18.02.19
Por ROMUALDO VENÂNCIO
O Brasil tem potencial para produzir mais de 3 bilhões de toneladas de peixes de cultivo e disputar as primeiras posições do mercado mundial. Essa é a visão de Francisco Medeiros, presidente-executivo da Peixe BR, a Associação Brasileira de Piscicultura. Mas o dirigente deixa claro que para chegar a tal condição, ainda será necessário incorporar novos pacotes tecnológicos à atividade, intensificar a produtividade e superar questões burocráticas. Os resultados do setor no ano passado mostram que há espaço para tal expansão, mas também muito a ser feito. Em 2018, a produção brasileira de peixes de cultivo passou de 722,5 mil toneladas, 4,5% a mais do que em 2017, quando o resultado foi de 691,7 mil toneladas.
As informações estão na recém-lançada edição de 2019 do Anuário da Piscicultura Brasileira, produzido pela Peixe BR. Segundo dados da publicação, a tilápia segue como a espécie mais relevante no País, puxando o crescimento do setor. Em 2018, foram produzidas quase 400,3 mil toneladas, o que representa 55,4% de toda a produção brasileira de peixes de cultivos e avanço próximo de 12% na comparação com o ano anterior. Com essa marca, o Brasil manteve a quarta posição no ranking mundial de produção de tilápia, atrás de China (1,8 milhão de toneladas), Indonésia (1,25 milhão) e Egito (900 mil). A expectativa da Peixe BR é de passar de 450 mil toneladas neste ano.
A produção de peixes nativos teve retração de 4,76% em relação a 2017. No ano passado, o segmento somou 287,9 mil toneladas, quase 40% da produção total, com destaque para o tambaqui. Medeiros explica que essa queda é consequência, principalmente, da forte redução nos estados do Amazonas, por conta de problemas sanitários, e em Rondônia e Mato Grosso. “Necessitamos urgentemente que todo o setor produtivo discuta, de uma maneira muito séria, como resolver os problemas. Não estamos avançando, por exemplo, no mercado interno onde já há o consumo do tambaqui”, comentou o dirigente. A produção de outras espécies de cultivo, como carpa, panga e truta, chegou a 4,6%, ou quase 34,4 mil toneladas.
COMPROMISSO OFICIAL
Foi exatamente por essa necessidade de discutir e implementar soluções que o lançamento do anuário da Peixe BR contou com a participação de Jorge Seif Júnior, responsável pela Secretaria Nacional de Pesca e Aquicultura, órgão vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na verdade, antes da apresentação da publicação o secretário foi convidado pela entidade para conhecer melhor as dimensões do setor. Seif, que vem do segmento de pesca industrial, passou alguns dias em companhia da equipe da Peixe BR visitando unidades de produção nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
O secretário se disse encantado com o que viu e contou que até experimentou a parte prática do manejo. “Uma das coisas que mais me impressionaram nessa imersão foi vacinar peixe. A gente descarrega peixe e não imagina que peixe toma vacina”, disse ele, afirmando que está entre as metas da Secretaria, e do governo brasileiro, fazer o brasileiro comer mais peixe e o setor crescer.
Segundo Seif, a importância do setor e esse compromisso motivaram a ampliação da estrutura da Secretaria de 9 para 25 funcionários. O secretário afirmou ainda que vai usar a “transversalidade” – palavra muito usada no Mapa, segundo ele – para buscar em outros órgãos o que necessitam para solucionar as questões do setor. “Temos 168 projetos com a Marinha. Para resolvê-los vamos apresentar o quanto estamos deixando de produzir, por exemplo”, disse. “Vou levantar da cadeira e bater nas portas que for preciso”, acrescentou. Considerando o potencial de crescimento da atividade e sua relevância para a economia nacional, tal comprometimento é o mínimo que se espera das autoridades.
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