A Serra Gaúcha continua linda

A primavera é uma das estações mais bonitas na Serra Gaúcha. As vinhas estão cobertas de folhas


16.11.22

A primavera é uma das estações mais bonitas na Serra Gaúcha. As vinhas estão cobertas de folhas e os primeiros cachos de uva – a fase do chumbinho – começam a brotar. Tem chovido pouco na região, como a videira gosta, e a safra vinícola 2023 se anuncia promissora. O maior risco, por enquanto, é o frio atípico em novembro, que traz geadas ameaçadoras. Mas os viticultores estão otimistas.

Neste cenário de mais um início de safra, a Associação Brasileira de Enologia (ABE) realizou no dia 5 de novembro a XXX Avaliação Nacional de Vinhos (ANV) – a maior avaliação de uma safra vinícola no mundo – com a presença de 700 degustadores no Parque de Eventos da Fenavinho e mais 900 on-line. Estive entre os 16 degustadores-comentaristas e lançamos o livro comemorativo pelos 30 anos do evento. Mas a programação da trigésima ANV começou três dias antes para o grupo de jornalistas de várias partes do país que participou de uma Press Trip pela região de Bento Gonçalves. Estive no grupo e resumo aqui o que vimos e provamos.

Primeiro dia

Começamos nosso sensacional roteiro enogastronômico pela Serra Gaúcha – “esquenta” para a ANV – pelo Wine Garden, da vinícola Miolo, onde provamos as delícias da região em um belo jardim. Destaques para o vinho rosé do WG e para os excelentes azeites da Casa Albornoz, da Campanha Gaúcha. A versão “apimentada” deste néctar está sensacional.

À noite, o jantar foi na vinícola Cristofoli, na Rota das Cantinas Históricas. Além do espetacular Ossobuco com polenta mole, especialidade da casa, preparada pela família Cristofoli, degustamos alguns dos inusitados rótulos autorais da vinícola: um espumante sur lie elaborado pelo Método Ancestral (apenas uma fermentação), um vinho branco fermentado com as cascas, e um Tannat de maceração carbônica (uvas fermentadas dentro das cascas). Os vinhos fazem parte da série Coleção.

Segundo dia

Visitamos as três unidades da Cooperativa Vinicola Aurora. No Vale dos Vinhedos, a mais nova, são envasados os sucos de uva da vinícola. A do Centro é a mais antiga, com um roteiro turístico entre pipas e tanques que atrai centenas de milhares de turistas todos os anos à empresa. Provamos nos tanques e barricas algumas novidades da casa, como o vinho elaborado com a uva Saperavi. Na mais nova unidade, a de Pinto Bandeira, são elaborados três rótulos que adoro: o Chardonnay, o Pinot Noir e o Riesling Itálico, que eu ainda não conhecia, mas do qual já fiquei fã.

Almoçamos no simpático Pietra Trattoria, instalado numa casa colonial italiana de 117 anos, nos Caminhos de Pedra, em Bento Gonçalves. Conhecemos, depois, o Parque das Esculturas, um lugar de arte, paz e meditação. Degustamos os deliciosos queijos da Casa da Ovelha. E jantamos uma releitura serrana do tradicional churrasco gaúcho preparada pela equipe da Aurora. Mas provar os vinhos de Pinto Bandeira, no vinhedo onde as uvas são cultivadas, no ponto mais alto da região (mais de 700m de altitude), ao pôr do sol, foi realmente o melhor do dia.

Terceiro dia

A programação começou pela manhã, com degustação dos melhores rótulos da Cave Geisse, em Pinto Bandeira, e até de um espumante laranja da casa, que eu não conhecia. Depois, a prova de vinhos foi na Vinícola Terragnolo, no Vale dos Vinhedos. E, à tardinha, visita à Miolo, com degustação de alguns de seus espumantes (o ícone Íride, com 10 anos de autólise, incluído ) no alto da torre da vinícola. À noite, jantar dos comentaristas da XXX Avaliação Nacional de Vinhos, com enólogos da Associação Brasileira de Enologia no Dall Onder Grande Hotel. Desta vez, com vinhos elaborados em vários estados, como Minas Gerais e Rio de Janeiro.

Quarto dia

No sábado, nosso roteiro começou cedo, com degustação de rótulos da vinícola Almaúnica. Destaque para o insuperável Syrah da casa. Depois, prova de vinhos harmonizados com petiscos na vinícola Dall Pizzol. Esperienza Aida Alimentos. Almoço no restaurante Di Paolo, que serve a autêntica comida colonial italiana da Serra, com ênfase no galeto. E, finalmente, a partir das 17h, a trigésima edição da Avaliação Nacional de Vinhos, em Bento Gonçalves. Comentei uma das 16 amostras selecionadas entre os 30% dos vinhos mais representativos da safra 2022 (um base espumante rosé) e autografei o livro “Avaliação Nacional de Vinhos-30 Anos”. Um dia de fortes emoções.

Quinto e último dia

Ahhhhh…Pois é, tudo o que é bom um dia termina. Final da Press Trip da XXX Avaliação Nacional de Vinhos. No domingo, degustamos os vinhos da casa e almoçamos na Vinícola Courmayeur, de Garibaldi, grande produtora de espumantes elaborados pelo método Charmat. À tarde, teve degustação das trufas Devoratta. Depois dos chocolates, prova de vinhos na vinícola Lídio Carraro, no Vale dos Vinhedos. Em mais de 20 anos, a vinícola elaborou apenas oito vezes o seu Quorum – blend de Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat e Cabernet Franc. O vinho só é feito em safras muitos especiais. Tive o prazer de provar um rótulo de 2013. Continua sendo um dos meus vinhos de corte brasileiros preferidos.

À noite, o jantar despedida foi na Casa Olga, em Monte Belo do Sul, uma simpática casa de família convertida em restaurante. As massas são a especialidade do lugar. Monte Belo é uma das mais promissoras atrações da Serra Gaúcha, com sua arquitetura colonial bem preservada, bons vinhos locais, uma igreja linda (a Matriz de São Francisco de Assis) e deliciosa gastronomia.

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