Edição 21 - 26.08.20
Com baixa toxicidade, os bioinsumos são aliados do agricultor na lavoura e atendem à demanda da sociedade por frutas e verduras produzidas com baixo impacto ambiental
Uma pesquisa realizada em 2019 pela consultoria Euromonitor Internacional indicou o consumo consciente como uma das principais tendências para o mercado de alimentos nas próximas décadas. É um conceito amplo, com várias implicações, da lavoura à mesa. Segundo o estudo, os consumidores buscarão cada vez mais produtos de origem rastreada, cultivados sem agressão ao meio ambiente e dentro de padrões mais rigorosos de saudabilidade. Para a imensa cadeia da horticultura, a tendência traz uma série de desafios que precisam ser enfrentados em curto prazo. O maior deles é demonstrar que o uso de insumos, tão necessário para a obtenção de produtividades maiores, é feito de forma cada vez mais segura e sustentável.
Atenta a essa tendência e aos desafios dos produtores, a indústria de defensivos agrícolas tem oferecido respostas efetivas. Uma das mais relevantes é o investimento em produtos biológicos, cuja utilização está em franca expansão. Só o segmento de defensivos biológicos movimentou R$ 675 milhões em 2019, um salto de 31% em relação ao ano anterior, segundo dados da Croplife, entidade que reúne indústrias e associações de vários setores do agro. Hoje, o Brasil tem 79,2 milhões de hectares plantados de acordo com o IBGE. Deste montante, 20 milhões de hectares são tratados com biodefensivos, segundo a indústria da área. “Até 2015 existiam apenas 107 registros. Em 2019, foram registrados 43 produtos e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) já concedeu 28 registros até junho deste ano”, diz Amália Borsari, diretora executiva de Biológicos da Croplife Brasil. Para Giampaolo Buso, presidente do conselho da PMA Brasil, associação de produtos agrícolas frescos e flores, “é um caminho necessário, extremamente relevante e sem volta”.
Em maio passado, o Mapa lançou o Programa Nacional de Bioinsumos para impulsionar o uso desses recursos na agropecuária brasileira. A expectativa é de que o setor ganhe musculatura com a nova política governamental. De acordo com Mariana Vital, coordenadora do programa de Bioinsumos do Mapa, a iniciativa é uma resposta à demanda da sociedade. “Em especial, a dois públicos: consumidores e produtores rurais que buscam por insumos e produtos de menor impacto econômico e ambiental”, diz.
Produtos frescos, como frutas e verduras, estão entre os maiores beneficiados pela nova política. Eles são cada vez mais consumidos – segundo ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a participação da categoria no faturamento das redes saltou de 8,2% em 2018 para 9,1% no ano passado. Mas são também os hortifrútis os que mais recebem atenção dos consumidores em relação à presença de resíduos químicos. Os produtores, por sua vez, dependem de insumos para protegê-los de pragas na lavoura e até mesmo para ampliar a sua aparência e qualidade após a colheita e nas prateleiras do varejo. Os bioinsumos surgem como soluções que atendem às demandas aparentemente inconciliáveis de horticultores e consumidores.
Um bom exemplo é o Eco-Shot, o fungicida biológico voltado à hortifruticultura desenvolvido pela Ihara. O produto tem por diferencial ser o único biológico do mercado com registro para uso em pós-colheita. Isso significa que ele pode ser usado até mesmo no dia da colheita do alimento e também no tratamento pós-colheita no packing house, por não demandar um intervalo de segurança entre a aplicação e o consumo. Além de proteger a planta de fungos, o Eco-Shot prolonga o tempo de prateleira das frutas, verduras e hortaliças e não tem impacto algum nos limites máximos de resíduos permitidos, nem restrição para exportações.
O potencial de produtos como esse é imenso. Ele pode ser aplicado em diferentes culturas e climas, atendendo a produtores de todo o Brasil. “O Norte é a região que tem menos produtores. Já o Nordeste é importante na produção de frutas para exportação. O Sudeste tem vários cinturões verdes de produção de verduras e o Sul é um grande player de batata e cebola”, diz Marina Marangon, analista de mercado de HF do Cepea. Os dados do segmento são bastante pulverizados, mas só para se ter uma ideia, o tomate de mesa – principal hortaliça produzida no país – é cultivado em cerca de 50 mil estabelecimentos rurais de acordo com o IBGE.
O empresário José Nelson Mallmann é um dos grandes produtores. Ele tem 700 hectares de lavouras de tomate de mesa espalhados em propriedades em São Paulo e Minas Gerais. Grande entusiasta dos bioinsumos, o agricultor começou a usá-los há oito anos. “Onde posso, uso biológicos para controlar pragas e doenças. Só uso químicos em situações extremas”, diz o proprietário da Tomates Mallmann e presidente da Comissão Nacional do Tomate de Mesa (CNTM). O próximo passo é tentar agregar valor ao produto. “Estamos começando a levar a informação de como o tomate foi produzido para o consumidor, o supermercado, até pouco tempo, só via preço”, diz.
Por ser um país tropical, o Brasil tem a vantagem de ter duas, em algumas regiões, até três safras por ano. Por outro lado, o mesmo calor que propicia uma colheita farta, quando associado à umidade, favorece a proliferação de fungos que podem causar perdas severas na lavoura. Neste contexto, ter um bom controle desses microrganismos é essencial para o agricultor fechar no azul. Em Farroupilha, no Rio Grande do Sul, o viticultor Valdecir Magnaguagno utiliza o Eco-Shot para combater o mofo-cinzento. “Eu usei quando os cachos começaram a aparecer, o produto limpou bem e segurou mais a uva, ficou uma fruta bem melhor”, diz. Já o agricultor Manoel Bastos, que planta hortaliças em América Dourada, na Bahia, constatou melhorias no aspecto do alimento colhido. “A cebola ficou mais firme, mais saudável”, explica.
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