos os aromas da bebida.

É o que alguns chamam de “Efeito Chaminé”: a compressão faz aumentar a velocidade vertical do gás em direção à boca da taça. Eu aderi à taça bojuda para champagnes e espumantes mais evoluídos. Para os charmats do dia a dia, no entanto, a taça flûte continua valendo.

A IMPORTÂNCIA DO RÓTULO

Diante da enorme oferta de vinhos nos supermercados e lojas o consumidor pouco familiarizado com o universo de Baco às vezes se vê completamente perdido. Que vinho levar para casa? O impasse, não raramente, acaba sendo solucionado pelo…rótulo.

Ok, ninguém bebe rótulo. Mas um rótulo bem desenhado, informativo e sugestivo pode, sim, sacramentar a decisão de compra. Em dúvida entre duas garrafas semelhantes, quem nunca comprou um vinho pelo rótulo? Portanto, amigos vinhateiros, vamos caprichar nos rótulos. Eles são o cartão de visitas de seus vinhos. Além de informar o consumidor, têm de ser criativos e, claro, bonitos.

LAMBORGHINI E VINHO

Registro fotográfico de um catalogo de Lamborghini em cima de uma mesa de madeira.
FOTO – CATÁLOGO LAMBORGHINI

A história da Lamborghini todo aficionado por carros esportivos conhece: o agricultor italiano Ferruccio Lamborghini ganhou muito dinheiro fabricando tratores, e um dia comprou uma Ferrari. Não gostou do câmbio e foi reclamar ao próprio Enzo Ferrari.

O Comendador, ofendido, lhe disse:“Se não gosta da minha Ferrari, faça um carro melhor”. O orgulhoso Ferruccio aceitou o desafio – e desta rixa nasceu um dos melhores supercarros do mundo.

O que pouca gente sabe é que Ferruccio Lamborghini foi, até sua morte, em 1993, um dedicado vitivinicultor. E que seu vinho mais conhecido, o Bull’s Blood, trazia desde o início no rótulo o mesmo símbolo de suas supermáquinas: um touro em investida.

 

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