Edição 20 - 26.05.20
Por Rubens Barbosa, presidente-executivo da Abitrigo – Associação Brasileira da Indústria do Trigo e presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior (Coscex) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)
A indústria do trigo também está sendo afetada pela crise econômica em consequência da epidemia do coronavírus. Sendo a alimentação uma atividade essencial, indispensável ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, o principal foco dos moinhos neste momento é o de garantir o abastecimento de toda a cadeia do trigo – supermercados, atacados, padarias, indústrias de massas, biscoitos, pães industriais e bolos e demais canais de food service. Os estoques de matérias-primas, embalagens e materiais auxiliares estão em nível compatível com as vendas, agora afetadas pela crise. O fluxo de recebimento desses materiais continua ocorrendo normalmente, apesar de medidas isoladas de fechamento de fronteiras estaduais ou municipais.
As empresas adotaram as melhores práticas divulgadas pelos órgãos de saúde do Brasil e do exterior, de forma a garantir a segurança de seus colaboradores e consumidores. Além do processo de industrialização do trigo ser bastante automatizado e sem intervenção manual, os procedimentos adicionais garantem a segurança alimentar dos nossos produtos. O setor está atento às principais medidas dos governos, em todos os níveis, principalmente às que se referem ao transporte público e à circulação do transporte de cargas, que afetam tanto a distribuição dos produtos finais quanto o abastecimento de matérias-primas e insumos de produção.
Importante ressaltar que 60% do trigo consumido no Brasil é importado e depende do funcionamento normal dos portos brasileiros e estrangeiros. Além das dificuldades que a pandemia traz a todos os setores, a grande desvalorização cambial, combinada com o aumento do custo de reposição do trigo, traz grandes desafios ao setor.
Para enfrentar a vulnerabilidade da economia e a segurança alimentar dos consumidores, representada pela dependência do mercado externo para garantir o suprimento da farinha em decorrência da limitada produção nacional, a Abitrigo formulou uma proposta de política nacional para o trigo, envolvendo governo, agências reguladoras, organismos internacionais, academia, sindicatos, entidades empresariais, parceiros potenciais e mídia.
A proposta de uma nova política para o setor – entregue oficialmente ao governo atual – levou em conta, em especial, as seguintes condições internas:
- Produção estagnada nas regiões tradicionais, plantio em novas áreas (norte do Cerrado, Bahia, São Paulo e Minas Gerais);
- Consumo estagnado de farinha, que, com a recuperação da economia, tenderá a crescer;
- Viabilização de novas variedades de sementes para novos produtos (a exemplo dos EUA);
- Desenvolvimento de variedades resistentes ao fungo brusone e giberela, pela Embrapa e outros obtentores.
O objetivo central da proposta de uma Política Nacional do Trigo é o de aumentar a produção interna, reduzir a dependência do Brasil em área tão estratégica e possibilitar uma variedade maior de sementes, preservando o livre mercado.
Espera-se que o governo federal, através dos ministérios da Agricultura e da Economia, em coordenação com o setor privado, possa levar adiante essa proposta, em linha com as preocupações da FAO quanto ao risco de tensões no sistema alimentar global pós-coronavírus.
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