FÁBRICA DE IDEIAS

Como o município de Londrina se tornou um dos principais polos de inovação do agronegócio brasil


Edição 38 - 28.08.23

Como o município de Londrina se tornou um dos principais polos de inovação do agronegócio brasileiro 

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Por César H. S. Rezende  

Em novembro de 2019, a então ministra da Agricultura e Pecuária (Mapa), Tereza Cristina, reconheceu Londrina, no norte do Paraná, como um “polo de inovação do agronegócio brasileiro”. A inédita iniciativa institucionalizou o ecossistema agtech da cidade, que se tornou uma das primeiras do País a receber essa chancela. Conhecida no passado por suas vastas plantações de café, Londrina foi moldada pelo trabalho de agricultores visionários. Com o passar dos anos, a cidade enfrentou novos desafios que exigiram respostas criativas e tecnológicas, e que hoje em dia estão expressas em sua marcante atuação no campo. 

A escolha de Londrina como polo de inovação é resultado de uma série de iniciativas realizadas em parceria com o ambiente acadêmico. Exemplo disso é o trabalho realizado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Entre outras iniciativas, sua Agência de Inovação Tecnológica (Aintec) oferece suporte e capacitação para empreendedores e startups. Do lado do agronegócio, um divisor de águas foi a criação do SRP Valley, parque tecnológico estruturado pela Sociedade Rural do Paraná (SRP) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). 

Parques Tecnológicos, ressalte-se, são regiões com grande concentração de empresas, instituições de ensino, incubadoras, centros de pesquisa e laboratórios que favorecem um ambiente propício à inovação tecnológica e, principalmente, à geração de negócios. No caso de Londrina, o SRP Valley consolidou a cultura inovadora do município. “Um dos diferenciais de Londrina é a capacidade de geração, retenção e atração de novos talentos, que são fundamentais para o surgimento de iniciativas transformadoras do agronegócio”, afirma Lucas Ferreira, consultor do Sebrae Paraná na cidade. 

Outra decisão certeira foi a criação da Agro Valley, uma rede dedicada à promoção de projetos inovadores ligados ao agronegócio. Em linhas gerais, seu objetivo é conectar startups, empresas estabelecidas, instituições de pesquisa e investidores por meio da realização de eventos, ações de mentoria e parcerias estratégicas. “A iniciativa tem grande importância para potencializarmos a transferência de conhecimento entre a academia e o setor produtivo”, diz Renan Salvador, vice- coordenador de Governança da Agro Valley. 

De acordo com o mais recente levantamento do Radar Agtech, a cidade de Londrina conta atualmente com 30 startups conectadas de alguma forma com o agronegócio. A publicação também mostrou que, considerando o número de empresas desse tipo que foram abertas em 2022, o estado do Paraná teve a maior elevação percentual (16,6%) em comparação com 2021, o que é compatível com os esforços de desenvolvimento do ecossistema agtech na região. 



É também em Londrina que, em 2021, foi lançado o Cocriagro, hub de inovação voltado para os negócios do campo. “O espaço foi idealizado para conectar empresas, cooperativas e startups a institutos de pesquisa”, diz Tatiana Fiuza, cofundadora do centro.

O Cocriagro adota o conceito conhecido como “open innovation” (inovação aberta). Num aspecto mais amplo, ele pressupõe que o conhecimento, nestes tempos globalizados, está distribuído pelo mundo. As companhias que pretendem ser competitivas têm de abrir as suas portas para as ideias vindas de qualquer lugar – das instituições de pesquisa, das universidades, de outras empresas e, claro, de seu time de funcionários. De acordo com essa filosofia, as companhias fechadas em si mesmas serão ultrapassadas por corporações mais abertas.

É interessante observar que mais da metade das startups que integram o ecossistema do Cocriagro tiveram origem fora de Londrina. Isso confirma a notável capacidade da cidade para atrair projetos de outras regiões do País e só reforça a potência inovadora do município em se tratando de agronegócio. 

O município tem planos ambiciosos. Uma de suas metas é se estabelecer como referência internacional no desenvolvimento de soluções para o campo, especialmente aquelas com viés tecnológico. Para alcançar esse objetivo, a cidade definiu recentemente um programa com mais de 60 ações a serem executadas até 2025, que incluem, entre outras, a atração de talentos e a captação de recursos. Iniciativas como essas mostram que Londrina não é apenas um caso exemplar, mas, acima de tudo, fonte de inspiração para todo o Brasil. 

 



“VAMOS CRESCER MUITO MAIS”
Cofundadora do hub Cocriagro, Tatiana Fiuza fala sobre as atividades realizadas pela plataforma de inovação

Quais são os critérios utilizados pelo Cocriagro na seleção e apoio de projetos voltados para o agronegócio?
Trabalhamos com startups na fase comercial que tenham interesse em expandir mercados. Olhamos para o tipo de solução, tipo de cultura em que a empresa atua e capacidade de entrega da startup.  

Como o hub tem contribuído para a criação de um ecossistema favorável às agtechs em Londrina?
Londrina é reconhecida pelo Ministério da Agricultura como um polo de inovação. Temos nossa governança de inovação, que é a Agro Valley. O Cocriagro é uma spin-off dessa governança. Atraímos muitas startups para o nosso ecossistema, inclusive de fora de Londrina.  

Quais são as principais parcerias estabelecidas pelo Cocriagro para impulsionar a inovação no agronegócio brasileiro?
Mantemos parceria com oito institutos de pesquisa, não só de Londrina, mas também de São Paulo e do Rio Grande do Sul. Somos participantes da Agro Valley e parceiros de outros ambientes de inovação.   

O que pretende fazer nos próximos anos?
Queremos ampliar a nossa atuação em uma ação mais nacional, que envolva o atendimento a cooperativas e empresas do agro de outros locais para além do Paraná. Já temos uma atuação nessa linha, mas estamos trabalhando para ampliá-la. 

O fato de o hub estar localizado em uma cidade como Londrina faz diferença?
Londrina possui uma diversidade de culturas muito grande. Temos milho, soja, trigo, café, laranja e, também, pecuária. Criar um hub no interior é um desafio, mas o Paraná está entre os principais produtores de grãos do País. Temos potencial para crescer muito mais.