A primeira D.O. para espumantes do Novo Mundo

Demorou, mas finalmente saiu. Depois de dez anos de muito trabalho, os vitivinicultores de Pinto Ban


06.12.22

Irineu Guarnier Filho é jornalista especializado em agronegócio, cobrindo este setor há três décadas. Metade deste período foi repórter especial, apresentador e colunista dos veículos do Grupo RBS, no Rio Grande do Sul. É Sommelier Internacional pela Fisar italiana, recebeu o Troféu Vitis, da Associação Brasileira de Enologia (ABE), atua como jurado em concursos internacionais de vinhos e edita o blog Cave Guarnier. Ocupa o cargo de Chefe de Gabinete na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul

Demorou, mas finalmente saiu. Depois de dez anos de muito trabalho, os vitivinicultores de Pinto Bandeira, na Serra Gaúcha, obtiveram do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a sua Denominação de Origem (DO) exclusiva para espumantes – a primeira do Novo Mundo. O processo começou em 2012, por iniciativa da Associação dos Produtores de Vinho de Pinto Bandeira (Asprovinho), e contou com o suporte técnico-científico da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves, Universidade de Caxias do Sul (UCS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sebrae Nacional, Sicredi Serrana e Poder Público Municipal de Pinto Bandeira. Uma soma de expertises em diferentes áreas da atividade vitivinícola. Quatro vinícolas estão dentro da nova DO: Aurora, Don Giovanni, Geisse e Valmarino.

Para poder exibir em suas garrafas o selo, as vinícolas devem se submeter a regras rigorosas de controle, desde o cultivo das uvas até o engarrafamento. As castas autorizadas para composição dos blends são Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico. Além de serem cultivadas na área geográfica delimitada, as vinhas também devem ser conduzidas pelo sistema de espaldeira. O que caracteriza este terroir único no mundo é a composição equilibrada entre acidez e açúcar, que confere aos espumantes cor, aroma, paladar e estrutura também exclusivos. Os primeiros espumantes com o selo da DO Altos de Pinto Bandeira devem chegar ao mercado a partir do ano que vem. Na última década, as vinícolas tiveram tempo para se adequar às exigentes regras da DO.

Daniel Geisse, presidente da Asprovinho

O presidente da Asprovinho, Daniel Geisse, comemorou a notícia, publicada no último dia 29 de novembro na Revista da Propriedade Industrial, do INPI. “Formalizar o que já estamos desenvolvendo há muitas safras é brindar a persistência de todos os envolvidos, unidos num único propósito. Agora podemos trabalhar na consolidação do posicionamento da marca no cenário nacional e no mundo do vinho.” Para Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, que coordenou a estruturação da DO Altos de Pinto Bandeira, “esta Denominação de Origem possui equivalência estrutural e apropria um alto nível qualitativo, como o existente nas prestigiosas DOs de espumantes de Champagne da França ou Franciacorta da Itália”.

A DO dos Altos de Pinto Bandeira tem uma área contínua de 65 km², sendo 76,6% localizados no município de Pinto Bandeira, 19% em Farroupilha e 4,4% em Bento Gonçalves. A altitude média da região é de 632 metros, com relevo de ondulado a montanhoso. As temperaturas são mais amenas, enquanto a exposição solar é favorecida pela localização na margem esquerda do Vale do Rio das Antas e pela boa circulação horizontal do ar no alto de um dos patamares do Planalto Basáltico da Serra Gaúcha. Do enólogo chileno Mário Geisse, fundador da vinícola Cave Geisse, que faz vinhos em vários países, ouvi que, além de Champagne, na França, o terroir de Pinto Bandeira é um dos melhores lugares no mundo para a elaboração de espumantes. Entre outras razões porque nas frias encostas locais as uvas amadurecem completamente conservando muito de sua acidez, combinação difícil de se obter, visto que quando o grau de açúcar aumenta o de acidez cai. E é a acidez que aporta frescor e vivacidade aos espumantes.

A Vinícola Don Giovanni, uma das contempladas, comemorou 40 anos de fundação quase simultaneamente ao anúncio da concessão da DO. Uma festa ao ar livre, entre os vinhedos, reuniu o mundo do vinho da Serra Gaúcha na noite seguinte. Conhecida também pelos rótulos de alta gama de vinhos tintos Cabernet Franc, a DG tem nos espumantes o seu carro-chefe. A conquista da DO foi um merecido presente às quatro décadas de dedicação do casal Ayrton Giovannini e Beatriz Dreher Giovannini, fundadores da Don Giovanni, aos seus espumantes.

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