SOLO SAGRADO

Estados Unidos   Cientista encontra por acaso amostras de terra escondidas durante um século e


Edição 37 - 02.07.23

Estados Unidos

 

Cientista encontra por acaso amostras de terra escondidas durante um século e meio que trazem informações inéditas sobre as práticas agrícolas do passado 

 

Em 2018, um celeiro localizado no campus principal da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, estava prestes a ser demolido. Dias antes da destruição, contudo, o professor Andrew Margenot, especializado em ciência do solo, decidiu explorar a empoeirada e decadente construção. Foi nesse momento que ele fez uma descoberta que mudaria a sua vida para sempre. 

Dentro do celeiro, Margenot deparou-se com algo verdadeiramente único: 8 mil frascos datados de 1862 e preenchidos com o solo antigo de Illinois. Segundo os registros, a coleção abrangia 450 locais de amostragem, representando cerca de 21 milhões de acres de terras cultiváveis. O professor àquela altura não sabia, mas ele estava diante do maior arquivo de solo do mundo. 

Após uma análise mais detalhada, Margenot descobriu que os rótulos dos frascos forneciam informações valiosas. Cada etiqueta continha a data exata da amostra, o município onde fora coletada e a classificação do solo em questão, além de trazer dados sobre fertilidade e produtividade de culturas agrícolas. 

Para um entusiasta do solo como Margenot, a descoberta representou uma oportunidade de ouro. Ele dedicou os cinco anos seguintes a catalogar minuciosamente as 8 mil amostras, que agora estão armazenadas em um novo celeiro construído a 150 metros do local original. Ao longo desse período, Margenot trabalhou incansavelmente para preservar e documentar os fracos, reconhecendo o imenso valor histórico e científico que eles continham. 

Agora, o professor quer viabilizar um projeto que parece ser ainda mais ousado. Ele planeja revisitar os locais originais de coleta para recolher novas amostras. Seu objetivo é obter informações atualizadas sobre o estado atual dos solos e, a partir daí, promover melhorias. “Com esse trabalho, poderei analisar uma variedade de fatores, desde a espessura do solo superficial até a erosão, passando pela quantidade de carbono e os nutrientes presentes ao longo dos últimos 120 anos de coletas”, disse o professor.  

Uma vez coletadas e analisadas, as informações serão incorporadas a um banco de dados abrangente, que ficará disponível para pesquisadores, proprietários de terras e todos aqueles interessados no estudo da terra. Margenot espera que a extraordinária descoberta possa fornecer conhecimentos valiosos para os agricultores, ajudando-os a melhorar as suas práticas agrícolas. O professor dimensiona o seu achado. “Temos uma oportunidade única de compreender os solos do nosso estado de uma maneira que nenhum outro lugar no mundo terá”, disse.  

O interessante é que o celeiro não foi destruído por um triz, o que faria desaparecer para sempre o vasto e histórico material. Margenot visitou o celeiro por acaso, após um compromisso de trabalho ter sido adiado. Sem ter o que fazer, decidiu investigar o que havia dentro da estrutura. “Foi algo absolutamente aleatório”, disse o professor. O caso é tão fantástico que ele já foi sondado por canais de streaming para a produção de um documentário. Se forem analisados pelos olhos atentos da ciência, os solos do planeta, de fato, guardam histórias fantásticas.