02.01.23
O diretor comercial da Unipar, Rogério Costa, explica como a empresa desenvolveu uma solução sob medida para o setor sucroenergético
Durante mais de uma década, a Unipar, líder na produção de cloro e soda e segunda maior produtora de PVC na América do Sul, investiu em um projeto estratégico que reforça sua busca contínua em implementar novas tecnologias e modernização de processos industriais, garantindo ainda mais qualidade e confiabilidade dos produtos produzidos. A companhia, produtora de Ácido Clorídrico (HCl), entendia que seu produto poderia ser uma alternativa segura, eficiente e com ótimo custo no fornecimento de um insumo fundamental para o acerto do pH no tratamento de leveduras, um passo importante no processo de produção das usinas de açúcar e etanol.
Foi um período de estudos meticulosos, que contou com o apoio de parceiros renomados para oferecer ao setor sucroenergético um produto capaz de substituir, com benefícios, o Ácido Sulfúrico, tradicional insumo utilizado nessa etapa. Bem-sucedido, o projeto ganhou escala comercial e a safra 2022, iniciada em abril, da Usina São José da Estiva, em Novo Horizonte (SP), marca a reestreia do Ácido Clorídrico nesse mercado.
Na entrevista a seguir, Rogério Costa, diretor comercial da Unipar, conta o que moveu a empresa a investir no setor sucroenergético e por que o Ácido Clorídrico tem tudo para conquistar uma fatia representativa desse mercado nos próximos anos. Confira:
O que levou a Unipar a trazer de volta o Ácido Clorídrico como solução ao mercado sucroenergético?
Acreditamos que a utilização do Ácido Clorídrico pelo setor sucroenergético possa ser melhor explorada, principalmente agora que temos estudos e análises que comprovam a eficácia do uso do insumo no processo. Vale lembrar que o Ácido Clorídrico é uma solução cientificamente aprovada há 15 anos no Brasil.
Com cenário favorável e alinhado ao objetivo de dobrar de tamanho nos próximos anos, seguindo o direcionamento estratégico de crescimento sustentável e observando as tendências de mercado, a Unipar anunciou dois importantes investimentos. O primeiro foi a expansão da fábrica de Santo André, no final do ano passado, que terá um adicional de mais de 15% a sua produção. O segundo investimento, anunciado neste ano, foi o primeiro projeto greenfield da empresa, uma nova fábrica no Polo Petroquímico de Camaçari, que será responsável pela produção de 20 mil toneladas de cloro e 22 mil toneladas de soda cáustica por ano, assim que a fábrica estiver em operação. A previsão é de que isso aconteça em até 24 meses.
Quando associamos esse crescimento com a necessidade do mercado por uma alternativa estratégica, avaliamos que fazia sentido focar no segmento sucroalcooleiro.
Quais foram os desafios no desenvolvimento da solução para as usinas?
O processo de validação dessa solução, como foi dito, começou há cerca de 15 anos. Para isso a Unipar buscou parceiros renomados no mercado sucroenergético que pudessem trabalhar em duas frentes importantes. A primeira em relação à corrosão e a segunda, demonstrar a viabilidade na fermentação. E para esse trabalho convidamos como parceira a Fermentec, que é uma empresa conceituada como sumidade no segmento de fermentação. Foram realizados testes de viabilidade e análises, e o uso do insumo foi aprovado. Com relação à corrosão, nosso primeiro parceiro foi o Coppetec, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o professor Luiz de Miranda. Na ocasião foram feitos testes e ficou provado que não havia diferença significativa entre o uso do ácido atual e o Ácido Clorídrico, solução da Unipar.
Posteriormente, apresentamos esse conceito em um workshop em Ribeirão Preto e nos desafiaram a fazer o mesmo teste com temperaturas mais altas. Foi quando buscamos outro centro de excelência, o Centro de Caracterização e Desenvolvimento de Materiais (CCDM), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a mais renomada em engenharia de materiais no Brasil. E mais uma vez foi provado e certificado que não há diferença entre a utilização dos dois ácidos. Recentemente, quando trouxemos à tona esse projeto para o mercado, fizemos novas parcerias com a USP, através da professora Idalina Aoki, que é uma sumidade na questão de corrosão no mercado brasileiro, e continuamos com a Fermentec, nossa parceira desde o primeiro momento. Também fizemos estudos no Senai de Sertãozinho (SP), onde rodamos uma simulação em uma planta piloto. Então, temos, em vários momentos, vários centros de excelência certificando e confirmando a viabilidade desse projeto.
