01.03.18
Por Luiz Fernando Sá
O resultado já era esperado. O anúncio, pelo IBGE, dos números consolidados do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017 confirmaram a expectativa da retomada do crescimento econômico no Brasil. O indicador mostrou uma evolução de 1% ao longo do ano passado, em relação ao mesmo período de 2016. Também já se imaginava o protagonismo dos números do agronegócio, tradicional locomotiva dos nossos resultados, no desempenho da economia. O que surpreendeu, porém, foi a potência dessa locomotiva: no placar das contribuições dos setores para o crescimento, o agro mais uma vez imperou, com um avanço de 13% em 2017 (contra 0% da indústria e 0,3% dos serviços). Foi a maior variação positiva do segmento desde 1996, proporcionada por safras recordes de grãos, sobretudo soja e milho.
A avaliação do IBGE reflete, no entanto, apenas parcialmente o efeito do agronegócio sobre a economia. O PIB industrial, por exemplo, ficou estável também graças à produção e às vendas de empresas que fornecem para a agropecuária ou beneficiam os produtos que saem das fazendas. Fabricantes de insumos — como fertilizantes e máquinas — ou a indústria alimentícia são incluídas nas contas do setor industrial, segundo a metodologia do instituto. Assim, nos dados oficiais, o agronegócio responde por cerca de um quarto do PIB nacional. Quando se inclui todos os agentes envolvidos nas cadeias de produção antes e depois da porteira, essa participação pode chegar a quase 50% do total. Um exemplo disso é um cálculo feito pela montadora de caminhões Mercedes-Benz no ano passado: a safra recorde de 219 milhões de toneladas de grãos adicionou 32,5 milhões de toneladas em cargas a serem transportadas — e para isso é preciso mais caminhões (indústria automobilística) e transportadoras (serviços). Líder do segmento, a empresa sentiu na prática esse reflexo. Em janeiro de 2018, a marca comercializou 430 caminhões extrapesados — os mais usados para transporte de grandes volumes de carga, como exige a safra de grãos — aumento de 305% sobre as vendas de janeiro de 2017.
Outro indício relevante sobre o impacto do agro sobre a economia está no impressionante crescimento, a ritmo chinês, verificado nas principais regiões produtoras. Maior produtor de grãos do Brasil, o estado do Mato Grosso, por exemplo, apresenta taxas de incremento econômico próximas a 14%. Foi esse o resultado obtido no terceiro trimestre de 2017, quando comparado ao mesmo período do ano anterior, segundo estudo da Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan). Entre os setores da economia local, a agropecuária cresceu 49,8%, a indústria 2,6% e serviços 1,7% no trimestre.
Estimada em meio trilhão de reais, a supersafra do ano passado reacendeu o debate em torno de uma possível “agrodependência” do Brasil (leia reportagem da edição 03 da Plant sobre o tema). Ao mesmo tempo em que se beneficia imensamente dos resultados da produção agrícola, o país oferece poucas contrapartidas em investimentos em infraestrutura, que tornariam mais competitivos nossos produtos, e em políticas para agregar valor às commodities. Esses investimentos, como se prova a cada ano, teriam resultado garantido.
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