09.01.23
Pavilhão dos Sistemas Alimentares, apoiado pelo GFI, discutirá o papel de soluções como as proteínas alternativas na oferta de alimentos seguros e sustentáveis para as pessoas
Mariana Bernal (*)
A Conferência das Partes (COP27) reúne anualmente os líderes mundiais de todos os países signatários do Acordo de Paris, que deverão apresentar dados e relatórios sobre a evolução das ações necessárias para o cumprimento de metas, bem como negociar propostas mais rígidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. O Good Food Institute (GFI) reconhece a centralidade deste evento e do fórum anual da COP na condução das agendas climáticas das nações, organismos multilaterais, corporações e ONGs. A COP, inserida no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), é instância multilateral de maior legitimidade em que se reconhecem e se discutem os desafios relacionados ao clima.
A conferência permite acompanhar avanços, analisar resoluções e cobrar compromissos mais ambiciosos em direção às soluções práticas e factíveis no que diz respeito aos vários setores produtivos que têm impacto e são impactados pelo clima. A participação do GFI no evento será estratégica para posicionar as proteínas alternativas (PAs) como uma das soluções-chave para o clima, água e biodiversidade entre governos, filantropos e fundações, ONGs, corporações e a mídia focada no clima, bem como para garantir compromissos nacionais concretos para o avanço das proteínas alternativas, incluindo financiamento público de P&D e inclusão de PAs nos planos nacionais de mitigação do clima, incluindo as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, na sigla em inglês).
Espera-se que a COP27 tenha um forte enfoque nos alimentos este ano, com ênfase nas estratégias de adaptação (versus mitigação), devido à localização da conferência no continente africano, lar de muitas das pessoas já desproporcionalmente impactadas pelas mudanças climáticas.
O Pavilhão dos Sistemas Alimentares foi concebido para criar, em colaboração com todos os atores envolvidos no sistema global de produção de alimentos, ações, estratégias, e soluções que possam ser executadas ao longo de toda a cadeia. A agropecuária convencional é responsável por aproximadamente 20% do total das emissões anuais de GEE do mundo, uma porcentagem maior do que a de todo o setor de transporte global. Portanto, o papel da agricultura e dos sistemas industriais de produção de alimentos nas mudanças climáticas já são conhecidos.
Agora, é necessário colocar a agricultura e os sistemas alimentares no centro dos debates sobre as políticas de mitigação e adaptação às mudanças para que seja possível evoluir em ações práticas pelo alcance das metas estabelecidas no Acordo de Paris. Estima-se que a transformação dos sistemas alimentares do mundo poderia gerar US$ 4,5 trilhões anuais em novas oportunidades econômicas até 2030 e auxiliar no avanço de várias metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ao mesmo tempo que garantiria justiça social e segurança alimentar.
O GFI é parceiro desta iniciativa, pois acredita que não existe uma única solução para as questões climáticas, mas as proteínas alternativas apresentam uma série de possibilidades para avançar na transformação dos sistemas alimentares, que impactam severamente no clima e na capacidade das pessoas se alimentarem de forma segura e sustentável.
Com a população mundial prevista a aumentar para 9,7 bilhões até 2050, será preciso aumentar rapidamente, e não diminuir, o suprimento global de proteínas. Uma transição para proteínas mais sustentáveis ajudará a proteger o planeta, reduzindo consideravelmente as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo, eliminando ao mesmo tempo o uso de medicamentos antimicrobianos na produção de produtos de origem animal e a possibilidade de que a produção de alimentos, em especial de carne, venha a causar outra pandemia.
O Pavilhão dos Sistemas Alimentares na COP27 não focará unicamente em proteínas alternativas, mas na diversidade de soluções e estratégias para a garantia da alimentação segura e sustentável para as pessoas e o planeta. Serão dez dias temáticos em que será evidenciados o papel crítico que a transformação dos sistemas alimentares desempenha na construção de resiliência climática no mundo todo, bem como nas estratégias nacionais de mitigação e adaptação às mudanças do clima.
(*) Marina Bernal, analista de Políticas Públicas, Internacionalista, cursando mestrado em desenvolvimento sustentável pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ)