05.10.22
Por Marco Damiani
Plantar florestas é fazer agricultura. O que muda é o porte das plantas. Nos últimos anos, assim como na maior parte das culturas, a produção de árvores voltadas para as indústrias de papel e celulose ou madeireira evoluiu graças a avanços significativos em áreas como a biotecnologia, que conseguiu desenvolver variedades de crescimento mais rápido e adaptadas às condições brasileiras, transformando o País em referência global no setor.
A indústria de máquinas segue, agora, a mesma rota. Atenta às necessidades dos produtores, tem desenvolvido equipamentos especiais para ampliar a eficiência e a tecnificação nas florestas plantadas. John Deere e a Caterpillar disputam o protagonismo neste campo, por meio da criação e atualização de equipamentos voltados à crescente demanda. E aproveitar também uma crescente demanda por reflorestamento, em razão das exigências legais e do mercado consumidor por modelos sustentáveis na agropecuária.
Uma das principais novidades nesse terreno está em testes em uma fazenda de uma grande companhia nacional do setor de celulose. O modelo New Deere Plantadora 1.0 começou a ser desenvolvido em 2015 pela John Deere e exigiu o trabalho de um grupo de 50 técnicos, divididos em bancas de desenvolvimento instaladas nos Estados Unidos, na Índia e no Brasil. A máquina é capaz de plantar mudas de eucalipto automaticamente, à razão de 10 hectares por hora, o que inclui uma primeira irrigação. Para efeito de comparação, o mesmo trabalho feito por um grupo de quatro homens exige hoje, em média, entre quatro e seis horas para o preenchimento de 1 hectare com mudas.
O primeiro protótipo da plantadora foi desenvolvido sobre a plataforma de uma escavadeira padrão de construção civil, mas precisou de diferentes redesenhos até chegar ao modelo atual. O novo equipamento leva em consideração até mesmo os diferentes níveis de um mesmo terreno para insertar todas as mudas na mesma profundidade da terra. Outras duas empresas de celulose já estão na fila para realizar testes assim que o período de uso na primeira companhia se complete.
“É um novo conceito”, resume Rodrigo Barbosa, gerente de Marketing da John Deere. “O produtor define quantas mudas quer plantar e o distanciamento entre elas, o restante a máquina realiza com apenas um operador”, acrescenta. A empresa disponibiliza treinamento para a operação da máquina. Ela é adequada para uso em grandes áreas e, até o momento, está restrita ao plantio de mudas de eucalipto. “O Brasil está servindo de campo de testes. Se o desempenho da plantadora ocorrer dentro do esperado, que é o que já está acontecendo, poderemos até mesmo exportá-la para outros países”, diz Barbosa.
Com outra estratégia, a também americana Caterpillar desenvolveu uma linha completa de acessórios para limpeza, preparação, plantio e carregamento de árvores, todos eles adaptáveis ao maquinário já existente. “Acreditamos em customização, ou seja, em entregar ao cliente exatamente o que é a sua necessidade”, afirma Rogério Lima, gerente florestal da Caterpillar. “As áreas para reflorestamento são muito desiguais entre si e equipamentos de grande porte nem sempre são os mais adequados para o manejo”, completa.
Tratores, escavadeiras, motoniveladoras, subsoladores e carregadeiras feitas pela Caterpillar podem receber kits com equipamentos específicos para as condições das áreas a serem reflorestadas, inclusive com espécies nativas, uma demanda legal que tem atingido empresas de diversos setores. O de mineração é um bom exemplo, segundo ele, da nova onda por recuperação de florestas. “O Código Florestal e toda a legislação ambiental do País nos fazem acreditar que o interesse por reflorestamento será cada vez maior”, projeta Lima.
Conexão limitada
Avanço natural em outras áreas do agronegócio, a automação ainda é um sonho mais distante, porém, para o segmento florestal. Embora a entrada em operação da tecnologia 5G abra novas portas para o desenvolvimento de máquinas, representantes das fabricantes não vislumbram, no horizonte de curto prazo, uma mudança muito radical no panorama atual. “Ao mesmo tempo que é mais veloz, o sinal do 5G é mais curto, o que vai impor a instalação de muitas antenas até que ele seja realmente útil para efeitos, por exemplo, de máquinas autônomas”, calcula Rogério Lima.
A nova máquina John Deere já enfrentou testes com a tecnologia 5G, mas ainda não conseguiu as boas notas esperadas por seus criadores. “A automação completa, em que máquinas poderão ser comandadas de um escritório, sem a necessidade de um operador, ainda está distante”, reconhece Rodrigo Barbosa.
O interesse das grandes indústrias de máquinas em criar equipamentos específicos para reflorestamento é saudado por Rafael Bitante, diretor do SOS Mata Atlântica. A entidade desenvolve um trabalho de reflorestamento sobre áreas degradadas que já é referência mundial. “À medida que os produtores adquiram novas tecnologias para o plantio de florestas, mais rapidamente os nossos biomas estarão sendo recompostos”, diz ele.
Para os pequenos e médios produtores interessados em reflorestar, porém, a barreira ainda existente é a econômica. Um dos principais formuladores da atual política ambiental brasileira, o professor José Felipe Ribeiro lembra que 1 hectare de floresta restaurada chega a custar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil. Para que a área tenha capacidade de subtrair carbono da atmosfera, cada hectare precisa ter entre 700 e 1,6 mil “indivíduos”, ou seja, raízes incrustadas no solo. “A chegada de máquinas de alta tecnologia ao setor de reflorestamento é uma boa notícia”, observa ele. “Com o tempo, a tendência é de os custos decrescerem e, com uma política adequada de incentivos, mais produtores poderão reflorestar”, acredita Ribeiro.