Semeadura no deserto

Arábia Saudita  Governo da Arábia Saudita lança programa para transformar 44 hectares áridos em


Edição 38 - 07.08.23

Arábia Saudita 

Governo da Arábia Saudita lança programa para transformar 44 hectares áridos em estufa capaz de produzir 25 milhões de plantas 

Como maior exportador e segundo maior produtor global de petróleo, a Arábia Saudita sabe que precisa diversificar sua economia em um cenário de grandes mudanças. Há uma onda crescente de investimentos em tecnologias verdes, governos buscam cada vez mais fontes renováveis de geração de energia e as fabricantes de veículos vêm abandonando os modelos movidos a combustão por alternativas elétricas ou, no mínimo, híbridas. Foi nesse contexto que surgiu a Visão 2030, um projeto de grandes proporções elaborado pelo governo árabe para diversificar as áreas de investimento, as fontes de receita e, consequentemente, ampliar os serviços públicos de saúde, educação, infraestrutura e turismo.  

Nenhuma iniciativa é tão impressionante quanto a transformação de 44 hectares de deserto em uma estufa capaz de produzir 25 milhões de plantas até o final da década. De fato, o projeto é ambicioso. Segundo Grant Shaw, um dos diretores da Red Sea Global (RSG), empresa responsável pelo empreendimento, nada semelhante foi feito antes – em nenhum lugar do mundo, ressalte-se. Contudo, o executivo garante que a investida é viável.  

Para assegurar a produção de alimentos, estão sendo construídas grandes estufas, dotadas de tecnologias capazes de manter a temperatura nos níveis ideais e aproveitar a escassa água de forma inteligente. Nas estufas, sensores apontarão a quantidade exata de água no solo, o que evitará desperdícios, e monitores climáticos cortarão o sistema de irrigação quando houver previsão de chuva. O complexo contará ainda com áreas destinadas ao cultivo de mudas, com capacidade para mais de 30 mil até 2030, e um sistema para embalar automaticamente frutas e verduras. Serão cultivadas variedades já adaptadas ao clima do deserto, selecionadas a partir de amostras testadas de cultivos locais, além de espécies importadas de vegetais de grande consumo no país, como pepinos, pimentões e tomates, entre outros. 

O objetivo final é reduzir a dependência de alimentos importados. Hoje, 70% de toda a comida que é consumida na Arábia Saudita vem do exterior. Além disso, o país quer ampliar a capacidade de dessalinização de água do mar, ampliar o sistema de reúso de água e expandir a biodiversidade local em ao menos 30%. Nos últimos cinco anos, cerca de 12 mil árvores foram plantadas como parte da iniciativa. Boa parte delas é de variedades nativas, coletadas por especialistas e relocadas para ambientes controlados.  

A iniciativa exigirá um volume colossal de investimentos. No total, todas as frentes do projeto deverão consumir, até 2030, aproximadamente US$ 3,3 trilhões. Não deixa de ser irônico o fato de que parte substancial dos recursos virá do petróleo. Ou seja: o principal combustível fóssil do mundo bancará um dos programas ambientais mais ambiciosos da história.