Edição 36 - 15.05.23
Tecnologia transforma um dos principais vilões da degradação ambiental em adubo com alto teor de nutrientes
Poucos produtos são tão associados à degradação ambiental quanto o plástico. Todos os anos, 9 milhões de toneladas do material chegam aos oceanos. Estima-se que pelo menos 800 espécies que vivem no mar já foram afetadas de alguma forma por essa presença incômoda e quase todas as aves marinhas ingeriram algum material plástico. Os microplásticos, pedaços que se quebram até ficarem com menos de 5 milímetros, foram encontrados na água potável, no ar e nos alimentos, e estão presentes em todos os continentes, inclusive na longínqua Antártica.
Os seres humanos não estão livres dessa verdadeira praga. Estudos recentes identificaram partículas plásticas nos pulmões e na placenta de mulheres grávidas. No ano passado, pesquisadores da Universidade de Vrije, na Holanda, fizeram a descoberta mais chocante, ao detectar micropartículas na corrente sanguínea de uma pessoa. De acordo com o trabalho científico, elas vieram de garrafas plásticas e de embalagens de alimentos. Portanto, todos os seres vivos estão expostos aos perigos trazidos pelo plástico, o que coloca em risco o próprio futuro do planeta.
Em 2022, a humanidade produziu 400 milhões de toneladas de plástico, mas apenas uma parcela ínfima – algo como 10% – é reaproveitada. Embora o quadro seja grave, a boa notícia é que, cada vez mais, a ciência busca alternativas sustentáveis para o material. Uma das mais promissoras é a transformação do plástico em adubo, o que poderia levar a uma revolução na produção agrícola. No início do ano, um time de engenheiros químicos da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, apresentou o resultado de um trabalho que consumiu anos de pesquisa. E ele, de fato, é bastante animador.
Os cientistas misturaram plásticos PET, aqueles usados em garrafas, e o poliestireno, o famoso isopor, com resíduos de milho, como restos de folhas, cascas e espigas. Depois, tudo isso foi aquecido em um reator. Após três horas, as altas temperaturas quebraram a estrutura molecular do plástico, num processo de decomposição conhecido como “pirólise”. O método deu origem ao chamado carbono elementar, uma espécie de carvão com forte potencial para atuar como adubo.
O estudo conduzido pela Universidade da Califórnia provou que o carvão nascido da combinação entre plástico e restos de milho aumenta consideravelmente o teor de nutrientes do solo, tornando-o mais fértil. Agora, os pesquisadores pretendem realizar o mesmo experimento com outros resíduos agrícolas, como cascas, sementes e polpa de frutas cítricas. Segundo os cientistas, a produção em escala do fertilizante é viável e já existem empresas interessadas em investir no desenvolvimento do projeto.
Há outras iniciativas nessa direção. A Earth Renewable Technologies (ERT), companhia americana que nasceu em 2009 a partir de pesquisas na Clemson University, da Carolina do Sul, produz atualmente 2 mil toneladas de seu bioplástico no Paraná, mas tem planos de elevar a produção local para 35 mil toneladas até 2025. Vilão da degradação ambiental, o plástico pode, enfim, ter destinos mais nobres.