26.12.22
Koppert inaugura nova unidade no interior de São Paulo e coloca o Brasil no centro da estratégia de expansão dos biodefensivos
O pequeno município de Charqueada, na região de Piracicaba, em São Paulo, entrou definitivamente para o mapa da agricultura brasileira no final de setembro. Não pelo cultivo em suas terras – em grande parte cobertas de canaviais. Mas por um complexo de edifícios com instalações de última geração localizado em uma das entradas da cidade. Ali, a multinacional holandesa Koppert, líder mundial em soluções para controle biológico, instalou, em uma área de 8 mil metros quadrados, a sua nova unidade para formulação de defensivos microbiológicos no País. A menos de 200 metros dela está a biofábrica que produz agentes macrobiológicos, igualmente avançada, tornando aquele pedaço do interior paulista o principal centro de tecnologia de bioinsumos do Brasil.
Foi uma semana agitada em Charqueada e a importância estratégica da inauguração pode ser medida pelos visitantes que lá estiveram. Nunca antes nos 12 anos da Koppert no Brasil todo o primeiro escalão da empresa familiar – fundada há 55 anos por Jan Koppert – desembarcou simultaneamente por aqui. “O Brasil tem sido uma inspiração para nós”, afirmou à PLANT Paul Koppert, ex-CEO e hoje membro do Conselho de Administração da companhia. Juntamente com ele estiveram em Charqueada o atual CEO, René Koppert, o executivo-chefe para a área de Agricultura (que responde pelos produtos para cultivos de grandes commodities), Martin Koppert, e Joram Oosthoek, principal executivo financeiro do grupo, também membro da família. Paul representou a segunda geração do clã. Os três jovens, a terceira geração, que assumiu o comando da empresa no ano passado.
A nova fábrica tem capacidade para produzir 300 toneladas de produtos por dia, 15 vezes mais que a anterior. “A unidade de formulações está preparada para operar em três turnos, de domingo a domingo. Com alto índice de automatização e robotização dos processos, garante mais segurança e, consequentemente, mais qualidade aos produtos”, comemora Danilo Pedrazzoli, diretor industrial da Koppert Brasil. “Com ela, a Koppert pode fornecer insumos biológicos para cobrir 10 milhões de hectares cultivados”, completa Gustavo Herrmann, diretor comercial.
Isso significa levar os bioinsumos da Koppert a um em cada sete hectares plantados no País. A ambição da companhia, confirmada pelos seus controladores, é ir muito além. A fábrica, com custo estimado em R$ 70 milhões, é apenas o primeiro resultado de um plano de investimentos aprovado por eles, que prevê o desembolso de R$ 700 milhões nos próximos anos no Brasil. Já está prevista a expansão dessa unidade, com mais R$ 70 milhões, além de investimentos em mais três, todas na mesma região.
PRONTA PARA O FUTURO
“Não usaremos tudo agora, mas estamos preparados para o crescimento dos próximos cinco anos”, afirma Pedrazzoli. E as projeções são de um futuro promissor para o setor de biodefensivos, que cresce a taxas de 30% ao ano no País, segundo a CropLife Brasil – em 2021, as vendas do segmento somaram a R$ 1,79 bilhão.
A família Koppert acompanha tudo de perto. “O Brasil é pioneiro e deve se tornar uma referência. Tem áreas enormes e desafios da agricultura tropical”, diz Martin Koppert, referindo-se ao mercado de produtos para grandes culturas como soja e milho. “Estamos construindo esse negócio passo a passo e certamente o Brasil será um país-chave no desenvolvimento de soluções”, acrescenta o CEO René Koppert.
Os biodefensivos têm uma história ainda pequena no Brasil – as formulações de produtos à base de vírus, fungos e bactérias passaram a fazer parte das opções para os produtores brasileiros apenas a partir da chegada da Koppert ao mercado nacional, em 2010. Ainda assim, Paul Koppert ressalta que a matriz tem buscado no Brasil conhecimento para ser aplicado em outras filiais ao redor do mundo. “Temos muito o que aprender aqui”, afirma. “Vemos no Brasil como é importante levar a mensagem dos biológicos ao produtor. É preciso explicar de maneira mais fácil o que são nossos produtos e como eles beneficiam as lavouras e o ambiente como um todo.”
Joram Oosthoek, o CFO, concorda. “A expertise dos brasileiros não é importante apenas no desenvolvimento e uso de produtos, mas também na abordagem de mercado, no relacionamento com produtores, na atuação das lideranças”, diz. Alguns dos aprendizados colhidos aqui já estão, segundo ele, sendo aplicados até mesmo na Europa, berço dos negócios familiares que hoje se espalham por vários continentes.
Lá, onde a companhia surgiu fornecendo seus produtos a pequenos agricultores do segmento de hortifrútis que fazem da Holanda a maior produtora de alimentos do continente, a adoção dos biodefensivos vem crescendo de forma acelerada, estimulada pela legislação ambiental que restringe o uso de químicos.
“Até 2030, os biológicos devem estar em 50% das lavouras europeias”, afirma o CEO, René Koppert. “Essa é uma tendência global em torno de uma agricultura mais sustentável e, por isso, acredito que em 10 ou 15 anos seremos líderes não apenas em biológicos, mas dentro do contexto geral do setor.”.
Se os Koppert olham para o Brasil, o mundo olha para a Koppert, frequentemente vista como alvo potencial para aquisição por grandes companhias do setor de insumos agrícolas. A terceira geração da família mantém-se firme na direção indicada pelas anteriores. Palavras de René Koppert: “Nosso objetivo é manter a empresa familiar e focada em tornar a agricultura cada vez mais sustentável. Ainda somos um nicho, mas sabemos que há muita gente olhando para o nosso sucesso. Não é fácil chegar aonde chegamos. Mais do que investimento, requer muito conhecimento dos processos naturais da agricultura”.