Qual o papel dos parceiros nessa fase comercial da solução?
O papel dos parceiros nesse projeto é fundamental. O setor sucroenergético é bastante tradicional e o seu processo produtivo é o mesmo há muitos anos. A apresentação dessa alternativa só é possível graças aos parceiros renomados que selecionamos para estar junto conosco nesta jornada. Eles certificam, validam e transmitem credibilidade, o que faz com que as empresas tenham interesse no uso do insumo. O papel da Fermentec é fundamental para a questão da fermentação e está nos acompanhando, inclusive, nos testes para validação em cada usina, assim como a USP na questão da corrosão. Todo teste, toda usina nova que está utilizando, nós fazemos o acompanhamento nesses dois aspectos.
Como foi a parceria com a Usina São José da Estiva e qual a importância deles para o futuro da utilização do Ácido Clorídrico no setor?
A parceria com a Usina São José da Estiva tem sido fantástica. Eles se mostraram muito inovadores, pois assim que tiveram contato com a solução apresentada, com os dados científicos, com os depoimentos da Fermentec e da USP, não titubearam e começaram a implementar na sua produção. O Ácido Clorídrico já está sendo utilizado desde o início da safra de 2022, sem nenhuma dúvida do investimento na solução. Outro ponto importante é que eles estão totalmente abertos para visitação e para troca de ideias. Então, novas usinas que quiserem ver in loco a utilização do Ácido Clorídrico e quiserem debater aspectos técnicos, de processo e tirar dúvidas, eles estão totalmente abertos.
Quais os principais benefícios na utilização do Ácido Clorídrico no processo de fermentação?
Temos vários benefícios, mas eu destacaria a previsibilidade de custos. Vale lembrar que o ácido utilizado hoje depende de variações cambiais, do mercado internacional e da sazonalidade do mercado de fertilizantes. Já a produção do Ácido Clorídrico da Unipar fica praticamente toda concentrada no mercado nacional. Os três insumos, sal, energia e água são captados quase em sua totalidade no mercado interno, inclusive a companhia tem projetos em andamento para autoprodução de energia elétrica. Os três empreendimentos realizados a partir das joint ventures fechadas com a Atlas Renewable Energy e AES Brasil produzirão 485 MW de energia, dos quais 149 MW médios serão para consumo nas plantas da Unipar. Com isso, iremos oferecer ao mercado Ácido Clorídrico verde, o que é outro benefício.
Além disso, há a confiança do fornecimento. A Unipar será a maior fabricante de Ácido Clorídrico de síntese das Américas, assim que tivermos a expansão de 2023 operando. Temos redundância de fornecimento, com produção em Cubatão, em Santo André e futuramente, como já anunciamos, em um novo site na Bahia. Não há dúvidas de que, tendo contrato conosco, as usinas vão receber esse ácido. O nosso compromisso é continuar investindo no aumento de capacidade. Então, assim que a demanda for crescendo, a Unipar, que já está em um momento de expansão, não terá problema algum em analisar novos investimentos.
Qual a tendência da evolução futura dos preços do Ácido Clorídrico em relação aos seus concorrentes?
A diferença entre os dois mercados é muito clara. O Ácido Clorídrico tem mercado regional e a precificação é em reais. Os concorrentes, como já disse antes, têm muito a ver com uma dinâmica internacional, com a cotação do dólar, com sazonalidade do mercado de fertilizantes. Além disso, têm muito impacto também com frete internacional, de imposto de importação. Portanto, são muitas variáveis. Na alternativa estratégica que trazemos para esse mercado, o cliente basicamente tem um contrato com a Unipar, uma precificação por safra, preços em reais e a variação sal/energia elétrica. Então, facilmente se consegue avaliar que há muito menos variáveis na alternativa de Ácido Clorídrico da Unipar do que nas outras existentes no mercado de ácidos.