Estados Unidos

Correção de rota Com cenário econômico desafiador e resultados modestos, agtechs passam a recebe


Edição 41 - 21.04.24

Correção de rota

Com cenário econômico desafiador e resultados modestos, agtechs passam a receber menos investimentos e são obrigadas a ajustar as suas operações 

Nos últimos três anos, fundos de investimentos passaram a alocar grandes somas de recursos em projetos de tecnologia para o agro. Fabricantes de proteínas alternativas, fazendas verticais e empresas de software, que prometiam revolucionar a maneira como os alimentos são produzidos e consumidos, receberam bilhões de dólares, no que parecia ser um movimento constante e irrefreável. Contudo, o cenário agora é bem diferente. De forma geral, o ano de 2023 foi marcado pelo fim da fartura no ecossistema agtech – resta saber quanto tempo esse movimento deverá durar.  

O problema foi mais visível nos Estados Unidos. Inflação alta, aumento das taxas de juros e o desânimo de investidores com os resultados apresentados por algumas startups obrigaram o setor a corrigir rotas. Empresas que se tornaram referência em inovação alimentar, como a Beyond Meat, pioneira entre as proteínas plant-based, tiveram de rever suas projeções, demitir funcionários e fazer ajustes para evitar a falência. As fazendas verticais, vistas como o futuro da agricultura nas cidades, também perderam força. Custos elevados de produção e ciclos de cultivo imprecisos mostraram que o modelo ainda carece de melhorias, ficando muito atrás, em termos de produtividade, da agricultura tradicional.  

As notícias, no entanto, não são de todo negativas. A correção de rota fez com que os investimentos no setor fossem mais direcionados, liderados por profissionais que entendem do ramo e buscam modelos de negócios capazes de gerar retorno, e não apenas crescimento a qualquer custo. Sendo assim, as projeções, assim como as avaliações de mercado das startups, se tornaram mais realistas. Isso é um importante sinal de amadurecimento do ecossistema. Afinal, além do hype, o fundamental é oferecer soluções vocacionadas para resolver problemas reais da cadeia de produção de alimentos. 

A bola da vez é a agricultura regenerativa, expressão usada para se referir a uma série de técnicas e práticas cujo objetivo vai além de simplesmente proteger o solo, mas melhorar sua qualidade. Rotação de culturas e cobertura do terreno são algumas. O discurso ainda não é comprovado na prática. Por enquanto, apenas Nestlé, PepsiCo, JBS e Sodexo desenvolveram fundos para incentivar produtores a adotar essas práticas. Mas os avanços são inegáveis. 

Há uma empolgação generalizada com as possibilidades da inteligência artificial em diversos setores, da análise de riscos das cadeias de produção de alimentos à robótica agrícola. Também nota-se grande potencial no segmento de suplementos e alimentos funcionais, graças à capacidade da IA de identificar bioativos ainda pouco explorados em uma grande variedade de plantas. A formulação de células em laboratório também pode ser beneficiada pelos algoritmos de IA. Com a correção de rotas, o futuro das agtechs continuará sendo promissor.