Uma gigante no mercado

Por Marco Damiani   Nascida, criada e enriquecida a ponto de ser avaliada pelo mercado em US$


03.10.22

Por Marco Damiani

 

Nascida, criada e enriquecida a ponto de ser avaliada pelo mercado em US$ 1,8 bilhão, a Agro SB está mesmo com todos os seus ativos à venda, em linha com os rumores publicados na mídia? A resposta oficial chega a ser divertida pelo paradoxo: Não. E sim…

 

“Não, a empresa não está à venda”, responde à PLANT, de pulmão cheio, o CEO e integrante do Conselho de Administração da Agro SB, Cristiano Soares, 41 anos. “Mas como o nosso negócio é vender ativos, sim, nossos ativos estão à disposição do mercado”, completa ele. “Alguns corretores podem ter somado o valor dos bens da companhia e chegado a um número qualquer, mas nem o reconheço nem nunca pensamos em venda total, como se ofertássemos um bairro inteiro”, reforça ele. “Se trata apenas de que o nosso negócio é vender ativos um a um quando somos procurados e consideramos isso uma boa oportunidade.”.

 

Uma abertura de capital, opção de centenas de companhias nos últimos tempos para se capitalizar, igualmente não está no horizonte da Agro SB. “Em geral, essa não é uma boa opção para empresas como a nossa. Quando o mercado estiver atrativo, podemos pensar, mas não agora. Empresas com muito ativo em terras acabam sendo precificadas abaixo do seu valor real”, avalia Soares.

 

Outra situação é a de que a Agro SB não tem, até onde se sabe, nenhum problema de caixa. A empresa é rica. “Há pouco, por um bom preço, vendemos quatro fazendas, mas isso porque o cliente certo apareceu, e não porque estamos à venda como empresa”, afirma Soares, um advogado egresso do próprio agronegócio, que cumpre uma sólida carreira dentro da companhia. Ele ingressou no grupo como integrante do conselho Conselho de administração Administração e, ideia após ideia bem bem-sucedida, assumiu o cargo de liderança executiva. “Não colocamos plaquinhas de ‘vende-se’ em nossas propriedades, mas os corretores, os vizinhos, enfim, o mercado todo sabe que estamos abertos a vender”, explicita.

 

Dona de 400 mil hectares de terra no Pará, a companhia de 850 funcionários opera sob a exata ótica do mercado financeiro. É guiada para o lado que dá mais ganhos, sem dogmas ou fundamentalismos. Fundada em 2005 pelo banqueiro Daniel Dantas, um reconhecido camisa 10 do mercado financeiro nacional, a companhia nasceu voltada exclusivamente aos negócios imobiliários no campo. A intenção inicial era apenas a de compra e venda de terras, sempre com foco territorial exclusivo no Pará. O estado atraiu os interesses de Dantas e seu time restrito por oferecer áreas bem mais baratas que os estados das regiões Sudeste e Centro-Oeste. “Aqui, a margem para a arbitragem, sem dúvida, é maior”, aquiesce o CEO Soares. 

 

Em compensação, o preço menor veio acompanhado de uma série de situações de conflitos. Acampamentos do Movimento Sem Terra (MST), críticas da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e acusações de grilagem de terras públicas ora da União, ora do estado paraense, fazem parte do ‘Google’ do Grupo Santa Bárbara. Todas elas devidamente negadas e abatidas na Justiça.

 

Com mais ou menos polêmicas, o certo é que a Agro SB é uma potência que só não abre o capital porque não quer. Internamente, todas as regras exigidas por autoridades como a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já são cumpridas “‘de velho”’. A empresa é monitorada permanentemente por auditoria externa, tem uma bem fornida área de compliance, possui diretoria executiva e conselho de administração. O controle é de um fundo de investimentos fechado pertencente ao banco de Dantas, o emblemático Opportunity. 

 

 

A recente mudança do nome da companhia para Agro SB tem a ver, numa das duas pernas de decisão, com a associação da empresa ao acúmulo de litígios. Pesou para a troca, até mesmo, a coincidência de o famoso Sítio de Atibaia, que valeu uma condenação de prisão ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ter o nome de Santa Bárbara. Nessa paranoica teoria de conspiração, a rematada ‘fake news’ de que uma ou mais fazendas da organização pertenciam a um dos filhos do líder petista igualmente abria ranhuras na imagem da empresa.

