Edição 14 - 19.04.19
Por Romualdo Venâncio e André Sollitto
A integração tende a ser cada vez mais ampla e intensa na área de melhoramento animal. “A genética já é um segmento bastante relacionado com a tecnologia”, comenta Sergio Saud, diretor executivo da Genex. Para ele, ainda que muitas ferramentas provoquem olhares desconfiados, basta que cumpram suas propostas para que a aceitação e a adesão sejam apenas uma questão de tempo. “Imagina quando se falou em congelar sêmen bovino, colocar as doses em um recipiente do tamanho de uma carga de caneta e que dali poderia surgir um bezerro”, compara.
A matriz da Genex nos Estados Unidos, que é uma cooperativa, gerencia dados de 20 mil fazendas. “Ou seja, são 20 mil rebanhos. E temos dados de tudo, como produção e sanidade. São aproximadamente 30 milhões de vacas no banco de dados”, destaca Saud. Essas estatísticas abastecem, por exemplo, um dos aplicativos fornecidos pela empresa, o Dairy Bull Search, que reúne informações de 45 mil touros das raças leiteiras Holandês, Jersey, Pardo-Suíço, Ayrshire, Guernsey e Milking Shorthorn.
No caso das centrais de genética, os aplicativos em smartphones se tornaram uma opção prática e fácil de manter nas mãos dos pecuaristas a listagem de reprodutores sempre atualizada. Ainda que o processo de seleção de touros seja baseado em três provas por ano (no caso dos EUA), o usuário fica sabendo imediatamente quando um novo reprodutor é adicionado. Essas informações podem ser inseridas no programa de gestão da fazenda. Saud vê nessa integração uma valiosa contribuição para superar alguns gargalos da pecuária. “Um dos grandes limitantes do setor é a falta de gestão, pois muitos criadores ainda não sabem se estão ganhando ou perdendo”, diz ele.
O executivo da Genex, que também é presidente da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia), comenta que a evolução é uma reação em cadeia. “Tem caído muito o custo de desenvolvimento das ferramentas como aplicativos e softwares, isso facilita o avanço”, afirma. É o que se vê pela diversidade de programas oferecidos pelas empresas de genética bovina para auxiliar o pecuarista na gestão do melhoramento genético. A partir de um histórico do rebanho, esses sistemas praticamente decidem o “match” entre as vacas e os touros, economizando tempo e aumentando consideravelmente as chances de acerto. Isso pode estimular o crescimento do uso da própria inseminação artificial, que, apesar das diversas vantagens zootécnicas e econômicas, com participação pequena no custo total de produção, ainda é uma técnica relativamente pouco utilizada, considerando o tamanho do rebanho brasileiro.
Se de um lado há pecuaristas que ainda desconsideram o uso da inseminação, de outro cresce o grupo dos que apostam alto nos avanços da genética. “O que tem de mais moderno em termos de acasalamento é a avaliação genômica. Com essa tecnologia, o criador passou a ter uma auditoria genética de seu rebanho”, explica Márcio Nery, diretor da central de biotecnologia ABS. Segundo o executivo, a partir dos marcadores moleculares o setor passou a usar a ciência para definir a cabeceira, a parte mediana e o fundo do criatório, algo que era realizado de forma visual, empírica. “E a era digital deu mais robustez aos algoritmos que fazem essa análise genética, acelerando a resposta.
Em uma fazenda onde todo o rebanho tem avaliação genômica, basta inserir o código de cada indivíduo no programa de melhoramento que você já vai saber quem é o pai, a mãe, o avô, o bisavô, se há consanguinidade e várias outras características”, acrescenta. Todo esse processo leva em consideração o comportamento dos animais e das raças, pois há diversas características distintas para as diferentes raças, tanto de gado de leite quanto de corte. A seleção genética considera fatores isolados conectados a vários outros com pesos diferentes.
Uma das principais vantagens dos marcadores moleculares para a pecuária é permitir que a seleção seja cada vez mais específica, pontual, quase que cirúrgica. Quando se conhece a exata relação entre os genes e as características mais desejáveis do ponto de vista produtivo e econômico, o caminho até o rebanho ideal vai perdendo os desvios – fica mais rápido e certeiro. É esse o padrão que se busca no mundo CowTech.
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Infográfico – Os Olhos do Dono – A tecnologia digital que auxilia a tomada de decisões na pecuária
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