 

É sobre a perna do negócio em si, com sua diversificação e ampliação ao longo do tempo, que a troca do nome original para o atual Agro SB se mostra mais justificada. Dos primórdios de apenas uma grande proprietária rural, a operação evoluiu gradativamente para a criação de gado de corte e melhoria genética, plantio de soja e milho e a especialização, rara no agronegócio, de recuperação de terras degradadas para a vendas de matrículas de fazendas sem óbices e, mais ainda, em franca produção. “Esse é o nosso ‘core business’: comprar terras degradadas, fazer a regularização necessária, promover a produção e, quando madura, vender”, resume Soares. “Temos concorrentes, mas acho que somos os melhores nisso.”.

 

Hoje, a Agro SB está organizada em torno de três unidades que reúnem diferentes fazendas em cada uma delas. Do total da área controlada, metade é preservada, para efeito de cumprimento do Código Florestal. “Nunca ao longo da nossa história pedimos sequer uma autorização para desmate”, afirma o jovem piloto da empresa, cuja sede fica em Palmas (TO). “A cidade está virando um ‘hub’ do agronegócio”, justifica Soares. “No nosso caso, fomos um dos primeiros a chegar aqui.”. A relativa curta distância para o sudoeste do Pará faz de Palmas a cidade ideal para a comando dos negócios. Na outra rota, a maior proximidade com o Rio de Janeiro, sede do Opportunity e local de residência dos principais executivos da companhia, deixa tudo mais suave.

 

No total, mais de 150 mil cabeças de gado pastam nos domínios da Agro SB. A produtividade é rainha. Algumas fazendas da companhia chegam a acomodar até 8 oito animais por hectare. Em média, três cabeças ocupam um hectare dentro das cercas próprias, contra uma média nacional de um bovino no mesmo espaço de terra. “Nós nos preocupamos com um carrapato sobre o lombo de um boi, mas isso ainda não é muito comum entre os pecuaristas”, diz Soares. Com o passar do tempo, a companhia avançou para o plantio de soja, milho e capim, entremeado com o deslocamento do gado no diapasão da engorda. Neste exato momento, o maior giro de capital da empresa está sobre os cascos dos bezerros. “O mercado está favorável para a venda de novilhos, e temos muitos, e dos bons, para oferecer”, conta Soares.

 

A Agro SB desenvolve um trabalho antigo na melhoria genética. Todo o seu processo de produção tem rastreabilidade. A boa leitura do mercado indica, neste momento, que um bezerro com entre 7 e 8 meses de vida pode ser vendido com um ágio de 50% sobre os gastos de criação das fazendas do Opportunity. “Acompanhamos as tendências. Quando mudarem, mudamos também”, ensina Soares.

 

Na safra 2022/2023, a Agro SB dedica 21 mil hectares à safra de soja e outros 7 mil hectares à de milho. Junto com o milho é plantado o capim. Quando o grão é colhido, fica o pasto disponível para a entrada dos animais. As vendas dos produtos pecuários e agrícolas são para os mercados nacional e internacional, via traders. Toda a produção tem sido comprada. Por isso, não há pressa da parte da companhia em vender seus ativos imóveis. Pelo bom e velho motivo capitalista de que eles estão dando lucro. Com relações normalizadas com as autoridades e numa fase de maturidade neste momento, a Agro SB é uma reluzente joia da coroa de bons investimentos de Daniel Dantas. “No agronegócio, não há concorrentes enquanto houver terra disponível para produção de riquezas”, afirma o jovem CEO Soares.  

 

Se você quer comprar produtos ou terras da Agro SB, eles realmente estão à venda. E se há crença nos rumores de venda integral da companhia, a prova dos nove entre a verdade e a mentira está facilmente ao alcance de quem tem US$ 1,8 bilhão para pagar para ver. Basta procurar o controlador Dantas, oferecer o valor apregoado nas colunas de jornalistas bem informados e aguardar para ver se ele aceita a oferta. Quem sabe? O certo mesmo é que, se o negócio não fosse bom, o primeiro, segundo e terceiro melhor aluno do professor Mário Henrique Simonsen já não estaria mais nele. De velho.